Notícias de socorro à seguradora AIG, acordo para compra de parte do banco Lehman Brothers cujo pedido de concordata derrubou as bolsas na segunda-feira e aporte bilionário de bancos centrais de todo o mundo tranquilizam investidores das Américas, mas não evitam novas perdas na Europa e na Ásia
Em meio a uma das crises mais graves a solapar a maior economia mundial, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) decidiu manter sua taxa básica de juros inalterada, em 2%. Contrariou, assim, expectativas de parte do mercado que esperava um corte de pelo menos 0,25 ponto porcentual.
Ao justificar a decisão, a primeira unânime em um ano e a terceira a deixar intocada a taxa, o Fed cita preocupações com a queda do crescimento econômico, o aperto no crédito e a alta da inflação. Deixa aberta ainda a janela para ações de emergência mesmo antes da próxima reunião, prevista para os dias 28 e 29 de outubro.
"O comitê irá monitorar cuidadosamente os desenvolvimentos econômico e financeiro e agirá conforme o necessário para promover crescimento econômico sustentável e estabilidade dos preços", diz o texto, assinado pelo presidente, Ben Bernanke, e dez diretores.
O anúncio da decisão do Fed chegou horas depois de um dos piores dias dos mercados globais desde o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001. Foi recebido com ceticismo pela Bolsa de Nova Iorque, que caía 150 pontos na hora em que vinha a público.
Aos poucos, porém, embalada por rumores vindos de outra reunião do BC americano, a portas fechadas em Nova Ioruqe, o pregão se recuperou e fechou em alta. Diretores do Fed e pessoas ligadas ao Tesouro dos EUA e o governo do Estado de Nova Iorque acertavam na tarde de ontem um pacote de ajuda à seguradora AIG, que deve dar novo fôlego amanhã aos mercados.
O índice industrial Dow Jones fechou em alta de 1,3%, a 141,51 pontos, acima da barreira dos 11 mil, num dia em que perdas que chegavam a até 100 pontos.
Em um pregão marcado por constante sobe-e-desce, a Bovespa conseguiu encerrar em terreno positivo, com valorização de 1,68%. O começo do pregão voltou a assustar os investidores, com a Bolsa de Valores de São Paulo chegando a marcar perdas de 4,45% em seu momento mais crítico.
Mas a recuperação do mercado acionário norte-americano no fim da tarde ajudou a Bovespa a sair do vermelho. Mesma sorte não tiveram os mercados europeus e asiáticos, que fecharam antes das notícias positivas nos Estados Unidos e emendaram novas perdas ontem.
"A alta de hoje [ontem] não representa uma mudança de cenário. O mercado financeiro deu uma melhorada no fim do dia, mas nada mudou. A crise ainda pode se agravar, afirma Patrícia Branco, sócia-gestora da Global Equity.
Acordo
A notícia de que o britânico Barclays chegou a um acordo para comprar a maior parte do Lehman Brothers também ajudou a acalmar os ânimos. O Lehman, quarto maior banco de investimentos dos EUA, pediu concordata anteontem, depois de não conseguir nenhum comprador. Segundo o "The Wall Street Journal", a venda deverá ser fechada em US$ 2 bilhões.
Recursos
Enquanto crescia o temor de que a AIG seguisse o mesmo caminho do Lehman Brothers, bancos centrais ao redor do globo colocaram ao menos US$ 250 bilhões nos mercados financeiros. De Nova Iorque a Tóquio, os BCs saíram em socorro a um mercado carente de liquidez e de instituições financeiras ameaçadas.
O BC japonês ofereceu US$ 24 bilhões; e o da Rússia onde o pregão de Moscou chegou a ser suspenso em meio às maiores quedas dos últimos dez anos , um volume recorde de US$ 18 bilhões. No olho do furacão, o BC norte-americano colocou US$ 70 bilhões no mercado em dois leilões, um volume mais de três vezes superior ao que havia anunciado, de US$ 20 bilhões.