Otimismo e frustração andam juntos no mercado de capitais brasileiro no início de 2010, à medida que, animadas com a retomada da economia, empresas domésticas voltam a testar o apetite do investidor por ofertas de ações.

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Os primeiros números apontam uma recuperação visível, porém irregular. Ao mesmo tempo em que companhias enfileiram pedidos de registro de operações na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), outras decidem adiar ou suspender os planos, enquanto um terceiro grupo leva as operações a cabo, mas recebem pelos papéis vendidos menos ou muito menos do que planejavam.

Segundo dados da CVM, as oito ofertas de ações realizadas de janeiro a março tiveram giro de quase 10,9 bilhões de reais. É um avanço considerável em relação à solitária operação da Redecard no mesmo intervalo de 2009, que somou 2,2 bilhões de reais, mas muito distante das dezenas de bilhões dos anos anteriores à crise.

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Ao verem sinais pouco animadores do mercado, companhias que já estavam com a oferta na rua decidiram não pagar para ver. Foi o caso de Cruzeiro do Sul, Metalfrio, M. Dias Branco e International Meal Company, dona da rede Viena de restaurantes, que adiaram ou simplesmente cancelaram os planos de vender ações.

A JBS eliminou a tranche secundária da oferta pública de ações em análise na CVM.

E quem preferiu seguir até o fim pagou caro por isso. Das cinco companhias que estrearam no pregão da Bovespa este ano, a concessionária de estradas Ecorodovias foi a única a conseguir vender papéis dentro da faixa estimada de preços. As demais amargaram valores muito inferiores aos que esperavam.

Para profissionais do mercado de capitais ouvidos pela Reuters, a postura ainda defensiva de investidores internacionais, que absorveram cerca de 70 por cento dos papéis vendidos em ofertas públicas desde o início do boom desse mercado no Brasil, em 2004, explica esse cenário ainda turvo.

Não é para menos. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o prejuízo do mercado financeiro global após a crise agravada em setembro de 2008, incluindo a derrocada das bolsas, supera os 3 trilhões de dólares. Nas bolsas, as empresas novatas foram as que mais perderam. Na Bovespa, as ações de algumas companhias chegaram a cair 90 por cento.

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"Isso ainda vai continuar volátil por algum tempo, por causa dos problemas lá fora", disse o diretor-executivo do BTG Pactual, um dos bancos que mais coordenaram ofertas no país em 2010 até o momento, Sergio Cutolo.

Este ano, no entanto, o conservadorismo tem surpreendido até profissionais mais experientes de bancos de investimentos, para quem as chances de sucesso em IPOs (ofertas iniciais de ações, na sigla em inglês) tendia a se concentrar em companhias de grande porte vinculadas a nomes conhecidos.

Em 2010, a fila de malogros incluiu a Multiplus, braço de fidelização de clientes da gigante aérea TAM, e a empresa de estaleiros OSX, que impôs ao bilionário Eike Batista o primeiro fracasso em estreia na bolsa com suas empresas "X" pré-operacionais.

"É uma fase de transição que provoca movimentos erráticos, mas que antecipa a normalização completa do mercado", afirmou o presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Marcelo Giufrida.

EMPRESAS FAZEM FILA

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Na esperança de que o crescimento esperado superior a 5 por cento da economia brasileira em 2010 avive o interesse de investidores, companhias ligadas ao mercado doméstico aumentam a fila no guichê da CVM. Com estreia no pregão já marcada para este mês estão a Mills Engenharia e a transportadora Julio Simões. Além disso, a incorporadora Even, que já está na bolsa, precifica no próximo dia 15 sua oferta primária de ações com objetivo de reforçar o caixa.

Outros seis IPOs devem ter o calendário das ofertas divulgado em breve.

A ideia é chegar ao mercado antes de operações gigantescas planejadas para acontecer nos próximos meses, incluindo a megacapitalização da Petrobras para financiar os investimentos no pré-sal, a do Banco do Brasil, a da mina Casa de Pedra (da CSN), e a do grupo EBX (holding de Eike).

Com isso, alguns dos mais entusiasmados não economizam no discurso.

"Em 2010, não vamos ficar no vermelho em relação a 2007", disse o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, referindo-se ao ano recorde de emissões de ações no Brasil, quando o volume superou os 75 bilhões de reais.

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Mas esse sentimento não é unânime. Crendo que muitos investidores seguirão na defensiva até que sejam equacionadas questões relevantes --como a crise fiscal na zona do euro, a retomada consistente das economias desenvolvidas e até mesmo as eleições presidenciais no Brasil deste ano-- há quem veja o horizonte com mais prudência.

"Temos um acúmulo de operações muito grandes num prazo relativamente curto; pode ter uma disputa por esses recursos", ponderou Giufrida, da Anbima.