O aumento do rendimento e a consequente elevação do consumo das classes de renda mais baixa nos últimos cinco anos impulsionou também as compras de produtos piratas. Pesquisa divulgada ontem pela Fecomércio-RJ mostra que mais de 70 milhões de pessoas consomem esses produtos no país e a penetração, que atinge também as classes mais elevadas, tem crescido sobretudo nas camadas de renda mais reduzida.
Enquanto em 2006 a pesquisa mostrava que 42% dos entrevistados compraram alguma mercadoria falsificada, em 2010 esse porcentual foi de 48%. "Há alguns anos consideramos a pirataria como uma epidemia que vem se espalhando por esse estado e pelo país", disse o presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz. Segundo ele, este mercado irregular ganhou mais 14 milhões de consumidores em cinco anos.
Os artigos preferidos são CDs, adquiridos por 79% dos entrevistados, e DVDs (77%). O produtor e diretor do sucesso de bilheteria Nosso Lar, filme que já levou ao cinema mais de 4 milhões de espectadores, Wagner de Assis, compareceu ontem à sede da Fecomércio dizendo-se "desesperado" com a pirataria. Ele disse já ter sido alvo do assédio de camelôs que lhe ofereceram o seu próprio filme nas ruas do Rio e teme que a venda ilegal possa prejudicar o lançamento da obra em DVD, a partir de janeiro. Em 2006, o porcentual de entrevistados que compravam esse produto era bem menor, de 35%.
"O aumento do poder aquisitivo das classes de renda mais baixa favoreceu o aumento de consumo de produtos formais, mas também informais", explica o economista da Fecomércio-RJ João Gomes. Mais de 80% dos consumidores de todas as classes de renda apontaram o preço como principal motivo para aquisição de piratas. Nas classes A e B, 89% citaram esse fator e, nas classes D e E, 98%.
A pesquisa mostrou ainda que a fatia de consumidores do segmento AB que consomem produtos piratas caiu nos últimos cinco anos, mas permanece elevada. Enquanto há cinco anos 53% dos consumidores de alta renda consumiam piratas, em 2010 o porcentual foi de 47%. Gomes disse que, como a demanda prossegue alta, os produtores e distribuidores de piratas estão sofisticando mais os produtos para atender a essa fatia de consumo. Nas demais classes de renda, houve aumento no porcentual de consumidores que compram piratas entre 2006 e 2010, passando de 49% para 53% na classe C e de 32% para 39% na classe E.
O presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria e secretário executivo do Ministério da Justiça, Rafael Favetti, concorda que a migração de classes aumentou o consumo em geral, no país, de produtos lícitos e ilícitos. Ele disse que há uma "visão romântica" no Brasil de que os que produzem e distribuem produtos piratas são "coitados sem emprego". Segundo ele, a realidade é diferente. "Todos os dados que temos de apreensões mostram que quem faz e distribui esses produtos está ligado ao crime organizado", disse. A pesquisa foi realizada em mil domicílios, em 70 cidades, sendo nove regiões metropolitanas.
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