Com perspectivas de estagnação em 2022, a economia brasileira só não deve encerrar o ano com queda do Produto Interno Bruto (PIB) em razão da produção do agronegócio. Apesar do cenário de estiagem que vem derrubando as estimativas de safra das regiões Sul e Centro-Sul do país desde o ano passado, o PIB do setor tende a observar um crescimento de 3%, segundo a mediana de projeções de analistas do mercado, podendo chegar a 5,2% na previsão mais otimista.
O cenário, a se confirmar, colocaria o agro como único segmento com crescimento expressivo, contrastando com a expectativa de retração de 0,6% da atividade industrial e de ligeira alta de 0,5% do setor de serviços, segundo o último Boletim Focus. Na mediana de previsões de instituições do mercado financeiro, o PIB do país deve ter alta de apenas 0,3%.
O desempenho da agropecuária poderia ser ainda melhor, não fossem as condições climáticas adversas. Desde o ano passado, estados das regiões Sul e Centro-Oeste sofrem com a estiagem, provocada pelo fenômeno La Niña. A falta de chuvas deve provocar uma queda de cerca de 9% na safra de soja na comparação com a colheita anterior, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“A influência do fenômeno La Ninã interferiu fortemente nas precipitações registradas. Praticamente toda a região Sul e parte do Mato Grosso do Sul sofreram restrição hídrica severa em novembro e dezembro, além de altas temperaturas, que provocaram drástica queda de produtividade nas áreas”, explicou o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sergio De Zen, na divulgação do 5.º Levantamento da Safra de Grãos 2021/2022, no dia 10.
Por outro lado, a mesma queda na produção, associada ao aumento na demanda em todo o mundo, têm elevado a cotação das commodities no mercado global. Na bolsa de Chicago, o contrato futuro da soja com vencimento em março subiu mais de 16% desde o início do ano e já opera no maior patamar já registrado. A previsão da Conab é que 80 milhões de toneladas de soja sejam exportadas este ano.
Além disso, outras culturas, mesmo com o clima adverso, devem ter aumento na produção. “Há uma expectativa de recuperação principalmente em relação a duas safras que tiveram quebras muito fortes no ano passado: a cana-de-açúcar e o milho”, diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Pode ser que a gente tenha surpresas positivas, principalmente no segundo semestre”, avalia.
O economista, no entanto, mantém a cautela em relação às projeções. “O problema é que a questão climática ainda está muito volátil. Estamos vendo repercussões muito grandes do clima, e isso tem causado divergências de expectativa. Não tem muito como fazer grandes previsões”, diz Vale.
Nas estimativas da Conab, deverão ser colhidos 112,34 milhões de toneladas de milho na safra 2021/22, um incremento de 29% em relação à safra anterior. “Esse aumento é devido aos preços atrativos praticados pelo mercado e pelo plantio realizado na janela ideal da soja, principal cultura que antecede o milho”, disse De Zen.
Uma alta expressiva, de cerca de 180%, no preço médio de fertilizantes, pode provocar uma redução nas margens dos produtores, afetando a produtividade ou mesmo a área plantada da safra 2022/2023, ressaltam os economistas Thiago C. Angelis e Myriã Bast, do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. A disparada dos preços dos insumos reflete questões não relacionadas ao setor, que vão desde custos elevados de energia em todo o mundo até questões geopolíticas.
“Porém, com custos refletindo as condições ainda de 2021 e preços da safra atual em patamares mais elevados, os produtores de grãos devem apresentar margens recordes neste ano”, afirmam os analistas em relatório divulgado no início do mês. O banco projeta uma expansão do PIB do agronegócio de 4,4% para 2022.
Em volume de produção, a previsão atual da Conab é de 268,2 milhões de toneladas na safra de grãos de 2021/22. Se confirmado, o volume representa um crescimento de 5%, ou 12,79 milhões de toneladas a mais do que o colhido na temporada passada.
Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima em 271,9 milhões de toneladas a safra agrícola de grãos em 2022, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de janeiro, divulgado também no dia 10. A projeção supera em 18,7 milhões de toneladas, ou 7,4%, o desempenho do ano passado. Os números fariam da safra de 2022 recorde, ainda que tenham sido revisados para baixo em 1,9% em relação às estimativas de dezembro de 2021.
Relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP calcula que o agronegócio correspondeu a cerca de 28% de todo o PIB brasileiro, considerando os três primeiros trimestres em 2021. Em 2020, a fatia foi de 26,6%.
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