Mais de 80% dos trabalhadores do polo automotivo paranaense cruzaram os braços por causa das duas greves iniciadas na Volkswagen e na Renault, ambas em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Estimativa do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) aponta que 14,4 mil dos cerca de 17,2 mil trabalhadores nas montadoras da região estão oficialmente com atividades paralisadas.
Na Renault, onde a greve teve início ontem, cada dia sem produção significa entre 750 e 800 veículos a menos, considerando as sete versões dos quatro modelos próprios (Logan, Sandero, Mégane e Scénic) e mais três da marca Nissan (Frontier, Livina e Grand Livina), que são produzidos no mesmo complexo. Já o ritmo de produção da Volkswagen, que está parada desde a última quinta-feira, é de 850 unidades diárias das linhas Fox e Golf. A cada dia de greve, portanto, as duas empresas juntas deixarão de abastecer o mercado nacional em pelo menos 1,6 mil automóveis, justamente quando as revendedoras buscam engordar o estoque com veículos produzidos dentro da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Considerando os números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) de agosto, as duas montadoras paranaenses responderam por quase 16% da produção nacional.
O diretor do SMC Jamil Dávila diz que as greves têm potencial para fazer aumentar a fila de espera das concessionárias, e avalia que esse fator pode pressionar as negociações. "O mercado continua aquecido. As montadoras passam por um bom momento, faturando alto, mas se recusam a repassar parte desse lucro para os trabalhadores. Não reconhecem o empenho", discursa.
Até a tarde de ontem não havia sinal de entendimento entre as partes, e rodadas de negociação entre empresas e sindicato devem acontecer na terça-feira. O sindicato rejeitou a proposta da Renault de reposição integral da inflação de acordo com o INPC (estimado pelo Dieese em 4,7%) e abono de R$ 1,5 mil em setembro e cobra 1% de aumento real pendente da negociação de 2008, com um reajuste total de 11%. Já na Volks, os funcionários reivindicam 10% de aumento mais abono de R$ 2 mil, além de elevação do piso salarial para R$ 1,5 mil.
Terceirizados
Números do SMC apontam que cada montadora tem hoje um volume de mão-de-obra terceirizada de aproximadamente 80% dos funcionários efetivos. Os números gerais para a Volks e a Renault são de 4 mil efetivos e 3,2 mil temporários em cada uma, enquanto a montadora de caminhões Volvo tem cerca de 2 mil efetivos e 800 temporários.