Depois de criticado nos últimos tempos por uma suposta conivência com a alta da inflação, o Banco Central (BC) arrancou elogios de analistas do mercado pelo que chamaram de mudança de postura da autoridade monetária na forma de encarar os aumentos de preços. A mudança, a que se referem os especialistas, veio a público nesta quinta-feira (18) por meio da divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), realizada na semana passada e que terminou com o aumento de 0,50 ponto porcentual da taxa básica de juros, a Selic, de 8% para 8 5% ao ano.

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Do documento, segundo destacaram especialistas, o BC retirou o conteúdo do parágrafo 21 da ata anterior, por meio do qual a autoridade monetária se valia das mudanças estruturais da economia global para justificar recuo das taxas de juros nominal e neutra. Isso, para os especialistas, era uma justificativa para ancorar uma política de redução de juros que em nada contribuía para combater a inflação.

Para o economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, Alexandre Barbosa, o BC deve ter retirado o parágrafo 21 da ata atual por perceber uma reversão do ciclo econômico, especialmente nos Estados Unidos. A ata do Copom, de acordo com ele, indicou que a taxa neutra de juro que o País precisará daqui para frente terá que ser maior do que a anterior às mudanças na economia norte-americana.

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A taxa neutra com a qual o Sicredi trabalha é ainda de 4,5%. Segundo Barbosa, antes, embora houvesse divergências em relação à magnitude da taxa neutra, havia um consenso em torno da sua trajetória de queda. Agora é de que a taxa deverá subir.

A avaliação do diretor de Pesquisas e Estudos Macroeconômicos do Bradesco, Octavio de Barros, é que a ata mostra um BC se permitindo ser surpreendido por uma atividade econômica mais fraca mais à frente. Mas nem por isso um BC menos incisivo na sua determinação de elevar a taxa de juros para combater a inflação.

As mudanças, embora relevantes, não devem alterar o cenário de juros das instituições, que oscilam de 9,25% a 9,75% no fim do ano. Mas mostram um BC mais atento em combater a inflação e menos preocupado com o crescimento.

Outro ponto da ata que rendeu elogios foi o fato de que desta vez a autoridade monetária deixou de relativizar o repasse da alta do dólar para os preços de bens e serviços destinados ao consumidor. "Isso significa que o BC não se esforçará para jogar o dólar para a cotação de R$ 2,10. O resultado disso será o impacto sobre a inflação", previu Barbosa, do Sicredi.

A economista e sócia da Tendências, Alessandra Ribeiro, entende que o câmbio vai exercer um papel importante daqui para frente na condução da política monetária. "O Copom deixa espaço aberto, condicionado à evolução do câmbio, para subir a taxa básica a Selic nas próximas reuniões", afirmou, ao avaliar o parágrafo 25 da ata do Copom divulgada nesta manhã.

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Nesse parágrafo, o comitê destaca que a depreciação cambial constitui fonte de pressão inflacionária em prazos mais curtos, mas que os efeitos secundários em prazos mais longos podem e devem ser limitados pela condução da política monetária. No entanto, Alessandra disse que trabalha com um cenário de acomodação do câmbio em R$ 2,25 para o fim do ano.

O estrategista-chefe do banco alemão WestLB no Brasil, Luciano Rostagno, concorda com a análise dos colegas, reconhecendo que o BC se mostra mais interessado em combater a inflação e menos preocupado em promover o crescimento da economia. "Isso é importante porque na maior parte do tempo esta diretoria do Banco Central se mostrou mais focado no crescimento e mais conivente com a inflação acima do centro da meta."

O WestLB mantém a sua previsão de alta da Selic para 9,75% no fim do ano, mesmo considerando que o BC se mostrou mais preocupado em combater a inflação. "Estou confortável com minha projeção porque a ata indica mais aumento de juros e nós já estávamos com 9,75%", disse Rostagno, acrescentando que a tendência é a Selic se aproximar de dois dígitos, mas sem atingi-los.