O preço do etanol na usina chegou ao seu pico nos últimos quatro meses. No período de entressafra, o preço do litro de etanol hidratado saltou de R$ 1 no fim de outubro do ano passado para R$ 1,23 nesta semana. Curiosamente, o ápice do preço do combustível no início da sua cadeia coincide com o momento em que ele passa a valer a pena para quem tem a opção de escolher entre a gasolina e o biocombustível.
De acordo com a média de preços calculada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), o valor do litro do etanol na bomba está 68% o preço da gasolina em Curitiba. Enquanto o combustível a base de cana está, em média, R$ 2,02 o litro na cidade, a gasolina custa R$ 2,95 ao motorista.
Em função da diferença de desempenho que os dois combustíveis proporcionam, na maioria dos carros flex vale mais a pena abastecer com o álcool quando o preço do biocombustível está abaixo de 70% do valor do litro da gasolina.
A proporção apontou a vantagem do etanol depois que a Petrobrás aprovou o reajuste de 6,6% para a gasolina nas refinarias. No período o etanol também apresentou aumento ao consumidor final, mas de apenas 2%.
A tendência é que no meio do ano a diferença de preço dos dois combustíveis fique ainda maior. Em maio começa o período de colheita da nova safra de cana-de-açucar, que deve ser 10% maior que no ano passado.
Até lá, o cálculo deve ser feito caso a caso. Isto por que o preço das distribuidoras aos postos de gasolina são rejustados diariamente. "É um mercado muito volátil e com uma margem muito baixa. A distribuidora dita o preço na bomba", afirma o proprietário de seis postos de gasolina, Fabiano Zortea. Ainda nesta quarta-feira, dia 20, a Shell já anunciou que vai aumentar em 1 centavo o preço por litro cobrado pelo biocombustível. O reajuste deve ser passado imediatamente para o consumidor.
Ressuscitado
A alta da gasolina e a volta do etanol abaixo de 70% do preço da gasolina ressuscitou o combustível nos postos. Após um ano praticamente em desuso, os consumidores voltaram a usar o álcool e movimentar as distribuidoras.
"Em poucos momentos do ano passado era vantajoso abastecer com etanol. Com o combustível caro, simplesmente não há mercado e limitamos o nosso rol de produtos", afirma Nathanael Ricciardi, proprietário de dois estabelecimentos. Ao longo do ano passado, o etanol era responsável por cerca de 10% do volume de vendas dos seus postos. Neste ano, o combustível representa cerca de um terço das vendas.
Margem dos postos com etanol varia mais de 100%
Ainda que os preços tenham aumentado e sejam bastante parecidos para o consumidor final, o valor de compra de etanol por parte dos postos de gasolina varia bastante. Em média, os postos bandeirados compram o combustível a R$ 1,88 e, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, aqueles que trabalham com "bandeira branca" sem vínculo com um grande distribuidor conseguem comprar o litro do álcool a até R$ 1,64, uma diferença de 14%.
Com os preços ao consumidor variando de R$ 1,89 a R$ 2,09, a margem de lucro bruta por litro de alcool oscila de R$ 0,16 a R$ 0,34, uma diferença superior de 112%.
De acordo com um proprietário de postos de gasolina que prefere não se identificar, os postos que trabalham "com bandeira" têm margem de apenas 10% com o etanol. "Não existe negócio no mundo que sobreviva com uma margem destas."