Poucos crêem que os Estados Unidos conseguirão cumprir suas metas de consumo de biocombustíveis, e a possibilidade de fazer isso apenas com a produção local é baixa. Seria preciso elevar demais a área plantada com milho, matéria-prima do álcool deles, reduzindo a de soja não há como expandir ambas, já que restam poucas áreas agricultáveis não exploradas por lá. Atualmente, as 110 usinas do país têm capacidade para produzir 18,9 bilhões de litros anuais. Até 2010, serão 183 usinas, com capacidade para 41,6 bilhões de litros.
Outro obstáculo ao cumprimento das metas é a produtividade os ganhos teriam de ser ainda mais expressivos que os obtidos nos últimos anos. Fábio Meneghin, analista da consultoria Agroconsult, diz que, há uma década, os EUA produziam 2,1 galões (7,6 litros) de etanol com cada "bushel" (o equivalente a 27,2 quilos) de milho. Essa proporção passou para quase 3 galões (11,4 litros) por bushel.
A intenção dos EUA é comprar mais álcool de países do Caribe e América Central daí a intenção de fomentar a produção por lá. Ao contrário do que acontece com o álcool verde-amarelo, o caribenho não paga tarifas ao entrar nos EUA. Tanto que, hoje, parte das exportações do Brasil vai para o Caribe lá, o álcool hidratado brasileiro, próprio para carros flex ou a álcool, é transformado em anidro, para ser misturado à gasolina.
Quanto ao Brasil, o próprio Bush mencionou a necessidade de eliminar a tarifa de importação que é de US$ 0,54 por galão (US$ 0,14 por litro) mais 2,5% sobre o valor total de cada transação , mas não tomou qualquer atitude em relação a isso. O poder de renovar ou suspender essa sobretaxa está nas mãos do Congresso dos EUA, e poucos parlamentares mostram disposição para retirá-la.
As tarifas servem para anular a competitividade do produto brasileiro. Segundo Meneghin, da Agroconsult, o custo de produção do álcool brasileiro varia de R$ 0,60 a R$ 0,65 por litro. Nos EUA, corresponde a algo entre R$ 0,80 e R$ 0,85 por litro. Com o dólar valendo R$ 2,10, o álcool brasileiro será competitivo sempre que o barril do petróleo ficar acima de US$ 33. No caso norte-americano, é preciso que o barril esteja acima de US$ 60. Sem a taxação, portanto, o produto brasileiro poderia inundar o mercado e irritar todo o Meio-Oeste, conjunto de estados que produzem quase todo o milho, a soja e o trigo dos Estados Unidos.
Tradicionalmente conservadores, os produtores norte-americanos não estão chateados com os bilionários subsídios que recebem do governo cerca de US$ 100 bilhões a cada quatro anos. Em 2006, os subsídios ao milho destinado à produção de etanol ficaram em US$ 7 bilhões. Mesmo que continuem com a ajuda governamental, eles não gostariam de ver o produto brasileiro entrar no país sem taxas. E o estado de Iowa, maior produtor de grãos do país, é onde republicanos e democratas costumam dar largada às suas campanhas presidenciais. Ou seja, por enquanto, só os brasileiros vêem motivos para o fim das tarifas.