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Política monetária

Mercado aposta em alta mais forte dos juros; o que influencia a decisão do BC

Mercado aposta em alta mais forte dos juros; o que influencia a decisão do BC
Mercado aposta que o Banco Central vai acelerar a alta dos juros nesta semana. (Foto: Ilustração: Vandré Kramer/Gazeta do Povo com DALL-E)

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O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) se reúne nesta terça e quarta-feira para fixar a taxa Selic, que influencia boa parte do custo do crédito no Brasil. Na segunda-feira (4), os contratos de opções do Copom, negociados na B3, indicavam uma probabilidade de 90,5% de aumento de 0,5 ponto percentual no juro básico, enquanto a chance de uma alta de 0,75 ponto era de 6,5%. Poucas eram as apostas de manutenção, alta de 0,25 ponto ou então de 1 ponto.Uma alta de 0,5 ponto representaria uma aceleração no ciclo de alta da Selic. Na reunião anterior, quando o Copom deu início ao ajuste, o aumento foi de 0,25 ponto, para 10,75% ao ano.

Analistas consultados pela Gazeta do Povo apontam que a decisão do colegiado do Banco Central será influenciada por cinco fatores principais:

  • o crescimento robusto da atividade econômica;
  • a inflação persistente;
  • as expectativas inflacionárias desancoradas;
  • maiores gastos por parte do governo; e
  • a situação política e econômica dos Estados Unidos.

O novo aumento vai reforçar que o Brasil está na contramão de economias da América Latina e do mundo. Essas seguem reduzindo os juros. O país tem a segunda maior taxa real (já descontada a inflação) do mundo, inferior apenas à da Rússia, segundo a consultoria MoneYou.

Economia aquecida com consumo em alta

As expectativas de crescimento econômico vêm subindo nas últimas semanas. Dados do Banco Central mostram que, no início do ano, a mediana das estimativas para a expansão do PIB em 2024 era de 1,55%. O ponto médio das projeções chegou a 2% em abril e ultrapassou 3% em setembro, chegando agora a 3,1%.

O crescimento é impulsionado principalmente pelo aumento do consumo das famílias, que em parte é sustentado por estímulos fiscais, à custa da deterioração das contas públicas. Até agosto, o Brasil acumulava 15 meses consecutivos de déficit primário.

Economistas do Rabobank também destacam o mercado de trabalho aquecido, a expansão na produção industrial – especialmente em bens de capital e intermediários – e os investimentos estrangeiros diretos no país. Apesar de terem apresentado no primeiro semestre queda em relação ao mesmo período do ano passado, eles foram de US$ 32,2 bilhões, o segundo maior volume do mundo, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

"Esses elementos criam um cenário de demanda aquecida, mesmo diante de pressões inflacionárias e incertezas fiscais, sustentando o aumento das projeções de crescimento do PIB para 2024", explicam.

Inflação persistente pressiona juros

Outro fator apontado por especialistas que contribui para novas altas de juros é a persistência da inflação. Condições climáticas adversas afetaram os preços de alimentos e energia, e o IPCA-15 de outubro, prévia da inflação oficial, registrou alta de 4,47% em 12 meses, o nível mais elevado desde março.

José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, afirma que esse resultado reforça o cenário de uma economia superaquecida. Ele diz que o elevado nível de atividade econômica e a baixa taxa de desemprego alimentam as pressões inflacionárias causadas pela política fiscal expansionista do governo.

Segundo o boletim Focus divulgado nesta segunda-feira pelo Banco Central, as expectativas de inflação para 2024 aumentaram pela quinta semana consecutiva, com a mediana das projeções para o IPCA deste ano em 4,59%, superando o teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)."O Banco Central pode ser obrigado a reavaliar a velocidade de cortes na taxa de juros, pois essa pressão inflacionária pode afetar o câmbio e as expectativas de mercado", explica Jefferson Laatus, estrategista-chefe do grupo Laatus.

Expectativas de inflação também se distanciam da meta

As expectativas de inflação também estão se distanciando da meta definida para 2024 e para o período entre 2025 e 2027. Esse cenário reduz o espaço para cortes na taxa de juros em 2025. Nas últimas quatro semanas, as projeções para a Selic ao fim do próximo ano passaram de 10,75% para 11,50%. As previsões para 2026 e 2027 também subiram, para 9,5% e 9,25%, respectivamente.

Arnaldo Lima, economista da Polo Capital, aponta que essa alta nas projeções reflete o clima de incerteza econômica. "O mercado aguarda com expectativa o anúncio de medidas para conter as despesas obrigatórias, ainda mais com o cancelamento da viagem do ministro Haddad para a Europa, indicando urgência no governo em estabilizar a economia."

Segundo ele, mais importante do que o anúncio é a viabilidade de aprovação das medidas. “Por se tratar de uma PEC, poderá efetivamente fortalecer o arcabouço fiscal", diz.

Gastos do governo ajudam a aumentar juros

A tendência expansionista dos gastos do governo também contribui para a inflação, afetando as decisões do Copom, segundo especialistas. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, afirmou na semana passada, em Londres, que é difícil manter juros baixos sem a perspectiva de melhora fiscal.

Ele destacou que a implementação do arcabouço fiscal, no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mudou as metas fiscais, e contribuiu para a desancoragem das expectativas para as contas públicas.

Economistas do Itaú avaliam que há muito "ruído" em torno da questão fiscal, o que afeta as projeções de inflação, deprecia o real e pressiona os preços, elevando a taxa de juros.Para o Santander, a aprovação de uma redução de gastos de R$ 30 bilhões em 2025 poderia reverter o sentimento de incerteza e reduzir o risco “idiossincrático” do país. O Bradesco também destaca a importância de um plano consistente de contenção de gastos para manter a eficácia das políticas monetárias sobre o câmbio e a inflação.

Eleição e dados contraditórios nos EUA elevam pressão

Um fator que pressiona o dólar – e por consequência a inflação e os juros – é a campanha eleitoral nos Estados Unidos. A eleição presidencial é marcada pela disputa acirrada entre o ex-presidente Donald Trump, republicano, e a vice-presidente Kamala Harris, democrata.

"A possibilidade de vitória dos republicanos, vista como inflacionária para os EUA, pressiona para cima os rendimentos dos Treasuries (títulos do Tesouro americano), o que, por consequência, eleva as taxas brasileiras e o valor do dólar no Brasil", comenta Felipe Uchida, chefe do departamento de análises quantitativas da Equus Capital.

Além disso, o cenário econômico nos EUA mostra sinais opostos, dificultando a avaliação do Federal Reserve (Fed). Na sexta-feira, o PIB norte-americano mostrou desaceleração do crescimento, que passou de 3% no segundo trimestre para 2,8% no terceiro. Ao mesmo tempo, relatório mostrou que criação de empregos superou as expectativas.

Paula Zogbi, gerente de research da Nomad, afirma que esse cenário elimina a possibilidade de um "supercorte" de meio ponto percentual na taxa de juros norte-americana, como foi realizado na última reunião do Fed. Nova discussão sobre a taxa acontece na quarta e quinta, após as eleições.

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