O dólar marcou a maior queda diária em um mês nesta quinta-feira (3), voltando abaixo de R$ 3,75, com investidores recebendo bem a decisão de abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, mas ainda ponderando as implicações da medida para a economia brasileira.
O dólar recuou 2,26%, a R$ 3,7488 na venda, após atingir R$ 3,7338 na mínima do dia. Foi a maior queda diária desde o dia 3 de novembro, quando a moeda norte-americana recuou 2,39%.
“A (eventual) saída de Dilma é vista como positiva e representa mudanças. Entretanto, temos que lembrar que o processo é longo e incerto, fragiliza ainda mais o já combalido governo do PT e coloca o país mais perto de perder o seu segundo grau de investimento”, disse o operador da corretora SLW João Paulo de Gracia Correa.
Na noite passada, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou o pedido de abertura de processo de impeachment contra Dilma. O processo ainda precisa tramitar por diversas etapas antes de resultar em uma votação final que decida o futuro da presidente.
Outro fator que chegou a ajudar a queda do dólar foi o anúncio de novos estímulos do Banco Central Europeu (BCE), que tendem a favorecer ativos de mercados emergentes. O impacto foi limitado, no entanto, porque muitos operadores esperavam ações mais incisivas.
Intervenção
A atuação do Banco Central brasileiro completou o quadro favorável para o real, realizando nesta tarde leilão de venda de até US$ 500 milhões com compromisso de recompra. Segundo a assessoria de imprensa do BC, a operação não teve como objetivo rolar contratos já existentes.
O BC também deu continuidade, pela manhã, à rolagem dos swaps cambiais que vencem em janeiro, com oferta de até 11.260 contratos, que equivalem a venda futura de dólares. Até agora, a autoridade monetária já rolou o equivalente a US$ 1,645 bilhões, ou cerca de 15% do lote total, que corresponde a US$ 10,694 bilhões.
A queda do dólar ganhou ainda mais força na parte da tarde, depois que o contrato futuro do dólar recuou abaixo de R$ 3,80. O movimento desencadeou muitas operações automáticas de vendas de divisas para limitar perdas de operadores que não acreditavam que o dólar cairia tanto.
“Muita gente não acreditava que o dólar continuaria caindo. Mesmo hoje, eu não estou convencido de que esses níveis se sustentam”, disse o operador de uma corretora nacional.
É essa a opinião de estrategistas do banco JPMorgan, que ressaltaram que “os custos de embarcar no processo de impeachment são altos, pelo menos no curto prazo”. Por isso, recomendaram que clientes apostem na alta da moeda norte-americana se as cotações no mercado à vista continuarem abaixo de R$ 3,75.