Mesmo sendo os empréstimos mais caros da praça, o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito vêm crescendo este ano em um ritmo mais acelerado que outros financiamentos mais baratos, como o consignado e o empréstimo pessoal. Economistas explicam que a maior procura por essas linhas pré-aprovadas sinaliza que a população está com o orçamento mais apertado, num cenário de inflação alta, em que a renda das famílias está sendo corroída. Por serem de acesso automático, os brasileiros incorporam esses limites ao orçamento, sem se dar conta da bola de neve formada pelos juros altos.
"Com o orçamento apertado, as linhas pré-aprovadas acabam sendo as mais procuradas, porque o cliente não precisa se submeter à burocracia para obter um empréstimo pessoal ou consignado. Os bancos estão mais seletivos para conceder crédito, o que também leva os que precisam de socorro financeiro às linhas automáticas", explica Miguel Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
"Pessoas aderem sem pensar"
De acordo com os números do Banco Central, a utilização do rotativo do cartão de crédito cresceu 17,5% entre janeiro e outubro, somando R$ 268 bilhões apesar de seu juro médio estar em 10,90% ao mês. No cheque especial, com taxas médias de 8,56%, o crescimento é de 5,5%, com a utilização de R$ 281,3 bilhões também até outubro. No mesmo período, a busca pelo crédito consignado, que tem juros mais baixos (de 2% a 3% ao mês) porque as parcelas são descontadas no contracheque, cresceu 4,8%, totalizando R$ 17,2 bilhões. No empréstimo pessoal, com taxas três vezes mais baixas que as do cartão de crédito, houve um recuo de 1,9% nas concessões este ano, na comparação com 2013. Até outubro, foram emprestados R$ 68,2 bilhões nessa linha de crédito.
Para Nicola Tingas, economista da Associação Nacional das Instituições de Crédito e Financiamento (Acrefi), o brasileiro sempre acredita que o problema vai se resolver no mês seguinte, o que atrasa a renegociação da dívida.
"A pessoa acaba aderindo sem pensar que o juro alto vai aumentar o rombo no orçamento", afirma Tingas.
O microempresário Caio Alexandre Padula, de 38 anos, está pendurado no cheque especial há pelo menos um ano. Todo mês, ele usa R$ 6 mil de seu limite para pagar todas as suas despesas. Com taxa média de 8,56%, ele já desembolsou R$ 10 mil só com juros. Se usasse o empréstimo pessoal, pagaria juros de 3,51% ao mês.
"Agora esse limite já está incorporado ao meu orçamento. É como se eu pagasse um mensalidade para ter esse dinheiro à minha disposição, sem burocracia", afirma ele.
Inadimplência aumenta Miguel Ribeiro, da Anefac, lembra que, com os juros altos do cheque especial e do cartão de crédito, muita gente acaba dando calote. No rotativo do cartão de crédito, por exemplo, a inadimplência é de 36,8%, contra 34,5% em janeiro. A inadimplência média das operações de crédito gira em torno de 3%.
"A pessoa deve ter em mente que o limite do cheque e o cartão de crédito são para emergências, não são renda", diz Ribeiro.
O professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) William Eid recomenda trocar a dívida cara por outras com juros mais baixos, de preferência o consignado, mesmo que o prazo para pagamento seja mais longo.
"O importante é saber o custo efetivo total da dívida. Muitas vezes, por causa do prazo de pagamento muito longo, a pessoa prefere ficar no cheque especial, achando que no mês seguinte vai sair do limite. Mas essa é, definitivamente, a pior alternativa", orienta.
Outra solução é renegociar os débitos com os bancos e promover cortes drásticos no orçamento, explica Eid, como saídas para comer fora e algumas opções de lazer.
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