Muhammad Yunus, bengalês vencedor do prêmio Nobel da Paz deste ano, descobriu na década de 70 que não é preciso dar dinheiro aos pobres para ajudá-los, basta emprestar. Desde aquela época, o economista vem promovendo o microcrédito em Bangladesh e divulgando o conceito pelo mundo. Empréstimos de pequeno valor, sem as exigências de garantias do crédito comum, ensina ele, são capazes de auxiliar os empreendedores mais carentes a gerar renda e se manter trabalhando.

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A iniciativa valeu a premiação pacifista, mas nem por isso pode ser considerada a fórmula mágica para acabar com a pobreza do planeta. Microcrédito produz bons resultados, segundo especialistas no assunto, quando bem orientado e investido em produção – algo voltado para um universo restrito de beneficiários e com pouco impacto global em países como o Brasil.

A idéia básica da modalidade de crédito lançada por Yunus é permitir que a população com menor poder aquisitivo, sem garantias de pagamento para oferecer, tenha acesso a empréstimos de pequenos valores, a juros mais acessíveis. O segredo deste tipo de crédito não está apenas em oferecer o dinheiro, mas a quem e para que ele é ofertado. Empréstimo gera retorno para o devedor (e pagamento para o credor), quando usado para produzir ou para melhorar a produção de alguma coisa e não simplesmente para consumir. "O princípio é da rotatividade, não distribuição de dinheiro. Se ele não gera nada, não financia o retorno do capital", afirma o professor de Economia Monetária da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernando Cardim de Carvalho.

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Conhecido como "o banqueiro dos pobres", Yunus fundou em Bangladesh o Grameen Bank para emprestar dinheiro a camponesas (94% dos associados são mulheres) para que investissem na produção familiar. Pessoas que trabalhavam por conta própria, mas viviam atreladas a agiotas por falta de dinheiro. "O microcrédito serve para quem quer arriscar fazer por conta própria, mas não resolve o problema daquelas pessoas que têm perfil para ser empregados. Nem todo mundo quer ou tem competência para ser patrão", destaca Carvalho. No Brasil, o público específico de empreendedores carentes, explica o professor da UFRJ, torna o impacto do microcrédito na economia muito restrito. "Não gera renda para o país, porque a parcela da empreendedores carentes é muito pequena em relação ao restante da população. O impacto, deste ponto de vista, não é insignificante, mas também não chega a ser significativo", diz.

Se não pode fazer muito pelo todo, o microcrédito tem grande potencial para ajudar quem tem acesso a ele. O economista Jaime Mezzera, consultor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), explica como usando a teoria econômica: "geralmente um ativo tem rentabilidade alta quando combina-se com grandes quantidades de outro. No caso do microcrédito, um pouquinho de capital combina-se com a grande disponibilidade de mão-de-obra da microempresa".

Todo esse potencial de rentabilidade para quem tem o perfil empreendedor é perdido quando não há acompanhamento do uso do dinheiro, alerta Augusto de Franco, coordenador-geral da Agência de Educação para o Desenvolvimento (AED) e professor de desenvolvimento e responsabilidade social da Fundação Dom Cabral. "É preciso dar orientação, emprestar e se certificar que o dinheiro foi bem empregado. Isso tem um custo alto, que exige um juro compatível, em torno de 3,9% ao mês (taxa cobrada no crédito comum)", analisa. O ideal, na opinião de Franco, para que o microcrédito alcance o objetivo de geração e distribuição de renda, é que a oferta de empréstimo faça parte de programas de desenvolvimento comunitário. "Um plano de desenvolvimento dentro da comunidade, dentro de uma vocação analisada e escolhida para aquele grupo trabalhar e se especializar. No meio de um processo de desenvolvimento comunitário, a própria comunidade vai fazer o papel de acompanhar o emprego do correto do dinheiro", propõe.