A Mercedes-Benz inaugurou na quarta-feira (23), sua fábrica de automóveis em Iracemápolis, interior de São Paulo, fruto de um investimento de R$ 600 milhões. Diante da crise que levou o setor automotivo a registrar em 2015 o pior resultado em vendas dos últimos oito anos, e sem perspectivas de melhora, o projeto começa menor do que o previsto.
A produção anual deve ficar em torno de 12 mil veículos, ante uma capacidade de 20 mil. Um segundo turno de trabalho, previsto para início de 2017, foi descartado. “Hoje não temos previsão de quando começará”, diz Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil.
A fábrica inicia operações com 500 funcionários e a produção do sedã Classe C. No segundo semestre entrará em linha o utilitário GLA e, até dezembro, o quadro deve chegar a 750 trabalhadores. Na conta inicial seriam mil trabalhadores. Apesar da produção local, os preços dos dois modelos serão iguais aos das versões importadas. O Classe C parte de R$ 157,9 mil e o GLA de R$ 143,9 mil. No momento não há planos de exportação, pois os preços locais não são competitivos.
Por enquanto, a fábrica recebe a maioria dos componentes da matriz alemã e realiza a montagem final dos veículos. Na segunda metade do ano vão entrar em operação as áreas de armação e pintura. Peças como bancos e pneus são adquiridas no país, e o conteúdo nacional aumentará ao longo dos meses.
A fábrica é flexível e poderá ajustar a produção de acordo com o mercado, inclusive em relação aos produtos. O portfólio global da marca tem 35 modelos e, segundo Schäfer, qualquer um que se encaixe no perfil brasileiro poderá ser feito na unidade. A linha de montagem tem baixa automação. Isso permite maior flexibilidade à produção, segundo a empresa.
Preocupação com a crise
“A nova planta expressa nosso comprometimento com o Brasil”, diz Markus Schäfer, membro da direção mundial da Mercedes. O grupo está preocupado com a crise, mas acredita na força do país no longo prazo. “O Brasil é uma das maiores economias globais e as dificuldades atuais devem ser superadas.”
Apesar de não ter cogitado adiar a abertura da fábrica – como fez a Honda, cuja filial de Itirapina (SP) está pronta, mas sem previsão de inauguração –, Schiemer ressalta ser fundamental a volta da confiança na economia. “O Brasil perdeu toda sua credibilidade.”
Para ele, o maior problema é o desajuste fiscal, que afasta investidores. “O Brasil tem de voltar a crescer e a inflação e os juros precisam cair”, diz. “Esse seria o melhor cenário, mas não vejo isso no curto prazo”. O executivo também reclama do câmbio. “A variação atrapalha muito, pois não temos nenhuma base e é difícil trabalhar assim.”
Experiência anterior
A Mercedes já teve uma experiência no passado com a fábrica de carros em Juiz de Fora (MG), que produzia o Classe A, e funcionou entre 1999 e 2005. “Era um produto errado no momento errado”, diz Schiemer. Hoje, a unidade mineira produz caminhões. O grupo está no Brasil há 60 anos e também faz caminhões e ônibus em São Bernardo do Campo (SP).
Outras montadoras
Da leva de fabricantes de veículos premium que anunciaram fábricas, falta só a inauguração da Jaguar Land Rover, em abril. A BMW abriu fábrica em outubro de 2014 e a Audi, um ano depois. Schiemer prevê que as três marcas alemãs devam vender este ano entre 45 mil e 50 mil veículos, abaixo de 2015.
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