O mercado de trabalho brasileiro não está gerando vagas suficientes para absorver a população que está deixando a inatividade, afirmou nesta quinta-feira (29), Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, a taxa de desemprego atingiu 8,7% no trimestre até agosto, o maior nível da série da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012.
Nos três meses até agosto, a população fora da força de trabalho encolheu 0,4% em relação ao trimestre encerrado em maio. Isso significa que 224 mil pessoas deixaram a inatividade e passaram a trabalhar ou procurar emprego.
“O mercado de trabalho não está absorvendo a população que está deixando a população fora da força de trabalho”, notou Azeredo. “Houve queda de mais de 1 milhão de empregos com carteira em um ano. Isso é perda de estabilidade do domicílio. A busca por estabilidade faz com que mais pessoas sigam para o mercado de trabalho, que não está contratando, pelo contrário”, detalhou.
Desemprego sobe para 8,7% em agosto, maior nível da série histórica
Índice mostra piora no mercado de trabalho, com queda na renda
Leia a matéria completaNovas vagas
No trimestre até agosto, foram geradas 24 mil vagas em relação aos três meses até maio, estabilidade (0,0%) que figura como o pior resultado para os trimestres até agosto na série. Por outro lado, o contingente de desocupados recebeu mais 647 mil pessoas, um avanço de 7,9% no período. Segundo o coordenador do IBGE, trata-se de uma alta atípica e “expressiva”.
A queda da população inativa é justificada tanto por jovens que antecipam a entrada no mercado de trabalho quanto por adultos mais velhos (principalmente mulheres) que não têm emprego e precisam sair atrás de uma vaga em função dessa perda de estabilidade, explicou Azeredo. “Eles saem para tentar compor a renda do domicílio”, disse.
Na comparação anual, o movimento também é percebido. A população fora da força de trabalho ficou estável (0,0%), com 2 mil pessoas a menos no trimestre até agosto ante igual período de 2014. Até o ano passado, esse contingente crescia a taxas próximas a 3%, beirando um incremento de 2 milhões de pessoas nesse tipo de confronto.
Enquanto isso, a população desocupada avançou 29,6% em relação ao trimestre até agosto de 2014, ou seja, 2,008 milhões de pessoas a mais procurando emprego sem encontrar.
Emprego formal
Cimar Azeredo afirmou nesta quinta que a redução do emprego formal tem se espalhado por todas as atividades. No trimestre até agosto, o número de ocupados com carteira assinada no setor privado diminuiu em 1,089 milhão em relação a igual período de 2014, um recorde na Pnad Contínua.
“Em geral, todos os grupamentos estão perdendo formalização, principalmente o comércio, que é canal de entrada para aquele que perde o emprego e acaba montando o próprio negócio”, disse Azeredo.
O setor de comércio gerou 280 mil vagas no trimestre até agosto em relação a igual período do ano passado. O aumento não chega a ser virtuoso, já que decorre da perda de carteira de trabalho, que garantia uma “rede de proteção” ao funcionário (com FGTS e seguro-desemprego), em outras atividades. Por outro lado, a saída encontrada pelos brasileiros gera renda e impede um aumento ainda mais intenso da taxa de desocupação, lembrou o coordenador.
A indústria e a construção também estão perdendo parte do grau de formalização conquistado nos últimos anos. Embora a Pnad Contínua não meça ainda o número de trabalhadores com carteira em cada uma das atividades, Azeredo explicou que a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que traça um panorama do mercado de trabalho nas seis principais regiões metropolitanas do País, já mostra essa tendência.
Na indústria, onde a formalização costuma ser grande, o emprego encolheu 3,5% no trimestre até agosto ante igual período de 2014. Isso significa que 472 mil pessoas foram dispensadas nesse intervalo. Já na construção, a queda foi de 2,9%, com 222 mil pessoas demitidas na mesma base de comparação.
Trabalho doméstico
O trabalho doméstico voltou a crescer em 2015, um indicador desfavorável, afirmou Cimar Azeredo. Segundo ele, a alta é resultado de falta de oportunidades e de demissões em outras atividades.
“As pessoas não nascem com o sonho de ser empregada doméstica. Elas não estão tendo oportunidade de se inserir ou, como estão sendo dispensadas, recorrem ao trabalho doméstico”, disse Azeredo.
Em anos anteriores, o emprego doméstico encolheu devido à maior escolaridade dos brasileiros e do crescimento de oportunidades de emprego. Isso beneficiou principalmente mulheres jovens, que conseguiram se inserir no mercado de trabalho por meio de outras atividades, inclusive com carteira assinada. “Isso está se desfazendo agora”, notou o coordenador.
No trimestre até agosto, o número de trabalhadores domésticos no país chegou a 6,037 milhões de pessoas, alta de 1,4% em relação a igual período do ano passado. Nesta base, foram criados 86 mil postos. “A vaga surge em função de (baixa) qualificação e da faixa de rendimento baixa de que ela vem”, explicou Azeredo.
O rendimento do trabalhador doméstico, por sua vez, está encolhendo. A queda foi de 0,1% em relação ao trimestre encerrado em agosto de 2014. Já no confronto com os três meses até maio deste ano, o recuo foi mais intenso, de 2,7%. “É maior oferta de mão de obra e falta de condições das pessoas em pagar por esse trabalho”, disse o coordenador.
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