O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou nesta terça-feira (14) que "já há sinais de retomada do investimento na margem". Segundo ele, a melhora dos dados relativos aos investimentos permite ao Brasil sair da crise com "maior consistência", com PIB potencial maior e com menor risco de inflação do que no passado.
Em palestra a empresários alemães, ele instou os executivos, de forma indireta, a prestarem mais atenção às perspectivas de recuperação da economia brasileira. Meirelles ressaltou que a crise internacional é séria e que ainda existem riscos, inclusive em relação à economia dos EUA. "Porém o Brasil vai sair da crise mais forte", afirmou. Ele mencionou que a inflação no País também se comportará de forma mais estável. "Outro risco é que quem deixar de investir na hora certa pode perder mercado na hora em que o crescimento chegar", alertou.
O presidente do BC mostrou-se otimista com a trajetória de expansão do País no médio prazo e destacou que instituições importantes já apontam que o PIB brasileiro avançará 4% ou um pouco mais no próximo ano. "O importante é que estamos num movimento de revisão de projeções para 2010.
Varejo
O crescimento de 0,8% nas vendas do varejo brasileiro em maio ante abril e de 4% em relação a maio do ano passado é mais um indicador do poder de reação da economia brasileira à crise financeira internacional, segundo Meirelles. Para o presidente do BC, os resultados positivos apresentados pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, são frutos de fatores como o crescimento da massa salarial nos últimos anos, que avançou 4% em maio ante o mesmo mês de 2008. "Portanto, se olharmos em uma perspectiva de longo prazo, o crescimento da renda no Brasil é resultado da estabilidade econômica. O Brasil hoje enfrenta com mais força a crise. O importante é que o País está preservando os seus fundamentos e sua capacidade para crescer nos próximos anos", afirmou.
Meirelles afirmou ser difícil dizer em que estágio de recuperação está o Brasil em relação à recessão mundial, pois sua origem é externa. "O mundo ainda está sujeito a muitas incertezas. Como a crise é importada, (a sua solução) depende de muitos componentes da economia no exterior", afirmou. "Em termos relativos, o Brasil está bem, está com sistema financeiro sólido as reservas internacionais são maiores do que antes da crise", observou. "O Brasil tem o BC comprometido com a estabilidade monetária e de preços. O País tem uma trajetória adequada da relação de dívida pública e produto (interno bruto).
Câmbio
O presidente do BC afirmou que a tendência é de normalização dos mercados de ativos, incluindo o câmbio, na medida em que a crise financeira internacional perde força. Meirelles comentou que o desempenho recente da taxa de câmbio no Brasil é um reflexo, sobretudo, da desvalorização do dólar em relação a várias moedas. "O câmbio no regime flutuante tem uma particularidade: é que ele flutua", afirmou, sem fazer nenhum comentário sobre se a taxa está supervalorizada ou depreciada em relação à moeda norte-americana. O dólar comercial fechou as negociações hoje no mercado interbancário de câmbio a R$ 1,969.
Meirelles manifestou-se contrário aos regimes cambiais que estabelecem metas para a taxa que baliza as relações de troca entre a moeda nacional e a norte-americana. Segundo ele, experiências de controle de câmbio têm um custo alto para países com a estrutura econômica equivalente à do Brasil.