Governo ainda pena para conseguir emplacar ações do ajuste fiscal defendidas por Levy.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Enquanto o governo quebra a cabeça para apresentar um caminho crível de ajuste fiscal – o ponto de partida da política econômica implantada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy – vários economistas destoam do “consenso fiscal” e vêm propondo caminhos alternativos, que incluem mudanças no câmbio e a retomada da “nova matriz econômica”.

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No fim de setembro, a Fazenda apresentou o que diz ser seu plano de voo para os próximos anos. O detalhamento das três etapas para a retomada do crescimento passou quase despercebido, encoberto por notícias sobre impeachment, delações, contas na Suíça e afins.

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Segundo esse plano, o primeiro passo é o ajuste fiscal. Com as contas em ordem e o crescimento da dívida pública controlado, o país passaria a um momento de crescimento com juros menores e alta nas exportações. O terceiro passo seriam as reformas estruturais, com mudanças tributárias e previdenciárias.

As alternativas que vêm surgindo em debates são bem mais complexas. Na última semana, por exemplo, o economista Roberto Gianetti da Fonseca, que foi diretor de relações internacionais da Fiesp, defendeu que o governo usasse US$ 100 bilhões das reservas para reduzir a dívida pública.

Seria uma forma rápida para contornar a lentidão do ajuste fiscal, segundo ele. O problema é que o governo teria de colocar o montante (cerca de 30% das reservas) no mercado, com uma provável valorização do real, o que reduziria o potencial de retomada da economia via exportações. A manobra, no entanto, teria pouco efeito sobre o quadro fiscal. Os analistas já levam em conta os ativos do país para analisar a solvência de longo prazo. Nesse caso, o que interessa é a gestão.

Câmbio

Outra proposta na área cambial veio justamente de quem avalia as contas do país. O economista-chefe da S&P para a América Latina, Joaquim Cottani, defendeu que o Brasil deixasse a cotação do dólar subir a R$ 5. Seria uma forma de retomar a competitividade internacional. O efeito colateral seria o aumento da inflação, já pressionada neste ano e em 2016. A solução? Deixar que o desemprego cuide de segurar os preços no longo prazo. Algo não muito palatável politicamente.

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Outra análise que ganhou espaço é a de que o Brasil está em situação de “dominância fiscal”. Isso significa que as ações do Banco Central para segurar a inflação pioram o quadro fiscal, tornando o ajuste inócuo. A economista Mônica Baumgarten de Bolle escreveu um artigo defendendo que uma saída é adotar um sistema de câmbio controlado para segurar a inflação, o que facilitaria o caminho para a redução dos juros. O tratamento exigiria uma mudança tão profunda na gestão macroeconômica que não seria implantado com facilidade – fora o fato de que a saída do câmbio controlado no futuro poderia ser traumática.

Demanda

Outra linha de palpite que voltou a aparecer é a ideia de que o Brasil precisa estimular a demanda, reduzindo os juros mesmo com a inflação alta e aumentando o crédito. Economistas ligados ao PT, como o ex-presidente do Ipea Márcio Pochmann, estão entre os defensores de um retorno à política fiscal expansionista. O que não fica claro é como o governo, já quebrado, pagaria a conta.

Enquanto isso, a Fazenda continua tentando dar o primeiro passo dos três previstos pelo ministro Joaquim Levy. Novos cálculos do governo mostram que, no pior cenário, o déficit neste ano pode passar dos R$ 50 bilhões. Está difícil sair do lugar, e nenhum dos conselhos alternativos que apareceram até agora ajudou.