O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que deixa o cargo "na hora certa". "Acredito que um profissional deve iniciar e concluir sua missão na hora certa", disse ele, durante entrevista coletiva na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Meirelles lembrou que regras prudenciais aconselham que um presidente do BC não fique mais do que dois mandatos à frente da autoridade monetária, o que, no Brasil, coincide com o mandato do presidente da República. "É o momento adequado para encerrar a missão", analisou.
A autoavaliação positiva feita pelo presidente do BC ganhou eco no setor bancário. O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Barbosa, fez elogios ontem à gestão de Meirelles e mostrou expectativas favoráveis em relação ao sucessor dele, o atual diretor de Normas da instituição financeira, Alexandre Tombini. "Meirelles consolidou o fortalecimento da instituição, iniciado com a constituição do sistema de metas inflacionárias. Ele colocou o país num outro patamar que não transigiu no combate à inflação. Todos saímos ganhando", afirmou Barbosa, destacando que Tombini tem perfil "bastante técnico", é "extremamente sério" e é uma indicação clara de que o governo manterá a atual política. "Aliás, conforme a então candidata Dilma Rousseff falou durante a sua campanha, seriam mantidos os pilares básicos da economia", afirmou.
Juros
De acordo com o presidente da Febraban, indicar alguém que faz parte do quadro atual do banco é sinal de continuidade. Barbosa afirmou ainda que, como todo mundo, incluindo os bancos, é favorável à queda dos juros. Ele fez o comentário depois de ser perguntado se acredita que o próximo governo conseguirá reduzir os juros reais para 2% em 2014, como foi manifestado por Dilma. "Ninguém é contra a redução de juros, todo mundo é a favor, inclusive o sistema financeiro", comentou.
"O que está implícito nesta questão é que se criem condições para que os juros possam ser reduzidos. É isso que a presidente eleita tem falado. E essas condições são, certamente, equilíbrio das contas públicas, desaceleração da inflação e a utilização de mecanismos fiscais dos quais se poderá, eventualmente, lançar mão para gerar esses resultados", afirmou. O presidente da Febraban afirmou que é positivo quando a condução da economia é realizada levando-se em consideração os contrapontos naturais manifestados pelos setores responsáveis por tal tarefa, uma menção indireta aos Ministérios da Fazenda e do Planejamento e ao BC.
"É bom sempre que haja o contraponto. Pontos e contrapontos na economia existem e nunca vai haver consenso com todo mundo. Isso é a verdade de qualquer governo", apontou. Barbosa ponderou, contudo, que, caso o BC e o Ministério da Fazenda atuem em mais harmonia na gestão das políticas monetária e fiscal, isso também será favorável para o país. Barbosa ressaltou que Meirelles ganhou grande respeitabilidade internacional e é um profissional que certamente encontrará portas abertas em instituições nacionais e internacionais, embora ainda não se saiba quais são os planos do atual presidente do BC.