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As primeiras reações do mercado financeiro às medidas anunciadas na noite desta quarta-feira (27) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad apontam que os cortes de gastos são positivos em termos de ajuste fiscal, mas são insuficientes para alcançar um resultado primário (a diferença entre o que é arrecadado e as despesas do governo, excluídas as com os juros da dívida pública) que atenda às metas legais e garanta a sustentabilidade do endividamento.
Um dos pontos de preocupação é com a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). O economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, estima que a mudança na faixa de isenção poderá ter um impacto de pelo menos R$ 45,8 bilhões.
A divulgação de medida na tarde desta quarta teve reflexo no câmbio, que atingiu a maior cotação nominal desde a adoção do real, em 1994. O real é, em 2024, a segunda moeda que mais desvalorizou entre as grandes economias latino-americanas.
“O motivo do aumento na volatilidade e pressão cambial é a diminuição da credibilidade das medidas de contenção de despesas, já que a mudança no IR caminha no sentido de diminuição da arrecadação, o que tende a limitar o efeito dos cortes que serão anunciados”, desta a gerente de research e head de conteúdo da Nomad. Paula Zogbi.
Os analistas apontam que o impacto das medidas dependerá fortemente da aprovação no Congresso e da firmeza do governo na implementação. Existe o risco de que as propostas sejam desidratadas durante as negociações legislativas, o que poderia gerar mais pressão sobre o mercado financeiro.
Outra avaliação é de que o mercado buscará sinais claros de comprometimento do governo com o ajuste fiscal. Medidas como a proibição de ampliação de benefícios tributários em caso de déficit primário foram vistas como positivas, mas não suficientes para recuperar a credibilidade de forma ampla.