Produtor rural em plantação de soja no Mato Grosso: estado é o que mais cresceu no país nas últimas duas décadas.| Foto: Daniel Castellano/Arquivo/Gazeta do Povo
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A economia de Mato Grosso é a que mais cresceu no país desde o início do século. O Produto Interno Bruto (PIB) do estado aumentou a um ritmo de 5,42% ao ano de 2002 a 2020, conforme os dados mais atualizados do IBGE. É quase o triplo da velocidade da economia brasileira, que nesse período avançou 1,96% ao ano, em média.

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No mesmo período, o segundo e o terceiro estado que mais cresceram foram o Pará (4,65% ao ano) e Tocantins (4,6%).

Mato Grosso, que era a 15.ª maior economia do país no início do século, ocupa agora a 12.ª posição, conforme a estatística de 2020 do IBGE. E há motivos para acreditar que a ascensão não deve parar por aí.

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A consultoria Tendências estima que, em 2021, o PIB mato-grossense avançou 2,4%, pouco menos da metade do crescimento nacional de 5%. Em 2022, porém, o estado voltou a crescer muito acima da média: 10,3%, conforme estimativa do Banco do Brasil, mais que o triplo do PIB nacional (2,9%). E, para 2023, o BB prevê expansão de 3,4% em Mato Grosso – para o país todo, a expectativa mediana do mercado financeiro é de alta de apenas 1%.

Boa parte da explicação para esse desempenho está no agronegócio, carro-chefe da economia local. O setor representa 56,6% do PIB do estado, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Mas não é só no avanço do PIB que a economia do estado se destaca. Outro levantamento do IBGE mostra que Mato Grosso tem a quarta menor taxa de desemprego entre as unidades da federação. Segundo o dado mais recente, a desocupação era de 3,5% na média do último trimestre de 2022 – menos que a taxa média dos países do G7 (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido), que era de 3,9% em dezembro.

Agropecuária de Mato Grosso ganha mais espaço no país

O principal responsável pelo avanço da economia mato-grossense no cenário nacional, segundo Luiz Antônio do Nascimento de Sá, técnico de contas regionais do IBGE, foi a agropecuária. A participação do estado nessa área mais que dobrou entre 2002 e 2020, passando de 5% do total nacional para 10,6%.

A safra de grãos de Mato Grosso foi multiplicada por seis desde a colheita de 2002, passando de 15,9 milhões de toneladas naquela temporada para 94,1 milhões de toneladas neste ano, segundo projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

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A produtividade das lavouras em 2023 deve chegar a 4.551 quilos por hectare, a terceira maior do país, atrás apenas de Santa Catarina e Distrito Federal. Em 2002, o rendimento era de 2.909 kg/ha.

O Imea estima que a soja alcançará produtividade recorde neste ano, de 61,59 sacas (quase 3,7 mil quilos) por hectare, com destaque para as regiões médio norte e sudeste do estado. Grande parte da produção agropecuária é exportada. A previsão do Imea é que 61,2% da soja seja destinada a outros países.

“Aqui temos boas condições: uma topografia bem plana, que favorece o uso de maquinário de grande porte, chuvas regulares e ampla luminosidade, que facilita a fotossíntese das plantas”, diz o presidente do Sindicato Rural de Sinop e vice-presidente da Federação da Agropecuária do Mato Grosso (Famato), Ilson José Redivo.

Segundo o Imea, a produção de milho deve crescer quase 4% sobre a temporada anterior, atingindo 46,4 milhões de toneladas, num cenário de aumento da demanda e menor oferta do milho no mercado internacional, em decorrência da quebra de safra na Argentina e nos Estados Unidos, além da guerra na Ucrânia, que diminuiu a produção daquele país. O equivalente a 62,5% do milho colhido em Mato Grosso deve ser exportado.

Segundo números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), no ano passado a receita total das exportações foi de US$ 32,5 bilhões, o que faz de Mato Grosso o quarto estado exportador do país, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Vinte anos antes, em 2002, era o 10.° exportador.

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Crescimento em Mato Grosso ocorre também do lado de fora da porteira

Mas o crescimento do estado não se deu só da porteira para dentro. “Ainda que a agropecuária tenha exercido a maior influência no desempenho de Mato Grosso, podemos observar que o desempenho da indústria e dos serviços também contribuíram para o avanço relativo, na comparação com o Brasil e demais unidades da federação”, diz Nascimento de Sá, do IBGE.

Segundo ele, entre 2002 e 2020 Mato Grosso teve desempenho superior à média nacional em todas as atividades. Entre os destaques estão:

• eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação;
• atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados; e,
• atividades profissionais, científicas e técnicas, administrativas e serviços complementares.

Na energia, um dos destaques nos últimos 20 anos é a instalação de novas usinas. Entre elas, está a Teles Pires, no rio do mesmo nome, inaugurada em 2015 e que recebeu investimentos de R$ 3,9 bilhões. O empreendimento tem capacidade de 1,8 mil MW, suficiente para atender 13,5 milhões de habitantes – 3,5 vezes a população de Mato Grosso.

A produção industrial, enquanto isso, cresceu 19,4% em 2022, na comparação com o ano anterior, puxada pelos segmentos alimentício e de biocombustíveis. Segundo Camila Saito, sócia da Tendências Consultoria, algumas unidades de produção de alimentos retomaram produção e uma usina de biodiesel entrou em atividade no período.

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A BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA), está se tornando um eixo produtor de etanol a partir de milho. “O cereal passou a ter valor agregado aqui no Mato Grosso”, diz Redivo, do Sindicato Rural de Sinop. Os resíduos são aproveitados na cadeia pecuária, que também é relevante no estado.

A ampliação das usinas de etanol deve contribuir para um aumento de quase 8% no consumo estadual de milho neste ano, segundo o Imea. O consumo local de soja também está aumentando. A previsão nesta safra é de um crescimento de 14,1%, graças a novas esmagadoras e à ampliação da capacidade de armazenamento.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso (Fiemt), Sílvio Rangel, avaliou em publicação divulgada no início de março, que o cenário é bastante promissor para a atividade fabril e há potencial para expandir a produção.

O campo tem tudo para continuar impulsionando a indústria. A expectativa do Imea é de que até 2032 haja um crescimento de 71,3% na produção de grãos. O incremento nas áreas agrícolas deverá ocorrer principalmente sobre as áreas de produção pecuária.

Comércio de Mato Grosso ganha mais impulso

Outro setor que está sendo beneficiado com a expansão da agropecuária é o comércio. De 2004, quando o IBGE iniciou a pesquisa de vendas em Mato Grosso, a 2022 o volume de vendas no varejo ampliado (que também reúne construção, veículos e peças) mais que dobrou, registrando crescimento acumulado de 134%. No país todo, a expansão foi de 87% no mesmo intervalo.

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O desempenho do comércio mato-grossense segue mostrando resiliência mesmo com os juros em patamares elevados. Nos 12 meses encerrados em janeiro, o volume de vendas no varejo ampliado cresceu 6,2%, ante retração de 0,5% no Brasil.

Um sinal de alerta é a inadimplência, que supera a média nacional. Segundo a Serasa Experian, 49,9% da população adulta do estado está "negativada". No Brasil todo, o índice é de 43,3%.

Setor de serviços atrai empresas de outros estados

Um setor promissor é o de serviços, segundo dados do IBGE. Um dos segmentos que mais cresceram desde o início do século foi o de transportes e logística, embalado pelas necessidades do agronegócio.

Este cenário está levando mais empresas a buscarem oportunidades na região. “O agronegócio é bem pujante. É um mercado bem promissor”, diz Diego Pettinazzi Rodrigues, diretor de novos negócios do Ascensus Group, grupo catarinense que trabalha com soluções customizadas para comércio exterior, logística, finanças e tributos e que está buscando oportunidades no estado.

É um caminho que já foi trilhado por um dos maiores escritórios de advocacia do país, o Nelson Wilians Advogados, de São Paulo, que abriu uma unidade no estado há 15 anos. Segundo Marcel Daltro, sócio-diretor e responsável pelo escritório no Mato Grosso, o agronegócio está cada vez mais se profissionalizando e demandando mais serviços.

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“Uma nova geração está assumindo as rédeas dos negócios e procurando, cada vez mais, ser melhor assessorada”, diz. Demandas que estão em alta, segundo ele, são ligadas a questões societárias, de ESG (ambientais, sociais e de governança), de compliance (controles de integridade e transparência) e de acesso a crédito.

2023 é mais um ano de boas expectativas para Mato Grosso

Segundo o Bradesco, em 2023 bom desempenho do agronegócio deve novamente impulsionar Mato Grosso e os demais estados do Centro-Oeste. "Além do incremento na produção, a região é beneficiada também pela elevada participação do setor na economia local: somente a agropecuária responde por quase 15% das atividades", diz relatório do banco. No Mato Grosso, essa fatia é ainda maior, de 29%, segundo dados de 2020 do IBGE.

"O setor de transporte e as indústrias de alimentos e insumos tendem a ser os mais beneficiados pelo cenário agrícola positivo", afirma o Bradesco. Segundo o Banco Central, a safra de grãos recorde deve amortecer os impactos da desaceleração de outros setores.

"Mato Grosso continuará sendo destaque entre as unidades da federação no desempenho do PIB deste ano", diz Saito, da Tendências. A projeção da consultoria é de uma expansão de 2,9% no PIB de Mato Grosso em 2023, com boas perspectivas para a agropecuária e a continuidade dos bons desempenhos das indústrias de alimentos e biocombustíveis.

Logística é grande desafio em Mato Grosso

Em meio a uma série de indicadores positivos, Mato Grosso enfrenta um importante desafio para seguir crescendo: logística para escoar a produção agrícola.

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Ferrovias só chegam até Rondonópolis, no sul do estado. Importantes áreas produtoras de soja estão distantes. É o caso de Sinop, 700 quilômetros ao norte. Um dos principais portos de escoamento da safra da região é o de Paranaguá (PR), a 2,3 mil quilômetros.

Camila Saito, da Tendências, ressalta as melhoras dos últimos anos, com o desenvolvimento de portos na Arco Norte, como é o caso de Miritituba (PA), e a pavimentação da BR-163. “Isso representou ganho de eficiência no transporte de grãos, possibilitando o barateamento do frete”, diz. Os terminais do Arco Norte já escoam mais grãos da safra mato-grossense que o porto de Santos.

Mas ainda há muito o que avançar para melhorar o escoamento da safra. Uma alternativa para a região seria a construção da Ferrogrão, ligando Sinop ao porto fluvial de Miritituba, no rio Tapajós. O projeto da ferrovia, de 933 quilômetros e avaliado em R$ 8,3 bilhões, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), visa consolidar um novo corredor para exportação.

A tramitação do projeto, porém, está suspensa desde março de 2021, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes atendeu a uma liminar do PSOL. O partido argumenta que o traçado da ferrovia cortaria o Parque Nacional do Jamanxim, no Pará, provocando danos ao meio ambiente.

Uma alternativa que está surgindo é a construção de uma ferrovia de 730 quilômetros, da Rumo Logística, que ligará Rondonópolis a Lucas do Rio Verde, a 150 quilômetros de Sinop. Outro ramal ligará a Rondonópolis a Cuiabá.

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As obras começaram em novembro e a previsão é de que o primeiro trecho, com 211 quilômetros, ligando Rondonópolis a Campo Verde, esteja concluído em três anos. O investimento na obra pode chegar a R$ 15 bilhões.

Outra ferrovia que está em obras e que ajudará a facilitar o escoamento da produção agrícola mato-grossense é a Ferrovia de Integração do Centro-oeste (Fico), que, em sua primeira etapa ligará as cidades de Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT), em uma extensão de 383 quilômetros. As obras estão sendo feitas pela Vale. A previsão é de que sejam concluídas até 2029.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]