Os presidentes dos países do Mercosul se encontrarão nesta segunda-feira (21) numa cúpula em que a maior novidade está no governo argentino, que em sua primeira semana anunciou um pacote para abrir a economia e mostrou interesse em destravar as negociações para um acordo de livre-comércio com a União Europeia (UE). Os europeus querem a liberação de pelo menos 90% dos produtos trocados pelos dois lados – a última oferta do bloco latino-americano, feita em 2004, chegou a 87%.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, disse neste domingo (20) que “o Mercosul está pronto para proceder à troca de ofertas de acesso a mercados o mais rapidamente possível” e continua sendo a prioridade do país “na agenda de relacionamento externo”. O alto representante-geral do Mercosul, o brasileiro Florisvaldo Fier, conhecido como dr. Rosinha, disse que o objetivo do bloco é superar a exigência dos europeus, de liberação de pelo menos 90% dos produtos trocados pelos dois lados.
“O compromisso do Mercosul em relação à UE era fazer uma proposta superior à do ano de 2004. Aquela foi de 87%. O que já acertamos é que será superior. O objetivo é passar de 90% pedidos pela União Europeia, mas é preciso ter as duas ofertas sobre a mesa, ter uma troca simultânea. É necessário uma margem de negociação sobre certos setores”, disse.
Brasil anuncia acordo automotivo com o Paraguai para o 1º trimestre de 2016
O país é o único membro do bloco sul-americano com o qual o Brasil não tem um acordo neste setor
Leia a matéria completaUma fonte ligada diretamente à negociação garantiu que Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai montaram uma estratégia para chegar aos 90%, mas a confirmação desse porcentual só ocorreria depois de ser conhecida a proposta europeia.
Fier lembrou que a Europa só deve fazer sua oferta em 2016: “Um acordo com 90% dos produtos é excelente, pois os pactos internacionais dificilmente superam esse porcentual”, afirmou.
As negociações entre os dois blocos se arrastam desde 1999. Nos últimos anos, um dos entraves era o protecionismo do governo de Cristina Kirchner, que dificultava o avanço dos 87% para os 90% exigidos pelos europeus. Chegou-se a cogitar uma entrada posterior da Argentina no tratado, o que o kirchnerismo não aceitou.
Política
O presidente da Associação de Exportadores Brasileiros, José Augusto de Castro, disse que a razão para a demora em um acerto com os europeus é política. Nos anos em que o preço das commodities esteve alto, o Mercosul “não se mexeu” para consumar um pacto, segundo ele. “Há quatro anos, a pressa estava do lado europeu. Ainda não coincidiu de os dois lados terem vontade ao mesmo tempo”, disse.
De acordo com Castro, a UE não dá sinais de que deseje fechar negócio e prefere primeiro consumar tratados com os EUA, a Índia e o Japão, nesta ordem. “Qual é a oferta da União Europeia? Ninguém sabe”.
Em sua opinião, o Brasil e seus vizinhos perceberam que estão ficando isolados. “Para Uruguai e Paraguai, o acordo não faz muita diferença porque são países pequenos e já têm economia aberta”, ressalta.
Segundo ele o novo governo argentino mostrou ter visão empresarial, ainda que a indústria do país seja frágil. “Eles têm de importar quase tudo em grande parcela. A liberação do câmbio deu um pouco de proteção, depois de anos em que o kirchnerismo dificultou tudo”, analisou.
Castro acha que a Parceria Transpacífica, acordo comercial que envolve 12 países, aumentou a preocupação com uma “asfixia econômica”. “As exportações brasileiras caem há quatro anos e a previsão para 2016 é que baixem mais 1%”, acrescentou Castro.
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