Para manter o padrão vale até andar a pé
O casal de contadores Inês e édson de Oliveira, de Curitiba, já está experiente em enxugar o orçamento para compensar o reajuste das mensalidades dos dois filhos, de 12 e 10 anos. A família chegou a vender a casa própria e morar no terreno de parentes para não abrir mão do ensino privado. "A escola deles é nossa prioridade, um investimento. Nos tempos mais difíceis, cheguei a caminhar 45 minutos todos os dias para economizar o dinheiro do ônibus, mas a escola nunca passou mais de um mês atrasada", conta a esposa.
O orçamento familiar dos Oliveira é anualmente repassado à escola dos filhos, junto a um pedido de bolsa de estudos ou desconto. Em 2008, mesmo que mantenha o desconto de 10% que recebe hoje na parcela, Inês vai gastar 6,5% a mais com a educação dos filhos. "Gastamos 30% do que ganhamos nas mensalidades, isto sem contar matrícula, livros e uniforme", lembra.
Como os gastos com educação normalmente superam a inflação e os reajustes salariais, o compromisso com a escola tende a ocupar uma fatia cada vez maior do orçamento da família. "As escolas geram um círculo vicioso negativo, tanto para as famílias como para elas mesmas, porque criam uma tendência de migração dos alunos para escolas públicas", avalia o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Paraná, Sandro Silva.
Segundo dados do Dieese, as mensalidades do ensino fundamental mais que dobraram de 1999 a abril deste ano: ficaram 122,64% mais caras. No mesmo período, a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) foi de 84,3% e o salário dos professores de escolas particulares cresceu 68,66%. "Este processo de aumentos tem de ser repensado, porque há escolas que podem começar a ter dificuldades financeiras por conta do impacto que representam no orçamento familiar", diz Silva.
Por lei, as escolas são obrigadas a apresentar aos pais a planilha de custos que justifica o reajuste aplicado. A planilha precisa incluir as previsões de gastos e investimentos para o ano letivo seguinte, e tem de ser entregue aos alunos ou responsáveis até 45 dias antes da data final para a matrícula. (PK)
Os pais que têm filhos em escolas ou faculdades particulares no Paraná podem ir preparando o bolso: a partir de janeiro, as mensalidades ficarão entre 3% e 6% mais caras, de acordo com a previsão do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe). O aumento é similar àquele que foi praticado este ano, quando os reajustes do ensino fundamental e médio ficaram em torno de 6%. A temporada de inscrições de novos alunos será aberta dentro de duas semanas. O período de rematrículas e reserva de vagas já teve início em boa parte das instituições particulares de ensino de Curitiba.
A margem de reajuste calculada pelo Sinepe inclui a reposição da inflação, gastos com pessoal e previsão de aumento no próximo ano dos gastos com a infra-estrutura dos colégios, informa o presidente do sindicato, José Manoel de Macedo Caron Júnior. "A reposição de inflação costuma ser o mínimo aplicado pelas escolas. Mas elas não podem trabalhar só com os índices deste ano. Têm de pensar que estão calculando valores que vão passar o ano todo sem qualquer reajuste", afirma. Não há variação ao longo do ano porque o que o reajuste contempla, na realidade, é a anuidade da escola, que normalmente é cobrada na forma de matrícula mais parcelas, que mudam de quantidade conforme a instituição.
As escolas têm a liberdade de definir seus reajustes, independentemente do cálculo feito pelo Sinepe, que serve apenas como uma referência. "Cada escola define seu reajuste conforme os gastos que vai ter", destaca Caron. Isso significa que 6% não é o limite máximo de aumento. No Colégio Marista Santa Maria, por exemplo, o reajuste médio vai ser de 6,37% (o porcentual varia conforme a série que o aluno vai cursar). "É o repasse da mão-de-obra e da manutenção de nossa estrutura", explica o coordenador-administrativo da escola, José Valdeci Sampaio de Melo. A instituição já está rematriculando os alunos e abre matrículas para novos estudantes a partir de 2 de outubro. A reserva cada vez mais antecipada das vagas (anos atrás as matrículas começavam no início de novembro) é uma questão de mercado, diz Melo. "Um colégio tem a iniciativa de antecipar e os outros acabam se adequando, para manter a concorrência", justifica.
O máximo de 6% previsto pelo Sinepe considera que há um limite na possibilidade de os pais arcarem com o reajuste na mensalidade escolar dos filhos. "Não basta querer cobrar. É preciso saber se as famílias vão agüentar pagar", lembra o presidente da entidade. Não são poucos os afetados pelo aumento. Em todo o estado, cerca de 365 mil de um total de 2,8 milhões de alunos do ensino básico estudam em escolas particulares, de acordo com o Censo Escolar de 2006.
"É a classe média que está com o filho nas escolas particulares e ela não tem condições de absorver todos os nossos custos. Ao mesmo tempo, a qualidade dos nossos serviços só pode aumentar, caso contrário perdemos alunos para as escolas públicas", diz o diretor-geral do Colégio Expoente, Armindo Angeres. A escola optou por elevar no máximo em 3% o valor das mensalidades de 2008. No pré-vestibular, os preços ficarão congelados. "Tivemos um aumento de 14% no número de alunos este ano e 80% do nosso faturamento vem do sistema de ensino, vendido a outras cidades. Por isso, optamos por não repassar todo aumento de custos aos nossos alunos", informa Angeres.
No Colégio Dom Bosco, apesar de a reserva de matrículas ter sido iniciada, o reajuste será definido na próxima semana. De acordo com a direção do grupo, a margem que vem sendo estudada para aumento vai de 4,5% a 6%. Outros dois grandes grupos escolares de Curitiba, Positivo e Bom Jesus, não divulgaram o porcentual de reajuste.
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