As ações da Forja Taurus — agora chamada Taurus Armas — bombaram durante a campanha eleitoral com a perspectiva de vitória de Jair Bolsonaro (PSL), mas o período também penalizou seu balanço, informou a empresa na quarta-feira (14).
A forte valorização do dólar ante o real no terceiro trimestre, diz a Taurus, impactou suas despesas financeiras e contribuiu para um prejuízo de R$ 44,6 milhões — 141% acima do registrado no mesmo período do ano passado.
No acumulado em nove meses, o prejuízo soma R$ 137,2 milhões, 172% superior ao mesmo período de 2017.
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“Essa valorização afeta, principalmente, os empréstimos contratados em dólar, que no final de cada trimestre são precificados pela cotação do último dia do trimestre”, disse a Taurus no balanço.
Em 29 de junho, o dólar comercial era cotado a R$ 3,889. Em 28 de setembro, havia subido quase 4%, para 4,038%. No ano, a moeda americana acumula alta de 14%.
“Temos uma dívida que veio do passado e que é basicamente dolarizada. Com a variação grande do dólar no trimestre, a divida aumentou proporcionalmente. O que nos deixa confortáveis é que 80% do nosso faturamento também é em dólar, então temos um hedge [proteção] natural da dívida”, disse à reportagem Salesio Nuhs, presidente da Taurus.
As despesas da companhia avançaram 1% no terceiro trimestre, na comparação com 2017, e 18% ante o segundo trimestre deste ano. Em nove meses, porém, houve redução de 3,8%.
Em relação ao segundo trimestre deste ano, quando o prejuízo da Taurus foi de R$ 94 milhões, o desempenho negativo da companhia caiu pela metade.
Entre julho e setembro, as receitas da Taurus avançaram 3%, com impulso significativo na venda de armas no Brasil. Enquanto as exportações desse segmento aos Estados Unidos recuaram 4%, na comparação com 2017, a venda de armas no mercado local saltou 52%.
Embora a demanda brasileira represente fatia pequena do faturamento da companhia, Nuhs diz que o avanço local é importante porque “mostra recuperação de credibilidade da empresa”.
Nuhs assumiu a Taurus no início deste ano, após a renúncia de executivos em meio à situação financeira crítica da companhia, envolvida ainda em investigações sobre falhas em seus equipamentos.
“Os problemas que foram levantados lá atrás foram resolvidos, morreu, faz parte do passado, ou seja, recuperamos a credibilidade do cliente no Brasil e isso nos deixa fortes para competir também lá fora”, afirma o executivo.
Segundo a empresa, a forte valorização do dólar não gerou efeito no caixa da empresa porque “a dívida está reperfilada no longo prazo”.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos e amortizações) do terceiro trimestre foi de R$ 24,3 milhões, ante um Ebitda negativo de R$ 27,6 milhões no ano passado.
Subida meteórica
Enquanto a empresa acumulava prejuízos, as ações da Taurus subiam 76% no terceiro trimestre e, no ano, têm valorização de 136,3%.
No último dia de pregão antes do segundo turno da eleição presidencial, em 26 de novembro, os papéis atingiram a máxima em 2018 de R$ 11.
Analistas apontam que a disparada se explicou por investidores “comprados em Bolsonaro”, isto é, que apostavam na vitória do candidato do PSL.
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O presidente eleito não só diz que as Forças Armadas precisam ser melhor equipadas, como defende a reformulação do Estatuto do Desarmamento, de modo a flexibilizar a posse e uso de armas à população, o que poderia aumentar a demanda pelos produtos
Desde que o pleito foi definido, porém, as ações da Taurus caíram 54%, cotadas a R$ 5,08.
“A movimentação da Bolsa é uma coisa de que não temos controle nenhum. Existem fatores externos sobre os quais não temos controle. Focamos no que temos controle, ou seja, rentabilidade, qualidade, tecnologia e novos produtos”, diz Nuhs.
Dívida
Em setembro, o endividamento líquido da empresa somava R$ 887,5 milhões, sendo 82% em moeda estrangeira.
A Taurus informou que conseguiu alongar em cinco anos o prazo de vencimento de dívidas com credores, no valor de cerca de US$ 162 milhões, incluindo um período de carência em 2018 e amortizações mensais, e não mais trimestrais, a partir de 21 de janeiro de 2019. As taxas também foram cortadas pela metade, segundo Nuhs.
Em outubro, o conselho de administração da Taurus aprovou também a emissão de bônus para reduzir seu endividamento.
A empresa vai emitir 74 milhões de bônus de subscrição de ações preferenciais, que são uma espécie de opção de compra oferecida por sociedades anônimas (empresas sem um dono específico) unicamente a seus acionistas.
Ao adquirir o bônus, o acionista ganha o direito de subscrever (comprar em primeira mão) ações adicionais colocadas à venda pela empresa a um valor predeterminado.
Se forem efetuadas todas as subscrições, a Taurus poderia captar cerca de R$ 380 milhões.
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