A preferida
Caderneta ganha das demais aplicações por ser simples e barata
Quando completou 18 anos, a publicitária Mariana Guimarães pegou todo o dinheiro que tinha conseguido juntar nos cofrinhos e resolveu abrir uma poupança. "O hábito de poupar começou desde cedo. Minha mãe sempre me ensinou a guardar dinheiro e meu pai, a gastar, então fiquei com o meio termo", relembra. A escolha pela aplicação se deu pela facilidade em sacar o dinheiro em qualquer necessidade e pela ausência de taxas. O produto era o mais simples oferecido para a jovem na época. "Abri uma conta e automaticamente tinha direito à poupança. Era só transferir e pronto, já estava poupando", explica.
A escolha é comum à maior parte dos poupadores brasileiros. A recepcionista Adriana Lima optou pela poupança pelo mesmo motivo. Quando abriu a sua primeira conta em banco, ofereceram a ela uma série de produtos: previdência privada, CDB e fundos DI, a escolha ficou por conta do que era mais prático. "Quando falei que queria guardar parte da minha renda, o gerente me ofereceu um monte de coisas, mas pedi aquilo que não tivesse taxas e que eu conseguisse entender como funcionava" admite.
O contador Rosaldo Manfredini atribui a sua preferência pela poupança à segurança que o fundo proporciona. "Não há qualquer risco. É preciso conhecimento para se arriscar em outros fundos de maior rendimento. Prefiro, pelo menos, garantir um rendimento mínimo", justifica.
Para a professora de Economia do FAE Centro Universitário Evelin Lucht Lemos, estes motivos ainda são os mais determinantes para explicar a popularidade do investimento. "A ausência de taxas e de cobrança de imposto de renda torna a poupança quase que incomparável. Ela será sempre a preferida dos brasileiros", completa.
Dois meses se passaram desde que as novas regras da caderneta de poupança chegaram e deram menor rendimento à aplicação em um cenário de baixos juros. Justamente neste período, a poupança registra a maior captação líquida bimestral em dois anos e meio. Ao invés de sair do fundo, investidores estão buscando na poupança a segurança que precisam frente à crise internacional e à necessidade de pagar as contas de médio e longo prazos contraídas na euforia do estímulo ao crédito.
Os números de captação são expressivos. Nos últimos dois meses, os depósitos superaram as retiradas em R$ 11,3 bilhões. A melhor marca bimestral desde o final de 2009, quando foi registrada uma captação líquida de R$ 13,6 bilhões. O resultado foi determinante para que, no semestre, a captação liquida chegasse aos R$ 15,4 bilhões, marca superior a toda a diferença de depósitos e saques do ano passado. Este foi o mês junho com mais depósitos nos últimos 10 anos, com R$ 98 bilhões, e o segundo colocado desde que o Plano Real entrou em vigor.
Ao mudar as regras da poupança, o Banco Central tinha receio de esvaziar os novos depósitos no investimento mais popular do Brasil. O que aconteceu foi justamente o contrário. "O cenário de incerteza na economia mundial afasta as pessoas dos investimentos de maior risco", explica o professor de Finanças da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Pedro Piccoli.
O comportamento fica comprovado quando se compara a variação do saldo da poupança com a variação do Ibovespa, índice das principais ações do país. "É o princípio da aversão ao risco. Quando a bolsa cai, o saldo da poupança cresce", detalha Piccoli. Ele acredita que, em função do alto endividamento e inadimplência registrados no país, os resultados recordes caracterizam a migração de fundos. "Não são novas poupanças abertas. Os investidores estão preservando ao máximo as contas antigas e ainda fazendo novos depósitos", afirma.
A diferença entre os rendimentos anteriores e posteriores à mudança é pequena. Com a queda nos juros, as altas taxas de administração cobradas pelas outras aplicações indexadas à Selic ficaram mais evidentes.
A taxa básica de juros integra o cálculo de rendimento da poupança, tesouro direto, fundos de previdência e outros investimentos. "Outros fundos de renda fixa têm baixo retorno e ficaram caros. A poupança acabou se tornando uma opção muito melhor em comparação às outras", afirma Evelin Lucht Lemos, professora de Economia do FAE Centro Universitário.
Mesmo com a possível queda da Selic para 7,5% até o final do ano, como apostam muitos economistas, a caderneta de poupança deve continuar sendo a principal forma de investimento do brasileiro. "Todos os investimentos desta ordem sofrem com a queda de rendimento. Enquanto o cenário externo for de incerteza, a poupança deve continuar aumentando sua captação", completa.
Com a taxa básica atual de 8%, as novas contas passam a ter um rendimento mensal de 0,47% (de 5,80% ao ano, já com TR), de acordo com o economista Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac). O índice garante rentabilidade maior que outros fundos de investimento de renda fixa com taxa de administração igual ou maior do que 1%.
O vice-presidente de Pessoa Física da Caixa Econômica Federal, Fábio Lenza, concorda que o crescimento do montante captado pela poupança se deve à sua competitividade de rentabilidade. "A atual rentabilidade de 70% da Selic mantém a atratividade do investimento, que continua ganhando em rendimento, por exemplo, dos fundos de renda fixa DI com taxa de administração acima de 1%, para prazo de até 12 meses; e dos CDBs de varejo, que pagam abaixo de 91% do CDI para aplicação de até seis meses", detalha.
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