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Contas públicas

Mercado levanta dúvidas sobre cumprimento da meta de superávit

Os gastos públicos mais acelerados no início de 2006 são seguidos de perto pelo mercado financeiro. Com os primeiros resultados do ano, analistas começam a traçar cenários em que a meta do superávit, de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB), será cumprida com dificuldades – ou nem será atingida, para os mais pessimistas.

Até 2005, o governo federal adotou uma postura mais cuidadosa para o cumprimento da meta de superávit. Tanto que a economia foi maior do que o necessário: 4,84% do PIB para um alvo de 4,25%. O dinheiro, pouco mais de R$ 55 bilhões, foi usado para abater parte dos R$ 157 bilhões pagos em juros sobre a dívida pública.

A ampliação do superávit não ocorrerá em 2006. Desde o começo do ano o Ministério da Fazenda passou a mirar na meta, e não acima dela – tendência fortalecida com a indicação de Guido Mantega para a pasta. Mas, para alguns analistas, os primeiros números do ano mostram um ímpeto gastador que não combina com esse objetivo. "Cresceu muito a possibilidade da meta não ser atingida", afirma a economista Débora Nogueira, da consultoria Rosenberg & Associados. Ela ressalta que os dados de janeiro e fevereiro foram muito abaixo do esperado – o superávit acumulado nos dois meses foi de 2,4% do PIB – e não há perspectiva de reversão nesse quadro antes do segundo semestre.

Débora lembra que o novo salário mínimo, de R$ 350, será pago a partir de maio, o que pressionará as contas da Previdência. "Prevemos para o período de abril a outubro um superávit abaixo de 4,25% no acumulado em 12 meses", afirma. Em fevereiro, esse indicador estava em 4,38% do PIB.

A recuperação do resultado fiscal no fim do ano dependerá do peso do calendário político sobre os gastos. É normal que em anos de eleições os desembolsos sejam maiores no primeiro semestre, já que a legislação restringe os repasses depois disso. Mas há um outro fator: o ritmo de crescimento da arrecadação caiu exatamente no momento em que o governo decidiu abrir os cofres. "É uma decisão política que faz acender a luz amarela na área fiscal", diz o economista Maurício Molan, do Santander.

O cumprimento da meta fiscal é um dos indicadores usados pelo mercado para calcular a capacidade do país pagar seus débitos no longo prazo. Com o superávit de 4,25%, a relação entre dívida e PIB, que fechou 2005 em 51,6%, tende a cair neste ano. As análise mais otimistas apontam uma retração para menos de 50%.

"Existem todas as condições para o resultado fiscal se reverter no segundo semestre e atingir a meta", diz Sérgio Vale, analista da MB Associados. O economista-chefe do Banco Fator, João Francisco Gonçalves, lembra que mesmo no governo de Fernando Henrique Cardoso o superávit primário caiu nos primeiros meses de 2002, ano da última eleição presidencial. "É uma sazonalidade normal", afirma.

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