O dólar subiu mais de 1% nesta quarta-feira (16) e fechou acima de R$ 3,90 pela primeira vez em um mês e meio, com investidores preocupados com a possibilidade de o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deixar o governo, com o rebaixamento da nota brasileira pela Fitch e antes da esperada elevação dos juros nos Estados Unidos, que foi confirmada por volta das 16h30 (horário de Brasília).
O dólar avançou 1,24%, a R$ 3,9247 na venda. É a primeira vez que a moeda norte-americana encerra acima de R$ 3,90 desde 28 de outubro, quando terminou a R$ 3,9201.
No momento do fechamento do mercado à vista, o Fed, banco central dos EUA, elevou a taxa de juros do país para 0,25%. O dólar futuro ampliou ligeiramente a alta imediatamente após a decisão, para cerca de 1,5%, mas perdeu força em seguida, para cerca de 0,7% de valorização.
Meta fiscal
“A redução da meta fiscal enfraquece cada vez mais o Levy. A permanência dele no governo parece estar com as horas contadas”, disse o operador da corretora SLW João Paulo de Gracia Correa.
Na noite de terça-feira (15), foi divulgado que a meta de superávit primário do setor público consolidado seria reduzida para cerca de 0,5% do PIB, com a possibilidade de que o objetivo seja zerado com abatimentos.
No entanto, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) aprovou nesta quarta a redução da meta, mas sem possibilidade de abatimento. A decisão está em debate no Congresso ao longo desta tarde.
Levy já havia se manifestado abertamente muitas vezes contra a mudança da meta de superávit e até ameaçou, nos bastidores, deixar o cargo caso fosse alterada. O ministro vem encabeçando a campanha pela austeridade fiscal e investidores entendem sua eventual saída do governo como um sinal de mais atrasos no reequilíbrio das contas públicas.
Fed
O quadro de cautela durante a sessão foi intensificado pela aguardada reunião do Federal Reserve. O movimento do câmbio também foi acentuado pela ansiedade durante a sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) que decidirá sobre o rito do processo de impeachment contra Dilma.
De maneira geral, a campanha pelo afastamento da presidente tem sido bem recebida nos mercados, mas muitos se preocupam com os impactos econômicos da incerteza política.
“Sem um grau de investimento e enfrentando problemas políticos e econômicos significativos, o Brasil não está em boa posição para enfrentar as consequências do aumento dos juros pelo Fed”, escreveu o economista para mercados emergentes do banco BBVA, em nota clientes, Enestor dos Santos.
Fitch
No início da tarde, o dólar sofreu mais um baque após a Fitch cortar a nota de crédito do país para “BB+”, contra “BBB-”, citando a recessão mais profunda do que o esperado, o quadro fiscal e a incerteza política. Foi neste momento que o dólar atingiu a máxima do dia, a R$ 3,9676 na venda.
“Era uma certeza, a Fitch só ganhou a corrida. Agora, a Moody’s está atrasada para a festa”, disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
Muitos fundos são obrigados a vender seus ativos brasileiros quando pelo menos duas importantes agências retiram o grau de investimento do país. No entanto, operadores ressaltaram que a decisão já era esperada e parte relevante desse ajuste já havia sido feito no mercado.
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