Os seguidos reajustes de preço dos carros novos e o fim do desconto do IPI para esses veículos estão fazendo a alegria do mercado de usados. Em 2014, enquanto a economia andou de lado e as vendas de novos recuaram pelo segundo ano seguido, os revendedores de usados comemoraram o quinto avanço anual consecutivo. E a expectativa é de mais crescimento em 2015.
As vendas do segmento aumentaram 6,5% em todo o país no ano passado, o melhor desempenho desde 2011, segundo a série histórica da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O avanço no Paraná foi parecido, de 6,3%, de acordo com a Assovepar, que reúne os revendedores do estado.
"Estudos de mercado indicam que devemos ter uma evolução próxima de 5% neste ano. Está havendo uma migração do consumidor de novos para usados", diz Antônio Deggerone, vice-presidente da Assovepar e dono da revendedora Exclusiva.
Um dos indícios dessa migração está na relação entre as vendas de cada segmento. Até meados da década passada eram negociados mais de quatro automóveis usados a cada zero-quilômetro que saía da concessionária. Esse índice caiu gradualmente, conforme o aumento da renda e a ampliação do crédito estimulavam a compra de veículos novos, mas voltou a subir nos últimos anos. Do piso de 2,3 usados por novo registrado em 2009, época da primeira redução do IPI, chegou à marca de três por um no ano passado, a maior desde 2007.
"Como o acesso ao crédito ficou mais difícil, quem tinha a intenção de comprar um carro zero de R$ 40 mil ou R$ 50 mil passou a procurar um usado de R$ 20 mil ou R$ 30 mil", diz César Lançoni, dono da Cabral Automóveis. É verdade que o crédito também ficou mais restrito para os carros de segunda mão. Mas, como a prestação é mais baixa, cabe mais fácil no orçamento do comprador e o financiamento tem mais chances de ser aprovado.
Crédito
Segundo lojistas consultados pela Gazeta do Povo, os bancos já não financiam compras com entrada de menos de 20%. Muitas vezes, exigem parcela inicial ainda maior, de 30% ou 40%. "Antigamente, 70% dos carros usados eram financiados. Ano passado, foram só 35%", diz Ilídio Gonçalves dos Santos, presidente da Fenauto, a federação nacional dos revendedores.
O dirigente não se queixa das restrições. "Os bancos estão agindo com mais responsabilidade. É melhor que deixar a inadimplência crescer", diz. "Para nós, é interessante que o cliente financie em no máximo 36 vezes, porque vai trocar de carro mais cedo e girar o mercado. Quando comprava sem entrada e parcelava em 60 meses, ele não conseguia fazer a troca tão cedo."