A ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, sorri para Paulo Bernardo na divulgação do balanço do PAC: governo diz que o aumento da carga tributária foi devolvido à sociedade| Foto: Elza Fiúza/ABr

Aeroportos

Ministro diz que trabalho do Ipea é desqualificado

Em tom árduo e visivelmente aborrecido, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou ontem que é "desqualificável e desqualificado" o diagnóstico do setor aéreo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na última segunda-feira. Jobim usou verbos fortes – como "mentir" – para classificar o que chamou de erros em uma série de citações e números divergentes do estudo, em relação aos dados da pasta. O Ipea informou que não iria comentar as declarações. "Os números são totalmente desqualificáveis e o trabalho é totalmente desqualificado. O Ministério da Defesa encomendou para o BNDES via (a consultoria) McKinsey um estudo sério da estrutura da aviação civil", afirmou Jobim.

Entre os principais dados destacados pelo Ipea no início da semana estava a situação de pré-colapso em dez aeroportos essenciais, incluindo Brasília, Santos Dumont, Congonhas, Guarulhos e o Afonso Pena, que atende Curitiba. Nas contas do instituto, os terminais estariam acomodando muito mais pousos e decolagens do que a capacidade original dos pátios.

Ataque

Jobim partiu para o ataque, questionando a qualidade técnica do estudo do Ipea. O ministro criticou a abordagem do estudo sobre a distribuição de "slots" (horários de pouso e decolagem) nos aeroportos e afirmou que os números de capacidade dos terminais estavam errados. Para Jobim, em vez dos 36 slots por hora em Brasília apresentados pelo Ipea, são 45, assim como em Congonhas são 34 e não 24, por exemplo. "Ou seja, os dados são absolutamente errados", disse o ministro.

CARREGANDO :)

Fortemente beneficiado pelos financiamentos habitacionais concedidos pela Caixa Econômica Federal e os bancos privados, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) apresentou sensível melhora em sua execução no primeiro quadrimestre. Mesmo assim, a apenas sete meses do fim do governo Lula, apenas 46,1% das ações anunciadas em 2007, quando o programa oficial foi lançado, foram concluídas – índice que representa R$ 302,5 bilhões em investimentos. Apesar da defesa veemente do governo sobre a contabilidade desses dados – que só passou a ocorrer em agosto de 2009 –, a exclusão do crédito imobiliário às famílias reduz o percentual de conclusão de obras para 22%, pouco mais de R$ 144 bilhões.De acordo com o 10º Balanço Quadrimestral do PAC, nos 40 meses de vigência do programa foram desembolsados R$ 463,9 bilhões dos R$ 656,5 bilhões previstos. Desse total, R$ 154 bilhões são das estatais, R$ 98,1 bilhões do setor privado e R$ 41,8 bilhões do Orçamento público. A maior parcela – R$ 157,9 bilhões – vem dos financiamentos habitacionais.

Para a coordenadora do PAC na Casa Civil, Miriam Belchior, os valores do crédito imobiliário não distorcem o resultado final, pois o governo os incluiu no programa desde o início. Segundo ela, se não fosse a intervenção governamental, esses valores não teriam dado um salto nos últimos anos. "As mudanças promovidas pelo governo no âmbito do CMN [Conselho Monetário Nacional], para obrigar os bancos a aplicar em financiamento habitacional, garantiram que os financiamentos crescessem de R$ 5,7 bilhões em 2002 para R$ 44 bilhões ano passado. Tem ação do governo. Isso alavanca a economia, defendeu Miriam.

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Sem Dilma

Introduzido pela ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, o 10º balanço foi o primeiro sem a presença da ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência. Miriam Belchior fez questão de destacar os aspectos sociais do programa. Ao contrário do que ocorria anteriormente, iniciou sua apresentação não pelas obras de transporte e energia, mas pela transposição e revitalização do rio São Francisco e depois as áreas de habitação e saneamento.

Miriam não quis fazer projeções de quanto do programa será entregue até o fim do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas insistiu que o desempenho atual é excelente. "Eu queria retomar uma observação que a ministra Dilma Rousseff vinha fazendo em relação ao PAC: ele foi fundamental para retomar o planejamento em infraestrutura no país e esse nos parece o principal legado do PAC 1", afirmou.

Mas a coordenadora do programa admitiu que alguns pontos do programa são mais lentos do que outros. É o caso daqueles que estão sob execução de prefeituras e governos estaduais. Assegurou, porém, que a maior parte do programa caminha de forma satisfatória. "Ninguém tinha a ilusão de que o TAV (trem de alta velocidade, que ligará o Rio a São Paulo) ia ficar pronto em 2010. Nem em 2014", emendou Miriam, embora o governo já tenha feito esta projeção.

Preocupantes

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Entre todos os setores avaliados, o de aeroportos continua sendo o grande destaque negativo, com o maior número de obras com carimbo vermelho (preocupante). É o caso das obras dos aeroportos de Brasília, Macapá e Vitória e do aeroporto de Guarulhos, que tem o carimbo amarelo (atenção). Segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, isso se deve a problemas judiciais. A 3ª etapa das concessões rodoviárias também saiu do estágio "adequado" para "atenção", por problemas com o TCU.Para oposição, anúncio é de "lista de intenções"

"O governo vende gato por lebre", criticou o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), sobre o balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado pelo governo. Ao incluir o montante de financiamento habitacional à pessoa física no balanço do PAC, na avaliação de Agripino, o governo tenta maquiar os números. "Esse governo insiste no cacoete de anunciar como coisa feita uma lista de intenções", afirma.

O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, João Almeida (BA), também criticou os números anunciados ontem. Almeida afirma que, segundo levantamento feito por ele no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), do total de investimentos do PAC previstos no Orçamento de 2010, só 4,65% foram pagos até o fim de maio. "Esse número é o que interessa. O resto é pura propaganda. O que fizeram as estatais e a iniciativa privada não deveria constar no balanço", criticou o tucano.

Contra-ataque

O governo, por sua vez, já montou o contra-ataque ao discurso oposicionista de que a gestão petista fez oito anos de farra fiscal. Com uma ampla compilação de números, o secretário de Política Econômica e ministro interino da Fazenda, Nelson Barbosa, argumentou que o aumento da carga tributária federal foi devolvido à sociedade, na forma de transferências de renda e investimentos. O próprio presidente Lula afirmou esta semana que países com baixa carga tributária são, em geral, nações em que "o Estado não pode fazer absolutamente nada".

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