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País criou mais de 1 milhão de empregos formais em cinco meses e a taxa de desemprego está caindo. Porém, os salários não reagem da mesma forma.| Foto: Tony Winston/Agência Brasília

O mercado de trabalho está reagindo, mas as remunerações não estão acompanhando essa tendência. O descompasso é apontado pelos dois principais levantamentos de emprego do país, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que registra o trabalho formal, e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que busca medir o desempenho de todos os tipos de ocupação.

Segundo o Caged, do Ministério do Trabalho e Previdência, a economia brasileira criou 1,05 milhão de postos de trabalho com carteira assinada nos cinco primeiros meses do ano, dando continuidade à forte recuperação iniciada em 2021. Só que as remunerações não estão acompanhando esta tendência. O salário médio de contratação teve uma queda real (descontada a inflação) de 5,6% no comparativo entre maio de 2021 e de 2022.

A Pnad Contínua, do IBGE, mostra situação similar. Segundo a pesquisa, a população ocupada aumentou 10,6% no comparativo entre os trimestres móveis encerrados em maio de 2021 e 2022, passando de 88,2 milhões para 97,5 milhões de pessoas, e o desemprego caiu para 9,8%, o menor patamar para esse período do ano desde 2015. Porém, a remuneração real encolheu 7,2% em um ano. No período, as maiores perdas salariais reais ocorreram entre empregados do setor público (-11,2%) e empregadores (-12,3%).

Inflação é um dos maiores vilões

Um dos principais vilões é a inflação, que atingiu 12,04% em 12 meses até junho, segundo o IPCA-15. “Quem está trabalhando não consegue recuperar as perdas salariais. Poucas negociações garantem aumento real”, diz o professor sênior da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e coordenador do boletim Salariômetro, Hélio Zylberstajn.

Apenas 16,2% das negociações coletivas nos últimos 12 meses resultaram em reajustes acima do INPC, principal indicador usado nos acordos.

Mas não é só o trabalho formal que sofre a influência da inflação. Rodolpho Tobler, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), aponta que os informais também são afetados porque têm dificuldades em repassar a alta nos preços. “As margens ficam mais apertadas”, diz. Entre os informais, a remuneração média real caiu 2,3%, segundo o IBGE.

Falta de dinamismo na economia também atrapalha

Outro complicador, segundo Zylberstajn, é a falta de dinamismo da economia, que impede que os trabalhadores tenham poder de barganha nas negociações salariais. “Isto reprime o avanço da massa de rendimentos”, diz o coordenador do Salariômetro, referindo-se ao conjunto de todos os pagamentos feitos aos trabalhadores ocupados.

A massa de rendimentos real não teve um desempenho tão robusto, ficando 4% abaixo do verificado no final de 2019, antes da pandemia. Segundo economistas do Bradesco, a queda nas remunerações também pode ser resultado de uma mudança na composição da população ocupada – com aumento de ocupações que pagam, em média, menos – ou de uma redução no salário real.

O professor da USP afirma que o encolhimento da massa de rendimentos cria duas implicações, uma de natureza micro e outra macroeconômica. “Há uma questão social: ao perderem o poder de compra, as famílias consomem menos. E este menor consumo, responsável por quase dois terços do PIB, inibe o crescimento da economia”, diz.

As expectativas não são favoráveis para o segundo semestre. O cenário deve demorar a melhorar, segundo o coordenador do Salariômetro, para quem o INPC deve rondar na casa dos dois dígitos por mais quatro ou cinco meses. “Há pouco espaço para ganhos reais. Para termos isso, a economia precisaria voltar a crescer e contratar mais.”

O problema não é recente, destaca Tobler, da FGV. “Mesmo antes da crise de 2014-6 estávamos com produtividade e crescimento baixos. E é um cenário que está se repetindo após os piores momentos da pandemia, afirma o pesquisador.

Outra trava para o crescimento é o aumento na taxa básica de juros, a Selic, que vem sendo elevada para combater a inflação e atualmente está em 13,25%, encarecendo, assim, grande parte dos empréstimos feitos no país. Segundo o pesquisador, também estão em jogo questões fiscais que podem segurar a atividade econômica, uma vez que o governo tem limitações nos gastos por causa do período eleitoral. Porém, o Executivo federal está buscando autorização do Congresso para abrir uma exceção e conseguir gastar quase R$ 39 bilhões na ampliação do Auxílio Brasil e do vale-gás e na criação de um voucher para caminhoneiros.

Retomada do mercado de trabalho se intensifica

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), braço do Ministério da Economia, aponta que os principais indicadores recentes do emprego no país demonstram que a trajetória de retomada do mercado de trabalho se intensificou ao longo dos últimos meses, combinando crescimento da população ocupada e redução da taxa de desocupação.

O órgão destaca que os dados mostram que a expansão da ocupação vem acontecendo de forma generalizada, abrangendo todas as regiões, segmentos etários e educacionais e setores da economia brasileira. No primeiro trimestre de 2022, o crescimento da população ocupada foi mais intenso entre os trabalhadores mais jovens e aqueles com ensino fundamental.

Mas há desafios a serem ultrapassados, aponta o órgão. O trabalho informal vem reagindo mais fortemente do que o formal. O montante de trabalhadores com carteira assinada cresceu 11,6% no comparativo entre os trimestres móveis encerrados em abril de 2021 e 2022. E o contingente de ocupados sem carteira avançou 20,8%. “São ocupações que têm remunerações menores”, diz Tobler.

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