Desemprego em queda, recuperação do salário real e redução da informalidade dão a tônica do mercado de trabalho nos últimos meses. Apesar da possibilidade de perda de força de agora em diante, motivada pelo desaquecimento da atividade econômica, há "ilhas" que devem manter um bom desempenho, devido a características próprias.
É o caso de segmentos como infraestrutura, energia, agronegócio, saúde e tecnologia da informação. O vice-presidente de parcerias estratégicas da consultoria de recursos humanos Robert Half, Alexandre Attauah, diz que essas áreas estão crescendo com pujança, mesmo com uma alta taxa de juro.
A procura por profissionais qualificados é grande. Segundo o diretor executivo da Page Group, Lucas Toledo, há uma disputa mundial por mão de obra especializada: “É um dos efeitos da pandemia, quando ganhou força o home office”.
Esse cenário mais complexo está levando muitas empresas com operações internacionais a criar centros de serviços compartilhados em diversas regiões, com o objetivo de prestar serviços globais.
Outro fator que pode impulsionar o mercado de trabalho, segundo Toledo, é a reordenação das cadeias globais de produção, que foram afetadas pela crise da pandemia da Covid-19. Ele aponta que países como os Estados Unidos estão buscando fornecedores mais próximos do que a China. “Isto pode levar ao estabelecimento de novas plantas”, diz o executivo do Page Group.
Leia a seguir sobre os setores que devem continuar tendo boa performance.
Concessões e privatizações trazem mais dinamismo à infraestrutura
Um dos segmentos em que deve ser mantida a boa performance no emprego é o de infraestrutura, impulsionado por obras previstas para os próximos anos em contratos de concessão ao setor privado. Até agosto, constavam 153 empreendimentos no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), do governo federal, que previam uma aplicação de R$ 901 bilhões.
“Tem muita coisa para acontecer. O cenário pode estar retraído no curto prazo, mas é extremamente favorável no médio prazo”, diz Toledo, do Page Group.
Óleo e gás e energias renováveis são áreas promissoras
Outra área em que há expectativas favoráveis, segundo Toledo, é a de óleo e gás. “Está sendo beneficiada pelos preços mais elevados do petróleo, motivados, em parte, pelas restrições à produção da Rússia, devido à guerra com a Ucrânia”, diz o diretor executivo do Page Group.
Novos lotes exploratórios estão em desenvolvimento no Brasil, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. E, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a produção brasileira está em alta. Em setembro, foi registrada a produção média diária de 4,05 milhões de barris de petróleo. É a segunda vez na história que a marca dos 4 milhões é ultrapassada. A anterior foi em janeiro de 2020.
Outro fator que ajuda esse setor, de acordo com Attauah, é a retomada dos deslocamentos no pós-pandemia e o crescimento do setor de logística. Nos oito primeiros meses do ano, os serviços de transporte tiveram um crescimento de 13,8% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o IBGE.
A área de energias renováveis também é muito promissora, destaca Toledo. E uma das regiões que mais se destaca é o Nordeste, onde estão sendo construídos os principais parques eólicos. Também ganha importância a maior exploração da energia solar.
Tecnologia da informação ganha ainda mais tração com o 5G
Tradicionalmente, outro setor com forte demanda de pessoas é o de TI. Ele deve ganhar ainda mais tração com a entrada em operação, em larga escala, do 5G e o desenvolvimento de aplicações a partir dessa tecnologia.
Pesquisa feita pela Robert Half aponta que a esmagadora maioria dos CIOs está mais confiante na comparação com os últimos 12 meses, o que incentiva a abertura de novas vagas de trabalho. Mas, as empresas estão se deparando com dificuldades para preencher posições.
A consultoria destaca que o volume de mão de obra qualificada não supre a demanda das empresas e as taxas de desemprego continuam caindo. Os bons talentos de tecnologia, que não estão tão disponíveis, ainda lidam constantemente com propostas simultâneas.
“Mais do que em qualquer outra área, em tecnologia a questão do modelo de trabalho influencia diretamente no leque de profissionais a serem acionados. Além disso, a falta de flexibilidade, tanto de horários quanto de locais, assim como o aumento da abordagem da concorrência e a percepção de oportunidades limitadas de progressão de carreira, são alguns dos pontos que mais motivam pedidos de demissão”, revela Mariana Homo, gerente sênior da consultoria.
Agronegócio tem boas oportunidades
Quem também está em um bom momento é o agronegócio. No ano, até setembro, o número de oportunidades de trabalho com carteira assinada cresceu 6,7%, com a abertura de 120,7 mil postos, apontam dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
As boas expectativas para a próxima safra, estimada em 300 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), são uma das fontes de ânimo. A projeção indica crescimento de 16% em relação ao último ciclo agrícola.
“Agro e commodities estão em franca expansão devido às necessidades globais”, explica o vice-presidente da Robert Half. Ele cita que há uma grande procura por profissionais qualificados, e um dos motivos é a entrada de investimentos estrangeiros no setor.
Algumas necessidades mais específicas estão em áreas relacionadas à tecnologia e ao crédito: “Há muita startup e fintech entrando no agronegócio”, diz.
Setor de saúde cresce com envelhecimento da população e consolidação
A saúde é outra área que também é considerada como promissora pelos especialistas em recursos humanos. Um dos fatores é o aumento na expectativa de vida da população. Segundo o IBGE, entre 1991 e 2020 a expectativa de vida de uma pessoa de 50 anos passou de 24,2 para 31 anos.
Outro fator que abre boas possibilidades é a consolidação do setor. “O setor sempre foi pulverizado e agora estão se formando grandes players, seja em áreas como o atendimento hospitalar ou de planos de saúde. Novos problemas surgem com a profissionalização do setor e há necessidade de mão de obra especializada”, afirma o executivo da Robert Half.
Áreas mais novas, como a ESG, têm grandes necessidades
Áreas mais novas, como o ESG (sigla em inglês para compromisso com metas ambientais, sociais e de governança corporativa), têm dificuldades para encontrar mão de obra especializada. Uma pesquisa feita pela Robert Half indica que 55% das companhias apontam a escassez de especialistas como uma das principais barreiras para a implementação de estratégias vinculadas ao tema.
“É, ao lado da tecnologia da informação, uma área com assuntos e pautas em alta, porém com conhecimento ainda limitado por parte dos profissionais”, diz Attauah.
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