O economista Ilan Goldfajn, de 50 anos, já conhece os meandros do Banco Central (BC), para cuja presidência seu nome foi confirmado na terça-feira (17). Ele foi diretor de Política Econômica entre 2000 e 2003, na gestão de Arminio Fraga, e chegou a trabalhar alguns meses com Henrique Meirelles quando este assumiu a autoridade monetária no governo Lula.O fato de ter atuado tanto no setor público como no privado e seu sólido currículo acadêmico – com doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), ele foi professor na PUC-Rio e na Universidade Brandeis, nos EUA – fazem com que ele seja visto por economistas do mercado financeiro como estando à altura do desafio de assumir a condução da política monetária.
“O Ilan é um economista de projeção internacional, e podemos dizer que, ao lado dos outros membros da equipe econômica, ele pode representar um choque de credibilidade.O perfil é muito importante. Veja o exemplo de Raghuram Rajan, professor da Universidade de Chigaco que, ao assumir o BC da Índia, conseguiu recolocar nos eixos as expectativas de inflação no país”, disse Roberto Castello Branco, diretor da FGV Crescimento & Desenvolvimento e ex-diretor de Mercado de Capitais do BC.
Elogios do mercado
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, destacou o papel de Ilan no processo de retomada da economia. “Sua missão será chave para o sucesso da equipe estruturada pelo ministro Henrique Meirelles, no desafio de alcançar a condição de relançar a economia brasileira a um novo tempo de crescimento, emprego e conquistas sociais”, afirmou em nota.
Também em nota, o presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Murilo Portugal, ressaltou que “Ilan Goldfajn tem conhecimento profundo sobre a missão e os instrumentos do Banco Central, onde demonstrou competência quando atuou como diretor da instituição.”
Para Constantin Jancso, economista do HSBC Brasil, uma das principais diferenças entre Ilan e o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, é a experiência no setor privado do primeiro. “Isso pode se refletir em uma maneira diferente de o BC se comunicar com o mercado. Espero que isso se dê de uma forma mais clara e direta, o que minimizaria erros de interpretação sobre a conduta da autarquia”, disse Jancso.
Luiz Antonio França, ex-diretor do Itaú e atual presidente-sócio da França Participações, também ressalta a capacidade de diálogo de Ilan: “É um economista fantástico, com conhecimento da máquina pública e experiência na iniciativa privada. Isso fecha um ciclo de capacitação para que assuma o Banco Central. Ele tem uma capacidade de interlocução muito grande”.
Amigos e colegas de trabalho destacam sua abertura para ouvir outras opiniões e até mudar de ideia quando concorda com outros argumentos. “Ilan é um gentleman (cavalheiro), agradabilíssimo. Não dá carteirada, ouve a opinião das pessoas. Qualquer um pode subir e falar. Se seu escritório tivesse porta, esta estaria sempre aberta”, afirmou um executivo que trabalhou com Ilan no Itaú.
Em artigos recentes, Ilan demonstrou ser adepto das políticas graduais, sem choques – alguns até o consideram um pouco ‘dovish’, termo popularizado pelo mercado financeiro americano para uma postura mais acomodativa na política monetária. Em artigo publicado no jornal O Globo no início de abril, o economista defendeu que era necessário reduzir os juros, hoje em 14,25% ao ano, mas ressaltou que isso só deve acontecer quando a trajetória de queda da inflação se solidificar.
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decide sobre a taxa básica de juros (Selic), será em junho. Analistas projetavam que o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, iniciasse um processo de redução dos juros. Mas, agora, há quem duvide de que Ilan promova tão rapidamente a queda da Selic, devido à necessidade de recuperar a credibilidade do BC no combate à inflação.
“No início, a prioridade será demonstrar uma dura posição sobre a inflação para os mercados. A credibilidade perdida precisa ser reconquistada. Os juros vão cair mas não antes do fim deste ano”, afirmou Neil Shearing, economista-chefe para América Latina da Capital Economics.
Perfil
Com passagens pelo Fundo Monetário Internacional e pela Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, Ilan foi diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica da Casa das Garças entre 2006 e 2009, até se mudar para São Paulo por causa do trabalho no Itaú. Ele é casado com Denise Salomão Goldfajn, pós-doutorada em Psicologia Clínica, e pai de três filhos.