O ministro da Economia, Paulo Guedes, em coletiva de imprensa concedida na terça-feira (11).| Foto: Edu Andrade/ME
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A saída de mais dois secretários especiais da equipe econômica do ministro Paulo Guedes, na terça-feira (11), acendeu o sinal de alerta no mercado financeiro. Ambos eram peças importantes nos planos do ministro: Paulo Uebel, secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, tinha como foco a reforma administrativa; Salim Mattar, da secretaria de Desestatização e Privatização, era responsável pela venda de estatais.

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Com a demissão dos dois – e de outros integrantes da equipe de Guedes neste um ano e meio de governo –, a preocupação é de que a agenda liberal, que inclui parcimônia nos gastos públicos e a realização de reformas estruturantes, esteja se esvaindo dentro do governo federal.

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Os próprios ex-secretários apontaram problemas no Executivo como motivos para a saída. No caso de Paulo Uebel, sabe-se que a reforma administrativa foi barrada pelo presidente Jair Bolsonaro. Salim Mattar se disse cansado da demora para que as privatizações seguissem adiante.

Além das demissões, outras sinalizações preocupam os investidores. Há consenso de que, por conta da pandemia, era dever do Executivo aumentar despesas. Especulações como as possibilidades de derrubada do teto de gastos e da postergação do estado de calamidade, entretanto, reforçam o temor de que a gastança continue mesmo depois da pandemia – o que seria temerário, na visão do mercado.

"Por conta da Covid-19, todos os países do mundo estão fazendo gastos vultosos. A questão é que há uma parcela da classe política no Brasil que demonstra interesse em expandir esses gastos para além de 2020. No fundo, a gente sabe que isso tem um componente político, que é continuar promovendo a recuperação da imagem do presidente, principalmente entre os mais pobres", avalia Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra.

As incógnitas se relacionam, por exemplo, ao programa Pró-Brasil, que deve dar o tom da ação do governo para a retomada da economia; e também à política social do governo depois do fim do auxílio emergencial. Nesse último caso, a possibilidade de que o novo programa do Executivo, o Renda Brasil, acabe expandindo gastos é um dos ingredientes que estimula o temor entre investidores.

"Faz sentido pensar nisso [no Renda Brasil] para depois da pandemia, mas a gente tem que fazê-lo de acordo com as nossas condições. Se for só um reempacotamento de gastos, para fazer algo mais focalizado, ótimo. Mas começar a gastar mais sem ter condição para isso começa a dar a percepção de que está se abandonando aquela ideia de responsabilidade fiscal. É uma trajetória bastante pessimista", analisa Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria.

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Liquidez e aceno de Bolsonaro ajudam a "anestesiar" mercado financeiro

Antes da abertura do mercado, na manhã desta quarta-feira (12), a expectativa era de que a Bolsa de Valores de São Paulo começasse o dia em queda, enquanto o dólar apresentasse alta. Por volta das 11h desta quarta, porém, a B3 apresentava estabilidade, com alta de 0,25%. A moeda norte-americana, de fato, tinha alta de mais de 1% no mesmo horário, sendo cotada a R$ 5,46.

Pode ter contribuído para a manutenção da serenidade no mercado um aceno do presidente Jair Bolsonaro. Em post nas redes sociais, Bolsonaro afirmou que o governo continua tendo como norte a responsabilidade fiscal e o teto de gastos.

Mas, na opinião de Alessandra Ribeiro, o mercado está cada vez mais ressabiado em relação ao andamento da agenda econômica do governo. A percepção de risco, segundo ela, aumentou, mas os mercados seguem "relativamente bem comportados" principalmente por conta da conjuntura.

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"Ainda há uma aposta de que o Paulo Guedes fica e a agenda, mesmo que aos trancos e barrancos, sobrevive. Outra coisa que acaba anestesiando o mercado é a liquidez. Governos e Bancos Centrais estão jogando dinheiro na economia, no mundo todo. Se fosse uma situação mais adversa, de liquidez mais restrita, a gente veria o mercado mais nervoso", diz a sócia da Tendências.

Cristiano Oliveira, do Banco Fibra, aponta, ainda, que o mercado já vem precificando as incertezas há semanas. "A curva de juros já está bastante empinada, o risco-Brasil aumentou, nosso câmbio está bastante depreciado em termos reais. Tudo isso mostra que os preços já estão afetados por uma discussão fiscal que é bastante nebulosa", opina.

Paulo Guedes segue como "fiador" para o mercado

Além disso, apesar de a saída dos secretários significar, nas palavras do próprio ministro, uma "debandada" na equipe econômica, ainda há a percepção de que Paulo Guedes é o grande "fiador" da agenda liberal no governo Bolsonaro.

Assim, enquanto ele permanecer no governo – mesmo que esvaziado –, o mercado ainda deve confiar na agenda econômica do Executivo.

"Ainda não há instabilidade, mas sem dúvida existe o questionamento em relação ao que está acontecendo dentro do governo. Teremos que observar para tentar entender os reais motivos para a saída dessas pessoas e quem vai entrar no lugar delas", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

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