Enredado em uma crise política alimentada por seus próprios erros, o presidente Michel Temer decidiu lançar um pacote de medidas de estímulo para a economia. Ele procura no bolso do brasileiro uma tábua de salvação para um governo povoado por políticos acusados de corrupção e sem habilidade para reconquistar a confiança no país.
Lançar qualquer pacote anticrise é ir contra a história recente do país. Desde 2011, tudo que foi apresentado como medidas para estimular a atividade deu errado. A equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, promete evitar os erros do governo Dilma. Mas isso não significa que a tábua de salvação será do tamanho que Temer precisa.
Na verdade, há muito pouco que possa ser feito com efeito imediato sobre o crescimento e o emprego. O que traria mais resultados é uma combinação de melhora de ambiente, queda de juros e alguma melhora regulatória – reformas nas relações trabalhistas e no sistema tributário, por exemplo.
Parte do trabalho começou a ser feita com a redução dos juros pelo Banco Central, que vai continuar no ano que vem. Mas isso tem efeito em prazos mais longos, de nove meses a um ano. E o governo tem pressa justamente porque não está conseguindo reverter o clima de ceticismo provocado pela crise política, que engoliu as primeiras boas notícias na área econômica, como a aprovação da PEC do teto de gastos e a apresentação da proposta de reforma da Previdência.
O problema é que reformas microeconômicas dão trabalho e também demoram para trazer efeitos na atividade econômica. Um exemplo está na área trabalhista. O projeto que regulamenta a terceirização está pronto para ser votado no Senado há um ano. Ele tem o potencial de, ao ser aprovado, reduzir a incerteza jurídica na contratação de empresas terceirizadas, o que no longo prazo elevará a produtividade da economia. Sua aprovação não teria efeito imediato, portanto.
Por isso o governo deve apresentar medidas que mexem com o crédito. Liberação de compulsórios e, quem sabe, do FGTS para a renegociação e quitação de dívidas dará alívio aos bancos, já pressionados pela inadimplência elevada. Não é, também, algo com resultado imediato. Dificilmente uma pessoa que renegociou a dívida ou usou o FGTS para se livrar de um abacaxi vai voltar a tomar crédito no curto prazo.
Há uma tese incorreta em parte do governo de que a economia não cresce porque as empresas não conseguem tomar dinheiro para produzir, embora haja demanda. Não é o que se escuta de empresários – preocupados, sim, com as dificuldades de caixa, mas ainda sem enxergar um fortalecimento da demanda.
Ao tomar posse, Temer apostou em outra frente de retorno lento, a concessão de projetos de infraestrutura para a iniciativa privada. Os primeiros aeroportos estão prontos para ir a leilão e os investimentos vão ser feitos ao longo dos próximos anos. É assim o tempo da economia, diferente do tempo da política. Por isso as limitações políticas de Temer não serão facilmente compensadas por uma reação da economia.
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