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Expectativas

Mercado acredita que governo vai mudar sistema de metas de inflação nesta semana

Roberto Campos Neto, presidente do BC, e os ministros do Planejamento, Simone Tebet, e da Fazenda, Fernando Haddad, compõem o CMN. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil; Marcelo Camargo/Agência Brasil; Valter Campanato/Agência Brasil)

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O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne na próxima quinta-feira (29) sob a expectativa de uma possível mudança no sistema de metas de inflação. Está na mesa a discussão sobre substituir o atual regime de meta por ano-calendário por um modelo com um horizonte de aferição maior ou de perseguição contínua, como já defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Levantamento feito com mais de 100 gestores, estrategistas e economistas do mercado financeiro apontou que a maioria deles acredita que o sistema será mesmo modificado (leia mais abaixo).

“Eu penso que a meta contínua é muito melhor que a meta-calendário. Você não tem o calendário gregoriano, mas você tem a trajetória que vai fazer [a inflação] chegar a 3% em uma situação que você não vai desorganizar a economia nacional”, disse o ministro no início de maio, em entrevista à rádio CBN.

O objetivo inicial da reunião seria definir o objetivo de inflação para 2026 e, havendo interesse, também poderia entrar em pauta uma alteração das metas numéricas já definidas para os anos de 2024 e 2025 – que hoje são de 3%, com uma banda de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Embora seja considerada pouco provável, a medida não está totalmente descartada pelo governo.

No início do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou várias vezes o atual sistema de metas de inflação, chegando a defender a elevação dos níveis estabelecidos para este e para os próximos anos. Ele chegou a falar em um patamar de 4,5% para 2023, enquanto o atual objetivo para a inflação de 2023 é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto porcentual.

Para que as metas já definidas possam ser revistas, o governo não teria maiores dificuldades. Seria necessário apenas um decreto presidencial autorizando a medida e a aprovação pelo CMN, formado atualmente por Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. Votos favoráveis dos dois ministros de Estado seriam suficientes para a aprovação da medida.

Uma mudança numérica nas metas estabelecidas para os próximos anos, no entanto, seria um retrocesso para a economia do país, na avaliação de analistas do mercado. “O governo estaria sinalizando que quer que o Banco Central acomode uma inflação persistentemente mais alta. E a gente sabe que para acomodar uma inflação mais alta, você quer uma política fiscal frouxa”, diz Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset.

“Se você sobe a meta, o mercado projeta obviamente um patamar maior [de inflação]. Acho que o BC, se a meta subisse, talvez pediria mais tempo para aguardar as mudanças de expectativas antes de começar o ciclo de corte de juros”, comenta Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Para ele, com a manutenção das atuais metas, é provável que o BC comece a baixar a taxa básica de juros a partir de agosto.

As expectativas do mercado para a inflação em 2023 vêm caindo desde o início do ano. Hoje o ponto médio das projeções para o IPCA é de 5,06% ao fim do ano – há um mês, a mediana era de 5,71%. No mesmo intervalo, as estimativas para 2024 caíram de 4,13% para 3,98%, e as de 2025 foram de 4% para 3,8%.

Uma eventual alteração nas metas poderia mudar esse cenário. “A mudança de meta neste momento em que o Banco Central está conseguindo ancorar as expectativas pode, sim, levar a uma mudança para cima nas expectativas”, diz Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos.

“Temos que lembrar sempre que inflação mais alta é mais prejudicial aos mais necessitados do que os juros mais altos, e que a cultura inflacionária brasileira ainda resiste, pelo nosso passado de hiperinflação”, afirma.

Mudança no regime de apuração de metas divide economistas

A eventual mudança no regime de apuração das metas divide economistas. Pompermaier, por exemplo, vê com bons olhos a possibilidade.

“Achamos saudável a discussão sobre a mudança de horizonte da meta para amortecer eventuais choques inflacionários”, diz. “Ao invés de olhar a inflação em períodos anuais fechados, alarga-se o horizonte para a perseguição da meta, podendo suavizar a necessidade de choques de política monetária”, completa, ressaltando que a prática é adotada em alguns países.

Leal de Barros, da Ryo Asset, considera que a melhor decisão do CMN seria manter o sistema de metas exatamente como é hoje. “Tem choque [de preços] que precisa de mais tempo, tem choque que precisa de menos tempo. Então essa decisão de quanto tempo o Banco Central vai ter de trabalhar para trazer a inflação para a meta é uma decisão que deveria ser do próprio Banco Central”, diz.

Para Nilson Teixeira, ex-economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, uma troca não faz sentido no atual momento. “A resposta do Copom tem sido calibrada para garantir o cumprimento da meta em um prazo que não cause impacto excessivamente negativo na atividade”, escreveu o economista no jornal “Valor Econômico”.

“Dessa forma, a substituição da inflação IPCA como meta por um de seus núcleos ou a transformação dessa meta em um objetivo contínuo – em vez de ser considerado apenas o ano-calendário – não faz sentido no atual momento. Além disso, o conceito precisa ser simples e de fácil compreensão pela sociedade: o núcleo e compromissos contínuos são mais abstratos e de difícil entendimento”, acrescentou.

À CNN Brasil, o Ministério da Fazenda declarou ser favorável à alteração no horizonte das metas. A pasta afirmou ao veículo que, em caso de “choques exógenos”, uma meta contínua permitiria ao BC “utilizar instrumentos disponíveis dentro do horizonte relevante para direcionar as expectativas de forma suavizada”.

“Em recente avaliação da política econômica brasileira, o corpo técnico do FMI [Fundo Monetário Internacional] indica a superioridade de um arranjo com metas não vinculadas ao ano-calendário e que tenham sua consecução no horizonte relevante da política monetária”, declarou ainda o ministério, em nota.

Maioria dos economistas acredita que CMN mudará sistema de metas de inflação

Um levantamento feito pela Warren Rena com 108 gestores, estrategistas e outros economistas do mercado no fim de maio mostrou que apenas 11% dos respondentes acreditam na manutenção do sistema de metas por ano-calendário. Para 48%, o atual modelo será substituído pelo de meta contínua, enquanto 41% preveem a adoção de metas de média móvel de médio prazo.

Entre os que acreditam que a meta por ano-calendário será mantida, 50% esperam mudanças numéricas nas metas de inflação para 2024 e 2025, enquanto a outra metade acredita na manutenção dos atuais objetivos.

“Ao não fazer mudanças, o próprio governo se beneficiaria”, diz Leal de Barros. “A expectativa de inflação está mais alta, e os juros estão mais altos na curva, porque o mercado colocou no preço o risco de ter alguma mudança. Se não houver, tende-se a reduzir a inflação implícita na curva”, explica.

“Para o governo, que quer tanto que o juro caia, essa deveria ser a estratégia ótima: não fazer mudança alguma. Mas a gente já viu várias decisões que o governo tem tomado que não são racionais”, avalia. “Como é muito óbvio que não fazer nada é a melhor coisa, mas esse tema continua na mesa, o governo passa um sinal de que ainda tem um interesse oculto de fazer alguma mudança.”

Para Gustavo Cruz, da RB Investimentos, que considera justo o patamar das atuais metas de inflação, há meios de se discutir alterações sem que haja prejuízo às expectativas do mercado. “Sair criticando o presidente do BC, o que está sendo feito, estimular protestos, não é o melhor dos caminhos”, diz.

“Promover fóruns, trazer debates, sugerir isso, mas de forma conciliadora, aí é algo mais palpável. Talvez se a condução tivesse sido mais amistosa, não teria demorado tanto para cortar juros”, completa.

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