Somente um empreendimento residencial novo, com quatro torres de apartamentos, está sendo construído na Mateus Leme. Mas, apesar desse desenvolvimento mais lento, a rua não deixou de lucrar com o aquecimento do mercado imobiliário que influenciou toda a capital a partir de 2009.
INFOGRÁFICO: Confira as restrições para a construção de imóveis na Mateus Leme
O comerciante Gerson Sawa, dono de um bar próximo à rua Lívio Moreira, viu o preço do seu imóvel de mais de 600 m², herdado da família, subir mais de 100% nos últimos sete anos. "Em 2006 tive uma avaliação de R$ 480 mil pela propriedade. Recentemente, recebi oferta de mais de R$ 1 milhão", comenta.
Sawa observa que a Mateus Leme não recebe novos moradores. Os empreendimentos residenciais recentes ficam nas vias próximas, diz. "Tem muitos condomínios novos aqui perto. Vejo mais gente circulando, pegando ônibus e frequentando o comércio, mas na rua, mesmo, só tem aqueles prédios sendo construídos perto do parque São Lourenço", afirma.
Carlos Takeda, proprietário da Imobiliária Takeda, está na região há mais de 50 anos e argumenta que o pouco interesse do mercado imobiliário pela via tem motivos históricos. "Ela passa por bairros antigos, onde havia chácaras de imigrantes poloneses, alemães e italianos. Quando Curitiba começou a expandir, a busca foi por terrenos planos. Os bairros da região sul, que são mais planos, foram loteados primeiro. Por aqui, o terreno é muito dobrado e também era mais difícil dividir as áreas", analisa.
Por outro lado, Takeda acredita que a escassez de terrenos em outras regiões da cidade pode, cedo ou tarde, impulsionar o desenvolvimento da Mateus Leme.
Cara de bairro, trânsito de cidade grande
A Mateus Leme foi parte da antiga Estrada do Assungui e leva até a Rodovia dos Minérios. Diante do fluxo intenso de veículos, fica evidente que a rua, mesmo abrigando imóveis antigos e prédios baixos que dão um aspecto de bairro tranquilo voltou à sua vocação original de via de ligação entre regiões e municípios.
O movimento se explica pela extensão e localização da rua, que passa por seis bairros São Francisco, Centro Cívico, Ahú, Bom Retiro, São Lourenço e Abranches. Sua continuação leva a três municípios da região metropolitana: Almirante Tamandaré, Rio Branco do Sul e Cerro Azul.
Moradores reclamam do trânsito que tira o sossego à noite e nos finais de semana. "De noite é barulheira de carros e gente nos bares, e no fim de semana tem engarrafamento devido ao shopping", diz um morador.
Gerson Sawa, proprietário do bar Primavera, diz que há pelo menos dez anos ouve boatos de que o trânsito será modificado. "Cansei de ouvir falar em binário, mão única, via rápida, mas nada acontece", diz. O Ippuc diz que não há planos para mudanças.
Em busca de um comprador de "fôlego"
Três grandes terrenos que somam 4,5 mil m² estão à venda pela Imobiliária Takeda na esquina das ruas Mateus Leme e Brasilino Moura. A boa localização pode animar compradores com interesses comerciais. "O zoneamento é ZR-2, que permitiria até dois pavimentos. Por outro lado, a região permite uso comercial total, o que facilita o uso do terreno", explica Carlos Takeda, dono da imobiliária. "Nesse terreno caberia um hipermercado ou uma grande loja de departamentos. É esse tipo de comprador que procuramos." A área tem potencial, mas compete com dezenas de outros imóveis em oferta: a rua está repleta de placas de "vende" e "aluga".