O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) inicia hoje a reunião de dois dias para definir a taxa de juros básica (Selic) da economia brasileira. Será uma decisão difícil. De um lado, o BC precisa mostrar que será duro com a inflação, hoje pressionada pelo dólar forte. Ao mesmo tempo, o desaquecimento da economia pede um relaxamento na política monetária.
Entre analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, vem ganhando terreno a tese de que o BC vai manter os juros, hoje em 13,75% ao ano, inalterados para esperar o desenrolar da crise. Se vier uma elevação na taxa, ela não passaria de 0,25 ponto porcentual -- essa é a projeção da maioria dos analistas ouvidos pela pesquisa semanal Focus, do BC. A decisão será conhecida amanhã à noite.
"O nível de estresse do sistema financeiro é muito alto e o Brasil já está passando por uma ruptura de oferta de crédito. Elevar a taxa agora seria piorar ainda mais esse quadro" diz Arthur Carvalho Filho, analista chefe da corretora Ativa.
A tendência é que a autoridade monetária adie a elevação da taxa de juros até que o cenário esteja mais claro, na opinião do analista chefe da XP Investimentos, Rossano Oltramari. "É provável que o BC deixe para subir os juros na reunião seguinte. Agora, ele vai manter a neutralidade", aposta.
A principal desculpa para o BC subir a Selic é a de que a valorização do dólar eleva preços de insumos e produtos importados. Juros maiores serviriam para reduzir o consumo e impedir o repasse da alta dos custos para os preços. "Ocorre que o cenário mudou. A economia já sente a desaceleração do ritmo de crescimento da demanda e do crédito. Com isso, o mais provável e que o BC não altere os juros", prevê Fernanda Feil, economista da Rosenberg Consultores Associados.
Mas manter os juros inalterados traz o risco de a política do BC perder consistência. Para o economista Marcio Cruz, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a tendência é de aumento da Selic, no caso de o presidente do BC, Henrique Meirelles, manter a postura adotada até agora. "O BC optou por seguir à risca a estratégia de usar a política de juros para manter a inflação dentro da meta. Como há uma expectativa de aumento da inflação, a lógica do BC é subir Selic", diz.
Um aumento nos juros iria na contramão do que vem sendo feito em outros países. Para tentar livrar suas economias da recessão e aumentar o consumo, bancos centrais da Europa, Estados Unidos e da Ásia vêm reduzindo suas taxas. "Uma decisão de subir a taxa de juros pode passar a imagem de que o Brasil não assimilou a gravidade da crise", diz Carvalho Filho, da Ativa.