O aquecimento do mercado imobiliário nos últimos anos fez da cifra de R$ 1 milhão algo bem mais "comum" no comércio de imóveis em Curitiba do que se pode imaginar. Ao contrário do que sugere o senso comum, não se trata de nada extraordinariamente luxuoso, de mansões de cinema ou apartamentos triplex. Não é difícil encontrar apartamentos de 400 metros quadrados em bairros considerados mais nobres da cidade, como Mossunguê, Batel e Cabral, sendo vendidos por esse valor alguns com mais de uma década. Há cerca de quatro anos, estimam os especialistas do setor, o prêmio do Big Brother Brasil comprava dois imóveis desse porte. Hoje, talvez não compre nem um."O mercado está muito aquecido e o segmento de alto padrão também passou por uma grande valorização. O preço praticamente duplicou nos últimos cinco ou seis anos. Então, o conceito do R$ 1 milhão, que se imaginava para uma grande mansão, hoje está presente no alto padrão", diz o diretor do Grupo Plaenge, Fernando Fabian. "É claro que R$ 1 milhão é uma cifra significativa. Mas não é mais sinônimo de altíssimo padrão, principalmente para as casas", confirma o presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi PR), Gustavo Selig.
A própria Plaenge está vendendo um apartamento nessa faixa de preço no Ecoville com 360 metros quadrados de área total (quatro quartos, duas suítes e três garagens). Quer mais espaço? Para ter as chaves de um outro lançamento, no Cabral, com 550 metros quadrados, é preciso desembolsar algo perto de R$ 1,5 milhão.
Depois de três anos à procura de um apartamento, uma advogada que prefere não se identificar acaba de assinar a compra de um imóvel por R$ 1,2 milhão cerca de R$ 200 mil a mais do que imaginava gastar. "A maioria dos apartamentos está cara demais para o que oferece. Cheguei a ver um imóvel novo no Batel Soho com 270 metros quadrados por R$ 1,7 milhão", conta.
Usados
A valorização se deu tanto para lançamentos quanto para imóveis usados, e fez com que a cifra chegasse também aos anúncios de apartamentos com até duas décadas algo que há cinco anos não acontecia. "As cidades cresceram muito e as construções novas estão sendo feitas longe do Centro. Mas as pessoas valorizam cada vez mais a comodidade de estar em regiões mais centrais", diz o diretor da Imobiliária Thá, José Renato Pallu. Segundo ele, há alguns anos um imóvel com idade entre 15 e 20 anos era vendido por cerca de R$ 1 mil o metro quadrado. "Hoje, dependendo da localização, já passa de R$ 1,7 mil."
Em um busca na Rede Imóveis (www.redeimoveis.com.br) é possível encontrar, por exemplo, um apartamento de três quartos no Ecoville (com área útil de 285 metros quadrados) em um empreendimento de dez anos sendo vendido por R$ 1,05 milhão. No Água Verde, é preciso desembolsar R$ 1,45 milhão por um apartamento de 241 metros quadrados. No Cabral, são necessários R$ 1,65 milhão para morar em um imóvel de cerca de 550 metros quadrados, com 17 anos de uso.
No caso das casas, diz o diretor da Ademi, a cifra do R$ 1 milhão já aparece em imóveis mesmo fora das áreas tradicionais (Batel e Jardim Social), como Mossunguê, Orleans, São Braz e Campo Comprido onde tem crescido a oferta de condomínios fechados. "Em alguns lugares mais procurados é difícil achar até opções mais baratas que R$ 1,5 milhão", diz a gerente geral da Imobiliária Senzala, Augusta Coutinho Loch. "A demanda em alta e a falta de oferta faz com que os preços se valorizem ainda mais." Parte dessa valorização, diz Augusta, também é resultado de um aumento no preço dos terrenos. Em alguns condomínios, eles chegam a custar até meio milhão de reais.
Causas
Há poucas semanas, a Senzala vendeu uma cobertura na Avenida Silva Jardim, no Batel, com 245 metros quadrados de área útil por cerca de R$ 900 mil um "achado", diz Augusta. "A pessoa comprou muito bem porque os antigos proprietários tinham interesse em vender logo. O custo do metro quadrado ficou em torno de R$ 1,6 mil, mas valeria até R$ 2 mil", diz.
Augusta acredita que esta forte valorização é, em parte, consequência da entrada de grandes construturas e incorporadoras de São Paulo no mercado curitibano. "Elas entraram com preços de São Paulo e as pessoas aceitaram", diz. "Mas em alguns casos os preços estão tão absurdos, que tenho receio de que o mercado fique estagnado em breve. As pessoas não terão mais como comprar."
Para Selig, da Ademi, a forte valorização dos imóveis é resultado de uma combinação de três fatores: o aumento da demanda, a recuperação de preços defasados e, por fim, do próprio crescimento da cidade. "Estamos ainda chegando perto da média de preços de imóveis em Porto Alegre e Belo Horizonte, por exemplo, capitais com características bem parecidas com Curitiba", diz.A tendência, diz o diretor, é que os imóveis cheguem ao fim deste ano com uma valorização de cerca de 22% em relação ao preço atual em todas as faixas, inclusive para as construções de alto padrão. "Só nos imóveis de classe média, entre R$ 200 mil e R$ 400 mil, a valorização pode ser um pouco menor, porque há uma grande oferta", diz.