Com alta de quase 17%, vendas de móveis e eletrodomésticos foram o principal destaque do varejo em 2011| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

As medidas adotadas pelo governo para esfriar a economia tiveram reflexo no comércio em 2011. Segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas do varejo no Paraná cresceram 7% no ano passado, depois de avançar 9,2% no ano anterior. Em todo o Brasil, as vendas aumentaram 6,7% em 2011, ante uma alta de 10,9% um ano antes. A receita nominal do comércio no estado avançou 13,7%.

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As medidas macroprudenciais que entraram em vigor no fim de 2010 – como restrições ao crédito e redução de prazos de financiamento de veículos, por exemplo – contribuíram para que o comércio tivesse um desempenho menos vigoroso em 2011, segundo Rei­naldo Pereira, gerente de coordenação de serviços e comércio do IBGE.

INFOGRÁFICO: veja em detalhes o desempenho do varejo do Paraná e do Brasil

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O objetivo do governo, na época, era evitar a disparada do crédito e da inflação. Com o agravamento da crise internacional e a expectativa de que a inflação fique mais perto do centro da meta em 2012, as medidas de restrição foram retiradas e novos incentivos para estimular o consumo – como a redução do IPI para a linha branca – entraram em vigor no fim de 2011. "Mas ainda não deu tempo de essas medidas surtirem efeito nas vendas de maneira mais expressiva. Acreditamos que isso vai se dar em 2012", afirma Pereira.

Para ele, há chance de as vendas do varejo voltarem a crescer, neste ano, nos mesmos patamares de 2010. O resultado de 2011 só não foi pior porque o setor de móveis e eletrodomésticos registrou um crescimento acima da média, puxado pelo incentivo tributário aos produtos da linha branca, pelo boom imobiliário e pelos preços comportados."Em alguns segmentos houve deflação, como eletroeletrônicos, o que ajudou a estimular as vendas", recorda Pereira.

A inflação dos alimentos, por outro lado, prejudicou o resultado dos supermercados e hipermercados, que tradicionalmente ajudam a puxar para cima o desempenho do comércio. "Os aumentos de preços ocorreram por causa de commodities mais caras no primeiro semestre, aliados a problemas climáticos que originaram choques de oferta", diz o técnico do IBGE.

Comportamento

O resultado de 2011 também pode ser atribuído a uma mudança de comportamento da classe C, que, com o aumento da renda, deixou de considerar os alimentos como principal item do orçamento e passou a diversificar as compras.

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No chamado varejo ampliado – que inclui vendas de automóveis, motos e autopeças e material de construção –, as vendas cresceram 8,8% no estado e 6,6% no Brasil. Para Gilmar Mendes Lou­ren­­ço, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes), setores como móveis e eletrodomésticos; produtos farmacêuticos e de perfumaria; materiais de construção; e veículos, motos, partes e peças responderam bem ao aumento do emprego e dos rendimentos, ao crédito para consumo e aos incentivos à construção civil.

Thadeu de Freitas, economista-chefe da Franklin Templeton, porém, acredita que o comércio está se sustentando em "bases frágeis". As vendas amparadas em incentivos e no crédito podem não se sustentar no longo prazo, avalia. "Dado que o crédito em dezembro caiu um pouco para pessoa física, isso pode não perdurar nos próximos meses", diz.