Atrás dos muros
Casas antigas e terrenos abandonados escondem histórias de famílias
As residências deterioradas e as áreas abandonadas, com árvores e mato crescendo solto, além de inúmeros imóveis com placa de "aluga" ou "vende", dão um aspecto triste à Mateus Leme. Esses endereços escondem outro motivo apontado por moradores e urbanistas para a falta de desenvolvimento da via: muitos imóveis e terrenos da rua pertencem a famílias que ocuparam a região nos séculos passado e retrasado.
Boa parte dessas áreas está em disputa judicial entre diversos herdeiros, enquanto outras foram abandonadas e ganharam ocupação irregular. Wlamir Branco, proprietário do Armazém Fantinato, conta que tentou alugar um terreno próximo, que serviria de estacionamento para o bar e restaurante. Mas esbarrou na discussão entre os herdeiros e o negócio não foi fechado.
Morador solitário
Um caso emblemático é o prédio de dois andares na esquina com a Rua Lívio Moreira, no bairro São Lourenço. O imóvel, que no térreo serviu para comércio em décadas passadas, tem alguns apartamentos no segundo andar. Janelas quebradas, sujeira acumulada e fachada descascada dão a impressão de abandono completo, mas ali vive um morador solitário. É um dos filhos da proprietária do prédio, falecida há poucos anos. Os irmãos querem vender o imóvel, mas ele se recusa a sair dali.
A rua que parou no tempo
Mateus Leme é bem localizada mas não atrai empreendimentos imobiliários nem comércio de porte. Zoneamento e perfil dos terrenos estão entre os motivos
Leia matéria completa e confira um slideshow que mostra a situação da rua
Somente um empreendimento residencial novo, com quatro torres de apartamentos, está sendo construído na Mateus Leme. Mas, apesar desse desenvolvimento mais lento, a rua não deixou de lucrar com o aquecimento do mercado imobiliário que influenciou toda a capital a partir de 2009.
INFOGRÁFICO: Confira as restrições para a construção de imóveis na Mateus Leme
O comerciante Gerson Sawa, dono de um bar próximo à rua Lívio Moreira, viu o preço do seu imóvel de mais de 600 m², herdado da família, subir mais de 100% nos últimos sete anos. "Em 2006 tive uma avaliação de R$ 480 mil pela propriedade. Recentemente, recebi oferta de mais de R$ 1 milhão", comenta.
Sawa observa que a Mateus Leme não recebe novos moradores. Os empreendimentos residenciais recentes ficam nas vias próximas, diz. "Tem muitos condomínios novos aqui perto. Vejo mais gente circulando, pegando ônibus e frequentando o comércio, mas na rua, mesmo, só tem aqueles prédios sendo construídos perto do parque São Lourenço", afirma.
Carlos Takeda, proprietário da Imobiliária Takeda, está na região há mais de 50 anos e argumenta que o pouco interesse do mercado imobiliário pela via tem motivos históricos. "Ela passa por bairros antigos, onde havia chácaras de imigrantes poloneses, alemães e italianos. Quando Curitiba começou a expandir, a busca foi por terrenos planos. Os bairros da região sul, que são mais planos, foram loteados primeiro. Por aqui, o terreno é muito dobrado e também era mais difícil dividir as áreas", analisa.
Por outro lado, Takeda acredita que a escassez de terrenos em outras regiões da cidade pode, cedo ou tarde, impulsionar o desenvolvimento da Mateus Leme.
Cara de bairro, trânsito de cidade grande
A Mateus Leme foi parte da antiga Estrada do Assungui e leva até a Rodovia dos Minérios. Diante do fluxo intenso de veículos, fica evidente que a rua, mesmo abrigando imóveis antigos e prédios baixos que dão um aspecto de bairro tranquilo voltou à sua vocação original de via de ligação entre regiões e municípios.
O movimento se explica pela extensão e localização da rua, que passa por seis bairros São Francisco, Centro Cívico, Ahú, Bom Retiro, São Lourenço e Abranches. Sua continuação leva a três municípios da região metropolitana: Almirante Tamandaré, Rio Branco do Sul e Cerro Azul.
Moradores reclamam do trânsito que tira o sossego à noite e nos finais de semana. "De noite é barulheira de carros e gente nos bares, e no fim de semana tem engarrafamento devido ao shopping", diz um morador.
Gerson Sawa, proprietário do bar Primavera, diz que há pelo menos dez anos ouve boatos de que o trânsito será modificado. "Cansei de ouvir falar em binário, mão única, via rápida, mas nada acontece", diz. O Ippuc diz que não há planos para mudanças.
Em busca de um comprador de "fôlego"
Três grandes terrenos que somam 4,5 mil m² estão à venda pela Imobiliária Takeda na esquina das ruas Mateus Leme e Brasilino Moura. A boa localização pode animar compradores com interesses comerciais. "O zoneamento é ZR-2, que permitiria até dois pavimentos. Por outro lado, a região permite uso comercial total, o que facilita o uso do terreno", explica Carlos Takeda, dono da imobiliária. "Nesse terreno caberia um hipermercado ou uma grande loja de departamentos. É esse tipo de comprador que procuramos." A área tem potencial, mas compete com dezenas de outros imóveis em oferta: a rua está repleta de placas de "vende" e "aluga".
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast