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O que aconteceu quando eu celebrei o meu aniversário no dia 11 de julho. E no dia 25. E no 28.

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Boas maneiras, é claro, são apenas artifícios – rituais formalizados, desenvolvidos apenas para lu­­brificação social e que não significam nada. Da cortesia do cotilhão (dança cheia de passos) ao ‘com licença’ do metrô, elas criam mecanismos automáticos para encontros com estranhos e evitar conflitos. Elas são falsas, mas necessárias.

Mesmo assim, existe uma manifestação de boas maneiras que parece ter exatamente o propósito oposto, uma forma de lubrificação social que transforma em piada todas as pessoas conectadas a ela. Estou me referindo aos votos de aniversário do Facebook. Os votos de aniversário do Facebook tornaram-se símbolo de tudo o que existe de irritante sobre as redes sociais. Todo dia 11 de abril ou 7 de ju­­nho ou 28 de setembro, sua conta no Facebook vibra com desejos de aniversário em forma de pontos de exclamação poluídos. Se vo­­cê é um típico usuário do Fa­­cebook, esses votos vêm em sua maioria de seus ‘amigos não-amigos’ – aquele grupo de ‘amigos’ do Facebook que não tem relação nenhuma com seus amigos de verdade. Os votos têm to­­do aquele sentimento de cartão de Natal recebido do seu banco. A torrente de mensagens não é exatamente desagradável, mas fica extremamente óbvio que os votos são programados, enlatados e impessoais, solicitados por um alerta do Facebook. Se, como afirmam os que odeiam o Face­book, as redes sociais nos alienam da amizade genuína, então esses votos enlatados são o exemplo definitivo de sua falsidade.

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Então decidi que, se o Face­book iria me bombardear com falsos votos de aniversário, eu iria bombardear o Fa­­cebook com aniversários falsos. A rainha da Ingla­terra tem dois aniversários todos os anos: por que eu não po­­deria então ter três aniversários no mesmo mês? Eu nasci em 31 de janeiro, mas sempre quis ter um aniversário no verão (do hemisfério Norte). Configurei meu aniversário para o dia 11 de julho, segunda-feira. Então, de­­­­pois de 11 de julho, re­­­­configurei para o dia 25 de julho, também uma segunda-feira. Novamente, re­­configurei para quinta-feira, dia 28 de julho. O Facebook não verifica a sua data de nascimento e não o bloqueia caso quei­­ra co­­me­­morar a data uma vez atrás da outra. Se você for verdadeiramen­te um egomaníaco, pode celebrar seu aniversário todos os dias.

No final de junho, editei meu perfil para marcar meu primeiro aniversário para 11 de julho. Votos antecipados já começaram a pipocar no meu mural em 8 de julho, de alguns ‘amigos’ que estavam indo viajar e não queriam perder o grande dia. Por que ‘amigos’, entre aspas? Eu tenho uma conta do Facebook principalmente por razões de trabalho: eu a uso para alertar conhecidos sobre histórias da Slate (onde trabalho) e postar fotos de eventos da Slate. Faço realmente muito pouca "social" na rede social. Dos meus 1.557 amigos do Facebook, provavelmente já me encontrei pessoalmente com apenas uns 200, e desses eu conto apenas 100 como sendo realmente meus amigos. (Por exemplo, não tenho certeza se sou amigo da minha esposa.)

Na manhã do dia 11 de julho, meu mural estava abarrotado de votos de felicidades e, no fim do dia, 119 pessoas haviam me de­­sejado feliz aniversário – ou, em vez disso, "Feliz Aniversário!!" (o que parece ser a pontuação pa­­drão para votos de aniversário no Facebook). Apenas quatro amigos íntimos e antigos foram céticos sobre eu estar celebrando meu aniversário em julho.

Meu segundo aniversário falso, duas semanas depois, foi quan­­do as coisas começaram a ficar estranhas. Recebi 105 mensagens de aniversário em 25 de julho, quase a mesma quantidade recebida duas semanas antes. Dessa vez, nove pessoas suspeitaram que alguma coisa estava er­­rada. James P., por exem­­­­plo, foi contra a ma­­ré: "Deve ser muito bom ter múltiplos aniversários a cada ano. Ain­­da mais no mesmo mês!’’ Mas os céticos fo­­ram ex­­cedidos em mui­­to pelos desejadores libertinos de votos. Dos 105 desejos de fe­­liz aniversário, 45 de­­les – quase a metade – vieram de pessoas que haviam me parabenizado pelo Facebook duas semanas an­­tes. A cereja no bolo do meu se­­gundo aniversário falso? O Play­­book, famoso informativo do The Politico em Washington, incluiu-me em seus votos diários de aniversário, o que gerou um grande número de votos de parabéns fo­­ra do Fa­­cebook, vindos de amigos informantes em Washing­­ton.

Três dias depois, celebrei meu terceiro e último falso aniversário no Facebook. A minha rede social estava claramente cansada de mim. Recebi apenas 71 votos de parabéns no dia 28 de julho, menos do que os mais de 100 que havia recebido nos meus primeiros aniversários falsos. E uma quantidade ainda maior de céticos pegaram a experiência: 16 pessoas ficaram em dúvida, comparadas às nove de três dias antes. Várias delas observaram que eu parecia estar envelhecendo rapidamente, enquanto Jen M. ameaçou: "Estou quase escrevendo um ensaio investigativo sobre como todo dia é seu aniversário no Fa­­cebook ..’’. No dia seguinte, 29 de julho, Brian S. escreveu: "Estou chocado que hoje não seja seu aniversário no Facebook, pela primeira vez em minha memória recente. ;)’’. Mesmo assim, os de­­sejadores compulsivos ainda exce­­deram os céticos. Quase 30 pessoas me desejaram um feliz aniversário no dia 28, já tendo me desejado um feliz aniversário em um dos meus não-aniversários anteriores. Dezesseis pessoas me enviaram votos de felicidades em todos os três aniversários, sem notar – ou talvez se importar – sobre a repetição. Um amigo até chegou a me desejar quatro felizes aniversários, felicitando-me duas vezes em um dos meus dias falsos.

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Não confunda minha observação com escárnio. A comunica­ção eletrônica em massa está des­­truindo as nossas memórias, já que dependemos de aparelhos pa­­ra evitar que passemos vergonha. Muitos, até demais, dos de­­sejos de aniversário são praticamente autônomos, enviados sem nenhum pensamento ou sen­­timento pessoal. Uma coisa é lembrar do aniversário de seu amigo porque você o levou para sair uma década atrás, na ocasião de seu aniversário/bebedeira de 21 anos de idade. É muito mais ridículo ‘lembrar-se’ do aniversário do seu amigo porque o Fa­­cebook avisou. Um número significativo de usuários do Face­book usa o serviço sem nenhum sentimento, tentando construir um capital social – capital social imerecido – com votos de felicidades que não foram pensados com base em lembranças de aniversários suas, que na verdade eles nem possuem.

David Plotz é editor da Slate, onde este artigo foi originalmente publicado.