São Paulo - O medo de perder o emprego é o que faz a maioria dos trabalhadores aceitar acordos de redução de jornada de trabalho e salários. Essa é a avaliação feita por economistas e líderes sindicais, com base na pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem e que mostra que 50% dos entrevistados são favoráveis à diminuição da jornada e dos salários, como forma de enfrentar a crise econômica internacional, e que apenas 38,9% são contrários à medida.
O presidente da Central Única dos trabalhadores (CUT), Artur Henrique, é um dos que são contrários à medida. Para ele, o resultado da pesquisa da CNT/Sensus não poderia ser outro. "Dependendo de como a pergunta é feita já se tem a resposta. É óbvio que um trabalhador prefere um salário menor ao desemprego", ironizou. "Agora, se você perguntar se o trabalhador prefere redução salarial ou medidas como férias coletivas, fim das horas extras e jornada menor durante a crise, a resposta será outra", emendou.
Para ele, a redução da jornada e dos salários não é uma forma positiva de enfrentar a crise, pois acaba por diminuir também o consumo e, consequentemente, o crescimento econômico. "A mesma pesquisa mostra que a maioria [51,1%] acredita que a situação do emprego vai melhorar nos próximos seis meses. A maior parte dos consultados acha que a crise é passageira e que o governo está agindo para superá-la", observou.
A favor de acordos que reduzam jornada e salários durante a crise está o presidente da Força Sindical, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho. "Se a empresa está em situação ruim, o trabalhador prefere fazer um acordo a perder o emprego", disse. Ainda assim, ele ressalta que os trabalhadores devem ser consultados sobre a proposta e decidir em assembleia se a aceitam ou rejeitam.
Acordos temporários
O economista do Ibmec Alexandre Jorge Chaia descarta a existência de pressão, por parte das empresas sobre os trabalhadores, para que sejam fechados acordos nesse sentido. Ele avalia que os acordos são temporários e assim que a economia retomar o nível de atividade, a demanda vai crescer e os salários voltarão aos patamares anteriores à crise.
"Os números da pesquisa refletem a preocupação da força de trabalho com a manutenção do emprego. As pessoas preferem receber menos do que perder o emprego", argumentou Chaia.
Já o professor do Instituto de Economia da Unicamp Claudio Dedecca acredita que a redução da jornada e dos salários é uma solução confortável para as empresas, pois não gera custos para demitir o trabalhador e mantém a rentabilidade.
"O desemprego é muito duro e a pressão para que se aceite qualquer tipo de acordo com o objetivo de preservar o emprego é muito grande", afirmou Dedecca. "Do ponto de vista do trabalhador, perder o emprego em uma situação dessa é péssimo. Então, obviamente ele está disposto a aceitar esse tipo de acordo", acrescentou.
Dedecca também avalia a medida como inócua, pois a diminuição do salário acaba afetando o consumo. Na avaliação do professor da Unicamp, é possível terminar o ano de 2009 com estabilidade no emprego desde que o governo continue a tomar medidas para enfrentar a crise, como a desobstrução do crédito, a redução dos juros e a manutenção dos investimentos. "Essas iniciativas, se bem adotadas, podem garantir um crescimento da economia de 3%, que permite a manutenção da taxa de desemprego nos níveis atuais", analisou.