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Meio ambiente

Mercado voluntário de carbono pode render até R$ 5 bilhões por ano, diz governo

Mercado de carbono livre vai remunerar quem proteger áreas de floresta nativa no Brasil
Mercado voluntário de carbono vai remunerar quem proteger áreas de floresta nativa no Brasil. (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

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Apesar de não ser exatamente uma novidade, o mercado de carbono ainda é incipiente no Brasil. Previsto em importantes convenções internacionais, como o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris, dos quais o país é signatário, a coisa ainda não deslanchou por aqui, inclusive por falta de regulamentação desses artigos. Porém, o país decidiu entrar no mercado voluntário de carbono, com a expectativa de movimentar até R$ 5 bilhões por ano e melhorar a imagem no exterior.

Essas são as perspectivas que o secretário da Amazônia e Serviços Ambientais do Ministério do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, têm para o Floresta + Carbono, uma modalidade do programa Floresta + que prevê a geração de créditos de carbono por meio da conservação e recuperação de áreas de mata nativa. “O foco sai de estudar quanto vale a árvore para quanto vale cuidar de árvore”, destaca o secretário, que conversou com a Gazeta do Povo por telefone.

Por convenção, foi estabelecido que uma tonelada de dióxido de carbono (CO²) equivale a um crédito de carbono, que pode ser negociado no mercado internacional e usado por empresas para compensar suas emissões.

A iniciativa do governo brasileiro, instituída em outubro, é totalmente focada no mercado voluntário e precede acordos bilaterais e o Acordo de Paris, que ainda carece de regulamentação sobre esse mercado, explica Leite.

“Ele é um mercado completamente livre e voluntário, gerado por uma demanda mundial de compromissos corporativos e individuais de compensar emissões”, diz. Ele frisa que, em alguns casos, evitar as emissões de carbono pode ser “fisicamente impossível” e “economicamente inviável”, por isso a instituição do mercado voluntário – também chamado de livre – é relevante.

Mercado voluntário de carbono tem potencial bilionário

A iniciativa do governo não é tão nova assim. Basicamente, quem preservar sua área de floresta nativa será remunerado por isso. “Baseado nesse serviço ambiental de aumentar e manter o estoque de carbono, você consegue emitir crédito de carbono no mercado voluntário e negociar isso voluntariamente, por manter e recuperar esse território”, explica Leite.

A expectativa do ministério é de que esse mercado voluntário movimente entre R$ 1 bilhão e R$ 5 bilhões anuais, que são repassados diretamente para quem protege floresta, sem intermediação. O valor é pouco, comparado ao potencial que esse setor pode movimentar – só em créditos oriundos de financiamento internacional de clima, o Brasil já tem reconhecidos US$ 38 bilhões para receber, dos quais US$ 6 bilhões para o Cerrado e US$ 32 bilhões para Amazônia.

A avaliação do secretário é de que historicamente o Brasil se posicionava contrário à participação da iniciativa privada no mercado voluntário de carbono, e é por isso que outros países estão à frente nesse mercado, sobretudo outras nações da América Latina e Ásia, que também têm áreas de floresta tropical.

Para Leite, já existe uma demanda importante de empresas do setor de petróleo, tecnologia e transporte por esse mercado, que ainda será impulsionado: “No pós-pandemia, o engajamento no tema meio ambiente e mudança no clima vai gerar uma demanda significativa para absorver os créditos voluntários”.

O governo também trabalha para lançar uma plataforma digital que criará o banco de dados do projeto para que, no futuro, seja possível harmonizar ou aderir a programas internacionais de redução de emissões, estes regulados. Atualmente, de acordo com o Ministério, já há iniciativas do Floresta + Carbono sendo desenvolvidas em todos os biomas.

Foco em preservação pode ajudar a melhorar imagem do Brasil no exterior

Entrar no mercado voluntário de carbono com o Floresta + Carbono seria, na avaliação do secretário, uma solução mais imediata, que poderá auxiliar quem não está cumprindo as metas definidas pelo Acordo de Paris, e que traz benefícios econômicos e para a imagem do Brasil no exterior.

“[O programa] tem a possibilidade de engajar setores da economia que queiram contribuir para a preservação de floresta em todo o território. Trouxemos segurança jurídica e credibilidade para que possa acontecer de forma transparente, pagando a quem protege floresta”, diz.

Para ele, a solução para esses problemas ambientais é econômica. “A partir do momento em que você tiver uma remuneração, um pagamento dos serviços ambientais de proteção, vamos criar uma nova economia verde”, diz, citando a possibilidade de criação de empregos, inclusive.

Questionado sobre o desgaste da imagem do país no exterior – sobretudo pelo avanço de casos de queimadas e desmatamento em vários biomas e declarações do presidente Jair Bolsonaro e outros integrantes do governo –, o secretário admitiu que a nova iniciativa terá “o benefício de melhorar a imagem do Brasil em relação a conservação florestal”.

Mas Leite logo mudou de assunto e emendou que o programa “poderá trazer a participação de empresas para atuar nesse tema”. Vale lembrar que o Brasil já sofre com a pressão de vários parceiros comerciais, que cobram melhores práticas e a preservação ambiental.

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