Laboratório de eletrônica do Lactec, em Curitiba: aparelho que será testado pela Light ganhará importância se o país adotar o modelo de cobrança conforme o horário de consumo| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Usos da "smart grid" vão além da eletricidade

Além de mostrar ao consumidor os detalhes sobre os gastos com a conta de luz de forma que haja controle maior sobre os gastos, os medidores inteligentes também podem permitir o controle a distância do funcionamento de eletrodomésticos e eletrônicos. Esses medidores são parte do conceito de "smart grid", relacionado à automação das redes de distribuição de energia elétrica.

Pesquisas de empresas da área mostram que é possível incorporar tecnologias de sensoriamento, monitoramento, tecnologia da informação e telecomunicações para o melhor desempenho da rede, identificando falhas e melhorando a qualidade do serviço prestado – tudo via conexão sem fio.

Ainda em fase de testes, a tecnologia de redes inteligentes é capaz de dar alternativas a inúmeros segmentos. "É possível usar a capilaridade da rede de energia elétrica, aliada aos sistemas de conexão sem fio, para integrar sistema de segurança, iluminação pública ou monitoramento de veículos, por exemplo", comenta Airton Hess, diretor da Smart Green, empresa curitibana que atua no ramo.

Outra empresa instalada em Curitiba que desenvolve pesquisas do gênero é a Langys+Gyr. Segundo o gerente de produtos da empresa, Ennio Guido Schiavon Junior, a adoção desses sistemas é uma tendência mundial. "Em outros países já é realidade, mas o Brasil depende de alguns marcos regulatórios e incentivos governamentais para que essas soluções estejam mais presentes no cotidiano", afirma.

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A concessionária de energia elétrica Light, do Rio de Janeiro, dará início em 2012 a um projeto-piloto de medidores de energia "inteligentes" – que, entre outras utili­­­da­des, indicam aos usuários o quanto estão consumindo. O sistema, parte essencial do conceito de "smart grid" (redes inteligentes), será testado com aval técnico do Instituto de Tecnologia para o De­­­senvolvimento (Lactec), centro de pesquisas mantido por cinco em­­­­presas e instituições do Paraná. Se a experiência der certo, a tendência é que até o fim do ano os medidores convencionais usados no Rio comecem a ser trocados pelos "inteligentes", desenvolvidos em parceria pelo Lactec e pela Light.

"Essa interação do consumidor com o medidor de energia – que mostra, pela internet, celular, tablet e até mesmo em uma interface acoplada qual foi o consumo até o momento e quanto custará a conta de luz – é capaz de gerar re­­­­du­­­­ção entre 20% e 30% do gasto com energia", explica Rodrigo Jar­­­dim Riella, coordenador de projetos da divisão de eletrônica do Lactec.

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Na avaliação dele, essa economia é boa para o consumidor e para as próprias concessionárias. "É mais barato, para a concessionária, investir em pesquisa e implementar sistemas inteligentes do que promover uma ampliação de suas linhas, que ficam congestionadas em horários de pico e que podem, em alguns anos, não suportar a demanda."

De acordo com Riella, a cobrança diferenciada da tarifa nos horários de pico de uso de energia elétrica, aliada ao consumo inteligente, é um dos argumentos mais fortes para que os sistemas se popularizem. O modelo é usado na Itália desde 2006 e nos Estados Unidos desde 2008. "O consumidor vai querer economizar sabendo o quanto gasta e em quais momentos do dia gasta mais. Assim, será possível estabelecer um deslocamento da carga para horários menos congestionados."

Segundo Riella, o Lactec mantém conversas com várias concessionárias que estão em busca dessa tecnologia. "Vai depender de cada empresa, mas muitas já demonstram interesse. Se o projeto-piloto do Rio de Janeiro der certo, é provável que outras sigam o mesmo caminho", diz.

A mudança necessária para implementar os sistemas inteligentes de controle de gastos com a energia elétrica é feito por meio da troca dos medidores de luz em todas as unidades consumidoras. Serão instalados medidores mais apropriados, que forneçam interface para interação com o consumidor. O ônus dessa mu­­dan­­ça fica a cargo da concessionária, e não do usuário.