As mensalidades do ensino básico, médio e superior terão reajuste médio de 6% para o ano letivo de 2010, segundo projeção do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Paraná (Sinepe-PR). Com isso, o aumento acumulado no custo do ensino entre 2005 e 2010 no estado deve superar em 10 pontos porcentuais a inflação registrada no mesmo período. Neste intervalo, as mensalidades escolares registraram alta de 44%, enquanto a inflação teve aumento de 34%, de acordo com cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).Nem mesmo a desaceleração da inflação em 2009 que deve fechar o ano em 4,3%, frente a 6,48% de 2008 foi suficiente para reduzir o ritmo dos reajustes das escolas particulares que, pelo sexto ano consecutivo, ficarão acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medido pelo IBGE. Para o empresário Reynaldo Gabardo Júnior, que mantém seus quatro filhos em instituições privadas de ensino, as novas mensalidades devem comprometer ainda mais a renda da família que hoje gasta 20% dos rendimentos com as escolas. Para aliviar esse impacto, o empresário diz que pretende reduzir gastos com lazer, vestuário e cursos extracurriculares dos filhos. "A gente acaba tendo que optar. Em vez de cada um fazer duas ou três atividades, tem que dar uma peneirada e escolher apenas uma", diz. Por enquanto, Gabardo Júnior não prevê transferir os filhos para escolas públicas. "Não se compara a qualidade do ensino dos colégios particulares com os públicos. Então, na medida do possível, enquanto há condições de manter todos em escolas particulares, manteremos", afirma.
A auxiliar financeira Mariana Lemos de Godoy conta que em 2008 precisou trocar a filha Ana Carolina de pré-escola por causa do aumento nas mensalidades. A mudança, para outro colégio particular, representou uma economia mensal de R$ 250. "Mas a mudança da qualidade do ensino é bem visível", lamenta.
Na avaliação de Sandro Silva, economista do Dieese, essa migração é uma tendência. "Cada vez mais o trabalhador da classe média está gastando uma parcela maior dos salários com as mensalidades escolares. Ano após ano, torna-se muito mais caro bancar esses custos de formação. Isso pode, no médio prazo, comprometer o futuro do setor".
Para o economista, ao contrário do que ocorreu em anos anteriores, não há nada que justifique o aumento acima da inflação em 2010. "A inflação desacelerou, o aumento da tarifa de energia elétrica não foi repassado ao consumidor e os salários dos professores ficaram defasados em 6,92% em relação ao aumento das mensalidades nos últimos cinco anos", analisa.
Projeções
O presidente do Sinepe-PR, Ademar Pereira, diz que é equivocado balizar os reajustes apenas com base nos índices da inflação. "Uma escola não trabalha apenas com a inflação. Existem outros gastos, além do custo com folha de pagamento. É preciso uma planilha projetada para o próximo ano. Alguns investimentos em infraestrutura e material pedagógico também podem justificar um aumento acima da inflação", diz.
A Federação Nacional das Escolas Particulares aponta que a elevação dos índices de inadimplência também pressiona o reajuste das mensalidades. O índice de pendências financeiras, medido pelo Serasa Experian, no entanto, registra queda de 0,07% entre outubro de 2008 e agosto de 2009. No acumulado do ano, o nível de inadimplência sofreu queda de 3,84%.
Colaborou Fernanda Stoppa
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