A via tem três empreendimentos corporativos novos – como o hospital da foto acima – e um conjunto de edifícios residenciais| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Atrás dos muros

Casas antigas e terrenos abandonados escondem histórias de famílias

As residências deterioradas e as áreas abandonadas, com árvores e mato crescendo solto, além de inúmeros imóveis com placa de "aluga" ou "vende", dão um aspecto triste à Mateus Leme. Esses endereços escondem outro motivo apontado por moradores e urbanistas para a falta de desenvolvimento da via: muitos imóveis e terrenos da rua pertencem a famílias que ocuparam a região nos séculos passado e retrasado.

Boa parte dessas áreas está em disputa judicial entre diversos herdeiros, enquanto outras foram abandonadas e ganharam ocupação irregular. Wlamir Branco, proprietário do Armazém Fantinato, conta que tentou alugar um terreno próximo, que serviria de estacionamento para o bar e restaurante. Mas esbarrou na discussão entre os herdeiros e o negócio não foi fechado.

Morador solitário

Um caso emblemático é o prédio de dois andares na esquina com a Rua Lívio Moreira, no bairro São Lourenço. O imóvel, que no térreo serviu para comércio em décadas passadas, tem alguns apartamentos no segundo andar. Janelas quebradas, sujeira acumulada e fachada descascada dão a impressão de abandono completo, mas ali vive um morador solitário. É um dos filhos da proprietária do prédio, falecida há poucos anos. Os irmãos querem vender o imóvel, mas ele se recusa a sair dali.

CARREGANDO :)

A rua que parou no tempo

Mateus Leme é bem localizada mas não atrai empreendimentos imobiliários nem comércio de porte. Zoneamento e perfil dos terrenos estão entre os motivos

Leia matéria completa e confira um slideshow que mostra a situação da rua

A Mateus Leme está repleta de residências deterioradas e áreas abandonadas, com mato crescendo solto, além de inúmeras placas de

Somente um empreendimento residencial novo, com quatro torres de apartamentos, está sendo construído na Mateus Leme. Mas, apesar desse desenvolvimento mais lento, a rua não deixou de lucrar com o aquecimento do mercado imobiliário que influenciou toda a capital a partir de 2009.

Publicidade

INFOGRÁFICO: Confira as restrições para a construção de imóveis na Mateus Leme

O comerciante Gerson Sawa, dono de um bar próximo à rua Lívio Moreira, viu o preço do seu imóvel de mais de 600 m², herdado da família, subir mais de 100% nos últimos sete anos. "Em 2006 tive uma avaliação de R$ 480 mil pela propriedade. Recentemente, recebi oferta de mais de R$ 1 milhão", comenta.

Sawa observa que a Mateus Leme não recebe novos moradores. Os empreendimentos residenciais recentes ficam nas vias próximas, diz. "Tem muitos condomínios novos aqui perto. Vejo mais gente circulando, pegando ônibus e frequentando o comércio, mas na rua, mesmo, só tem aqueles prédios sendo construídos perto do parque São Lourenço", afirma.

Carlos Takeda, proprietário da Imobiliária Takeda, está na região há mais de 50 anos e argumenta que o pouco interesse do mercado imobiliário pela via tem motivos históricos. "Ela passa por bairros antigos, onde havia chácaras de imigrantes poloneses, alemães e italianos. Quando Curitiba começou a expandir, a busca foi por terrenos planos. Os bairros da região sul, que são mais planos, foram loteados primeiro. Por aqui, o terreno é muito ‘dobrado’ e também era mais difícil dividir as áreas", analisa.

Por outro lado, Takeda acredita que a escassez de terrenos em outras regiões da cidade pode, cedo ou tarde, impulsionar o desenvolvimento da Mateus Leme.

Publicidade

Cara de bairro, trânsito de cidade grande

A Mateus Leme foi parte da antiga Estrada do Assungui e leva até a Rodovia dos Minérios. Diante do fluxo intenso de veículos, fica evidente que a rua, mesmo abrigando imóveis antigos e prédios baixos – que dão um aspecto de bairro tranquilo – voltou à sua vocação original de via de ligação entre regiões e municípios.

O movimento se explica pela extensão e localização da rua, que passa por seis bairros – São Francisco, Centro Cívico, Ahú, Bom Retiro, São Lourenço e Abranches. Sua continuação leva a três municípios da região metropolitana: Almirante Tamandaré, Rio Branco do Sul e Cerro Azul.

Moradores reclamam do trânsito que tira o sossego à noite e nos finais de semana. "De noite é barulheira de carros e gente nos bares, e no fim de semana tem engarrafamento devido ao shopping", diz um morador.

Gerson Sawa, proprietário do bar Primavera, diz que há pelo menos dez anos ouve boatos de que o trânsito será modificado. "Cansei de ouvir falar em binário, mão única, via rápida, mas nada acontece", diz. O Ippuc diz que não há planos para mudanças.

Publicidade

Em busca de um comprador de "fôlego"

Três grandes terrenos que somam 4,5 mil m² estão à venda pela Imobiliária Takeda na esquina das ruas Mateus Leme e Brasilino Moura. A boa localização pode animar compradores com interesses comerciais. "O zoneamento é ZR-2, que permitiria até dois pavimentos. Por outro lado, a região permite uso comercial total, o que facilita o uso do terreno", explica Carlos Takeda, dono da imobiliária. "Nesse terreno caberia um hipermercado ou uma grande loja de departamentos. É esse tipo de comprador que procuramos." A área tem potencial, mas compete com dezenas de outros imóveis em oferta: a rua está repleta de placas de "vende" e "aluga".