O agronegócio se destaca entre os segmentos brasileiros que apostam nos drones| Foto: (Foto: Pixabay)

O potencial de utilização dos veículos aéreos não tripulados (ou Vants), mais popularmente conhecidos como drones, vem se consolidando em diversos segmentos por todo o mundo. Os planos de futuro são ambiciosos (com testes para delivery e logística em larga escala até transporte autônomo de passageiros), mas as perspectivas já carregam números promissores dobrando a esquina. Estudos da consultoria PwC apontam previsões da movimentação de US$ 127 bilhões no mercado global para 2020.

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Quando se fala de Brasil, a presença ainda é incipiente e o mercado engatinha, mas ganhou tração a partir de maio de 2017, impulsionado pelo aumento da segurança jurídica com a entrada em vigor da regulamentação do uso dos voadores no país, homologada pelo então presidente Michel Temer. Naquele ano, a cifra movimentada foi de R$ 300 milhões e saltou para R$ 500 milhões em 2018. O horizonte próximo é de crescimento de 50% ao ano com a multiplicação das aplicabilidades dos drones nos mais diversos segmentos.

O céu é o limite

Criada logo depois da regulamentação federal, a Set Drone, de São Paulo, triplicou de tamanho nesses dois anos oferecendo todo tipo de serviço e soluções a partir de imagens aéreas. O portfólio inclui usos já consagrados no segmento, como o acompanhamento para agricultura de precisão, mas traz também aplicações que surpreenderam até mesmo o diretor comercial da companhia, Cesar Parluto.

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"Nós fomos procurados por um treinador de maratona aquática. Eu pensei que ele queria só filmar os atletas, alguns que treinam para provas como a travessia do Canal da Mancha, grandes percursos, mas não era nada disso", revela; o que o treinador queria era garantir o traçado perfeito. "No mar, se o nadador está um grau errado ele gasta muita energia, perde tempo para corrigir a rota". Com o drone no ar e o treinador acompanhando o atleta em um standup paddle, as coordenadas passada por rádio fizeram o tempo de prova baixar em oito segundos. Nunca imaginava que a empresa seria contratada para isso. Nós estamos aprendendo agora, conforme vai passando o tempo, o que mais pode ser feito para inovar", contou o empresário à reportagem da Gazeta do Povo durante a conferência de inovação Innova Summit, realizada em Brasília com espaço dedicado ao segmento de aeronaves não tripuladas.

A lista de trabalhos segue com o acompanhamento da evolução de obras de concessionária de rodovias (que permitiu a detecção de riscos relacionados à segurança do trabalho), inspeções aéreas (reduzindo custos e riscos da atividade tradicional) e atuações no Porto de Santos, com o monitoramento para a contenção de vazamentos no abastecimento de navios e o uso de câmeras térmicas para identificar a aproximação de traficantes para o embarque clandestino de drogas de embarcações (que ocorre normalmente durante a noite).

Entraves

Em anos recentes, a "febre" do uso recreativo desse tipo de equipamento tem esfriado no Brasil, na contramão do crescimento comercial, mas o cenário local está "anos-luz" atrás do mercado dos grandes players externos, na avaliação de Parluto. "Estive na China recentemente, para a Feira Mundial de Tecnologia de Aeronaves Não Tripuladas. Eu voltei de lá muito feliz e muito triste ao mesmo tempo porque nós não temos drone aqui no Brasil, nós só temos brinquedo", exagera o diretor, para dar a dimensão da diferença entre os países.

"Lá eles tem equipamentos com autonomia de 6 horas de voo, com 290 quilos embarcados. Aqui no Brasil, hoje, a gente briga para ter 40, 50 minutos de autonomia. Na China, eles já estão mapeando todo o solo de Pequim para fazer entrega, logística com drones. Nós, no Brasil, até temos tecnologia para fazer isso, mas não temos tecnologia em infraestrutura: a gente não conseguiu nem enterrar a nossa fiação ainda", lista o empresário do segmento ao pontuar entraves.

O principal obstáculo é legislação, que "sempre vai estar um passo atrás da aplicabilidade, porque o uso começa a acontecer é preciso definir controles para evitar riscos", avalia. Apesar da admitida necessidade de rigor na segurança, o empresário avalia que se não for bem equacionada acaba por impedir a realização integral das potencialidades da tecnologia. Como exemplo dessa análise, o empresário cita os atuais raios de voo autorizados. "Nós só temos uma aerenave que tem permissão para voos além da linha divisada. Com o resto eu só posso ficar dentro de um raio de 500 metros, que é onde eu consigo ter a visualização do drone. Acontece que hoje qualquer drone profissional tem capacidade para ir a 2 km de altura e 7 a 9 km de distância. Então essa legislação [mais flexível] é essencial para que a tecnologia realmente aflore", conclui.

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*A repórter viajou a convite da organização do evento.