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Ônibus urbanos

Mercedes vende 121 ônibus no quintal da Volvo e comemora crescimento de dois dígitos no país

Walter Barbosa, diretor de Vendas e Marketing Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil | Divulgação/Mercedes Benz
Walter Barbosa, diretor de Vendas e Marketing Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil (Foto: Divulgação/Mercedes Benz)

Pela primeira vez na história, a Mercedes Benz terá um de seus ônibus “super articulados” rodando na cidade de Curitiba. A venda é um marco para a empresa, que comemora um crescimento expressivo no market share de ônibus e prevê um crescimento de dois dígitos para este ano. A venda integra uma encomenda milionária feita por empresas que operam na capital paranaense, casa da concorrente Volvo.

O mercado de ônibus vendeu uma média de 11 a 12 mil unidades ao longo do ano, no último período. De janeiro a setembro deste ano já foram 10 mil unidades — contabilizadas as vendas de todos os players — o que representa um crescimento de 20% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo Walter Barbosa, diretor de Vendas e Marketing Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, que conversou em exclusividade com a Gazeta do Povo.

As vendas da Mercedes cresceram acima da média de mercado, em 30%, neste mesmo período, ampliando sua fatia no setor para 55,9% (considerando o acumulado até setembro). Dos cinco segmentos de mercado, o de ônibus urbanos, em geral comprados por empresas que administram concessões públicas, é o grande destaque.

Maior segmento do Brasil, o de ônibus urbanos representa cerca de 40% do mercado. Só este ano, até setembro, 4.309 unidades já foram emplacadas, 25% a mais do que no mesmo período do ano passado, segundo dados da Mercedes. Os veículos da montadora alemã representam 81,4% do total.

“Eu considero uma excelente performance, que está obviamente ligada aos produtos, à tecnologia de veículos urbanos e à completa linha [que oferecemos], que vai do micro até um super articulado, de 23 metros”, avalia Walter Barbosa. Os carros “compridões”, muito utilizados em vias exclusivas em São Paulo, concorrem em capacidade com os biarticulados das concorrentes Scania e Volvo.

Até o fim do ano, a tendência é de que este boom nos urbanos desacelere. Por ser um setor muito ligado ao jogo político (em geral a operação é vinculada a concessões públicas, outorgadas pelos municípios), em ano eleitoral as empresas tendem a concentrar suas compras no primeiro semestre, antes do acirramento do debate eleitoral.

A expectativa da Mercedes é de que o mercado feche o ano com 13,8 mil a 14 mil veículos emplacados. Número que deve se repetir no ano que vem (2019). A empresa estima um crescimento de 10% no segmento de ônibus, em 2018.

Outros segmentos

De janeiro a setembro deste ano, o emplacamento de ônibus no setor de fretamento cresceu 154%; no rodoviário, 61%; e a venda de micro-ônibus (considerando veículos acima de oito toneladas) subiu em 63%. A exceção ficou por conta dos ônibus escolares, cujas vendas caíram em 57%. A expectativa da Mercedes é reverter este dado no ano que vem.

Uma portaria do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que obriga os ônibus rodoviários a contarem com plataforma elevatória, para pessoas com deficiência, a partir deste ano, impulsionou as vendas da empresa nos setores rodoviário e de fretamento, na avaliação da Mercedes.

“O elevador tem um custo adicional e acaba reduzindo o número de passageiros, então muitos empresários anteciparam suas compras. A partir de outubro a tendência é também diminuir [o ritmo de vendas] e, a partir do ano que vem, regulariza”, avalia o executivo da Mercedes.

Outro fator que a montadora vê como decisivo para a retomada das vendas foi a política de juros, em especial a queda da Selic de 14,25% (no auge, entre 2015 e 2016) para 6,5% (valor atual). “Todas estas compras são via Finame, e a taxa de 14% é altíssima para o negócio de veículos comerciais”, avalia Barbosa. Finame é uma linha do BNDES que financia a aquisição de máquinas e equipamentos.

Como consequência, muitas empresas acumularam uma necessidade de renovação da frota, neste período, o que deve manter aquecido o setor de ônibus nos próximos anos, principalmente se “o país conseguir manter uma estabilidade econômica, até mesmo deslocada da política”, avalia o executivo. Foi o que aconteceu nos últimos dois anos, diz ele: mesmo com um turbilhão de acontecimentos políticos, em nível nacional, as taxas de juros, de inflação e o PIB se mantiveram estáveis.

O marco de Curitiba

A venda de um pacote com 121 ônibus para os operadores do transporte urbano em Curitiba é um marco para a Mercedes. Embora não seja o maior mercado (a frota curitibana é 11 vezes menor do que a paulistana, por exemplo), a capital paranaense é simbólica.

Curitiba implantou o primeiro sistema de BRT (da sigla “bus rapid transit”, com canaletas exclusivas) do mundo, o que a tornou vitrine para o poder público, seus planejadores urbanos e também para a Volvo.

A empresa sueca, instalada na capital paranense desde 1977, adapta seus veículos para operarem de forma exclusiva na cidade desde os anos 1980, modelo exportado para outras cidades do Brasil e do mundo, como o Rio de Janeiro. Hoje há 170 cidades do mundo com sistemas de BRT, que transportam mais de 33 milhões de passageiros por dia.

Com isso tudo, a Mercedes não tinha vendas tão expressivas na capital paranaense. A maior barreira era para o superarticulado, que necessitaria de adaptações para rodar nas canaletas exclusivas da cidade. Por vários anos a multinacional alemã tentou, sem sucesso, estabelecer parcerias com empresas e a prefeitura para fazer testes com o veículo. Mas a dificuldades técnicas, de alinhar a carroceria ao padrão de abertura de portas nas canaletas exclusivas, sempre surgiram como empecilho para a adoção massiva do modelo.

O executivo Walter Barbosa até brincou com a reportagem: “Eu estou muito feliz que Curitiba agora é estrela!”, em referência ao símbolo da Mercedes Benz.

Encomenda marca retomada da frota

A encomenda surge em um momento de oportunidade. No fim do ano passado, a prefeitura de Curitiba enfim convenceu as empresas de ônibus da cidade a abrirem mão de uma liminar concedida em 2013 que dava a elas o direito de não renovar a frota.

O lote vendido pela Mercedes foi adquirido pelas empresas: Auto Viação Redentor (34 unidades), Auto Viação Santo Antônio (7 unidades), Transporte Coletivo Glória (43) e Viação Cidade Sorriso (37). Inclui os modelos OF 1519, OF 1721 (suspensão mecânica), OF 1721 L (suspensão pneumática), O 500 MA articulado e o superarticulado O 500 MDA.

A Mercedes desenvolveu um projeto exclusivo para permitir que o superarticulado opere nas canaletas de ônibus de Curitiba, que contam com uma série de especificidades técnicas. As carrocerias, de 21 metros, são diferentes das dos veículos que operam em São Paulo, por exemplo.

Os carros serão aproveitados na linha do expresso Circular Sul (que, em sua maioria, já opera com articulados). Levantamento da Gazeta do Povo, com base em dados da Urbs, indica que a linha trabalho hoje apenas com veículos antigos. O mais novo roda há 10 anos, e o mais velho, há 15.

As primeiras 100 unidades deverão ser entregues ainda este ano, após o encarroçamento. O restante está previsto até fevereiro de 2019. Os novos ônibus serão utilizados em linhas dos sistemas Alimentador, Convencional, Interbairros, Linha Direta e Expresso.

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