O mercado de juros futuros encerrou o dia de ontem com pequena devolução de prêmios, em um movimento que foi alimentado por notícias e especulações em torno de possíveis alterações nas regras da poupança. Após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fazer o que todos esperavam e cortar a Selic para 9%, na quarta-feira, mas não dar sinais sobre o fim do afrouxamento, os investidores passaram a acreditar em mais um corte da taxa básica de juros.
Tais apostas, porém, encontravam limite no rendimento da poupança. Porta-vozes do governo, entretanto, vêm sinalizando que a presidente Dilma Rousseff teria decidido assumir o ônus político de mexer nas regras da caderneta de poupança. Por isso, o mercado se sentiu mais confiante para ampliar as apostas em uma redução mais incisiva da Selic um movimento que foi freado ao longo do dia, diante de negativas vindas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da própria presidente Dilma. Além disso parece não haver, dentro do governo, um momento definido para a alteração das regras da poupança.
Taxa de 8,4%
Assim, ao término da negociação normal na BM&F, o DI janeiro de 2013 (582.320 contratos) marcava 8,39%, de 8,42% e após bater na mínima de 8,32% pela manhã. Por enquanto, segundo um economista, a curva embute um corte adicional próximo a 0,40 ponto porcentual para a Selic, mais perto do 0,5 pp. Ontem, as apostas estavam no meio do caminho entre o 0,25 pp e o 0,5 pp. O DI janeiro 2014 (345.895 contratos), por sua vez, apontava 8,89%, de um ajuste a 8,90%. Nas taxas longas, o DI janeiro de 2017 (60.050 contratos) indicava 10,18%, de 10,15% na véspera, enquanto o DI janeiro de 2021 (4.125 contratos) estava em 10,72%, de 10,70% no ajuste.
Como a popularidade da presidente da República está elevada, os agentes de mercado acreditam que ela teria condições de assumir o ônus de alterar o rendimento da poupança. A caderneta oferece remuneração de 6,17% acrescida de Taxa Referencial (TR). Com a Selic cada vez menor, essa modalidade ganha competitividade em relação aos seus concorrentes, principalmente aos fundos de investimentos, uma vez que é isenta de Imposto de Renda.
A preocupação do governo é devida ao fato de os fundos de investimento serem os principais compradores da dívida federal. Uma possibilidade de mudança na poupança seria atrelar seu rendimento a um porcentual da Selic, de forma a manter os fundos atrativos. Em virtude dessas discussões, a agenda de indicadores, que já era fraca, acabou relegada de vez ao segundo plano. Na próxima semana, o mercado deve acompanhar de perto a divulgação do IPCA-15 de abril, o resultado primário do governo, a evolução da taxa de desemprego, bem como a pesquisa Focus, que pode trazer novas projeções para a Selic.