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Triangulação é a maior queixa do Brasil contra Paraguai

Aberto a investimentos e sem nenhum problema para importar o que for preciso, o Paraguai acrescenta outra dificuldade na lista de reclamações dos empresários brasileiros: a chamada triangulação. O país importa diversos produtos, especialmente da China, e "lava" sua fabricação, vendendo no Mercosul como produto próprio.

Também nisso têxteis e calçados têm sido os mais afetados. Em 2013, o Paraguai vendeu ao Brasil 553 mil pares de sapatos e 5,4 milhões de peças, em negócios que chegam a US$ 31 milhões. O detalhe é que o Paraguai tem cerca de 500 fábricas de calçados, quase artesanais, que produzem 5 milhões de pares por ano. Apenas a cidade de Franca, em São Paulo, um dos polos calçadistas do País, tem a mesma quantidade de indústrias. "Os calçados vêm da Ásia, fazem um passeio pelo Paraguai, ganham validade e escapam dos impostos, que chegam a 35% no caso dos calçados prontos e 18% para as partes", explica Hélio Klein.

Por enquanto, apenas do Uruguai os exportadores brasileiros não têm queixas. Aberto, o país não cria barreiras nem problemas. No entanto, com um PIB de US$ 55 bilhões e uma população de 3,4 milhões de pessoas, o pequeno país do Sul não consegue compensar os problemas dos demais vizinhos.

Com uma corrente de comércio próxima de US$ 50 bilhões em 2013, o Brasil tem um superávit próximo a US$ 10 bilhões com o bloco. No entanto, o Mercosul é apenas o quarto parceiro comercial do País, e suas trocas comerciais são a metade daquelas com a União Europeia.

Nos próximos dias, o Mercosul tenta finalizar em conjunto uma oferta para abrir, ainda em março, as negociações para um acordo comercial com a União Europeia. A ação integrada, no entanto, não consegue esconder que, entre si, os cinco países do bloco mal conseguem se entender como parceiros preferenciais de comércio. Entre barreiras cada vez maiores da Argentina, calotes a fornecedores na Venezuela e triangulação de produtos chineses no Paraguai, o Brasil tem tantas dores de cabeça quanto benefícios ao tentar administrar a relação com os vizinhos.

Apontada como uma promessa de grandes negócios ao ser incorporada quase na marra ao Mercosul, a Venezuela hoje se transformou em mais um problema. O governo de Nicolás Maduro, ao contrário da Argentina, não tem o menor problema em importar quase tudo o que consome. A dificuldade reside em pagar as contas, o que não vem ocorrendo. O governo não revela o número, mas não são poucas as empresas que ainda não viram a cor dos dólares devidos. Estimativas apontam que a Venezuela está devendo no mercado algo próximo a US$ 1,5 bilhão apenas ao Brasil - US$ 10 bilhões no total.

O governo brasileiro vem negociando desde outubro, mas sem sucesso. A falta de caixa dos venezuelanos é conhecida, especialmente depois que a exportação de petróleo para os Estados Unidos caiu drasticamente no último ano, mas o calote prejudica até mesmo a tentativa de estabilização política do país, já que a escassez só aumenta. "Uma empresa que não receba antecipadamente simplesmente não vende mais. Ninguém tem coragem", conta o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro.

Básicos

Com quatro taxas de câmbio, indo desde a oficial, em 6,30 bolívares por dólar, até o câmbio negro, que chega a 87 por dólar, só consegue importar a empresa para quem o governo venezuelano libera recursos no oficial. Normalmente produtos de primeira necessidade. A indústria brasileira de carne e derivados é uma das maiores prejudicadas. No entanto, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne prefere nem tocar no assunto. Consultada pelo jornal O Estado de S. Paulo, limitou-se a enviar uma nota em que classifica o país vizinho como "um importante mercado" e declara o interesse em "estreitar relações" com a Venezuela.

No outro lado do Mercosul, a sempre complicada relação com a Argentina ficou pior nos últimos meses, e a crise cambial enfrentada pelo país não permite ver nenhuma melhoria futura. As estimativas mais otimistas da AEB são de que as exportações cairão US$ 3 bilhões este ano, ou mais de 15% em relação a 2013. A combinação de um peso fraco, falta de reservas cambiais e as consequentes barreiras impostas para tentar minimizar os problemas financeiros terão impacto direto nas exportações brasileiras.

"Os já tradicionais problemas que temos com a Argentina ficaram um pouco piores. A situação está difícil e o cenário econômico do país, muito preocupante. Claro que nós seremos os mais afetados", disse Castro. No início de dezembro, a Argentina anunciou redução de 27,5% nas importações de veículos só no primeiro semestre de 2014. O impacto direto na balança comercial brasileira não será pequeno, já que 87% das exportações da indústria automobilística vão para a Argentina.

Demora

Os problemas com a Argentina começam nas Declarações Juradas Antecipadas de Importações (DJAIs), que deveriam ter prazo máximo, em casos excepcionais, de 60 dias, mas têm levado até um ano. São uma forma de a Argentina segurar a saída de dólares. Os setores calçadista, têxtil e de autopeças têm sido os mais afetados.

"Tivemos um sério prejuízo em 2013, uma venda de mais de 400 mil pares que não se concretizou. Até agora, nada mudou", explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados), Heitor Klein. "Há uma total imprevisibilidade. É muito difícil fazer negócio assim." Recentemente, o governo argentino acrescentou mais uma dificuldade aos negócios: compras acima de US$ 300 mil precisarão de autorização especial do Banco Central para emissão de divisas, o que deve aumentar ainda mais os prazos e, em muitos casos, simplesmente impedir importações.

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