Nem as grandes, as médias ou as pequenas. Foram as microempresas, aquelas com até quatro funcionários, que sustentaram o saldo positivo do mercado de trabalho em 2009 no Paraná. Em meio à crise e às incertezas da economia, elas lideraram a geração de vagas, com quase 87 mil contratações, segundo levantamento do Dieese com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
As microempresas tradicionalmente vêm ampliando sua participação na geração de empregos, mas no ano passado elas foram as principais responsáveis pelo saldo positivo, com uma contribuição recorde. Enquanto as pequenas e grandes demitiam em função da turbulência financeira, esses negócios não pararam de crescer. Com exceção das microempresas, apenas as que empregam entre 100 e 500 empregados tiveram saldo positivo em 2009, com 9,6 mil vagas. Graças a essas empresas, o saldo diferença de contratações e demissões fechou positivo em 69 mil vagas em 2009.
As microempresas sempre são uma espécie de "tábua de salvação" em crises e em períodos de encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o economista Sandro Silva, do Dieese-PR. "Foi assim em 2005, em meio à alta de inflação e das taxas de juros", afirma. Voltadas principalmente para o mercado interno, menos atingido pela turbulência econômica, essas firmas ficaram longe de problemas que afligiram as grandes companhias, como a queda nas exportações, a oscilação do câmbio e os altos e baixos do mercado de capitais.
Como empregam pouco, essas empresas geralmente não veem na dispensa de funcionários uma forma rápida de cortar custos. "Esses empresários dependem do negócio para sobreviver. Se uma microempresa demite, ela fecha", diz o diretor superintendente do Sebrae-PR, Allan Costa. Com uma estrutura enxuta, a microempresa também tem como vantagem a velocidade na tomada de decisões e flexibilidade para contornar dificuldades. O fato de a maior parte delas estar nos setores de comércio e serviços menos afetados pela queda da demanda do que a indústria, por exemplo também ajuda a explicar o desempenho.
Crescimento
Os empresários Carlos Roberto Santin e Eduardo Arminante, donos da locadora de veículos Curitiba Rent a Car, estão entre os que passaram ao largo da crise. Os dois sócios, que comandavam sozinhos o negócio, criado em maio de 2008, contrataram sete empregados no ano passado e mais dois no início deste ano. A frota de veículos, que começou com três unidades, foi para 130 no fim do ano passado e hoje está em 160. A previsão é encerrar o ano com uma frota de 200 veículos. "Conseguimos nos diferenciar das grandes locadoras e achar um nicho para nossa empresa", afirma.
Para o superintendente do Sebrae, as microempresas também vêm se beneficiando, nos últimos cinco anos, do fenômeno de ascensão social, com o aumento do número das pessoas das classes C e D. O avanço da renda e do emprego formou uma nova geração de consumidores que, muitas vezes, se tornam clientes das microempresas. "É o salão de beleza, o pequeno comércio de roupas, que surge e que cresce com essa demanda", afirma.
Saldo
Entre 2004 e 2010, as microempresas foram responsáveis por 82% do saldo de vagas no mercado formal do Paraná. Allan Costa, do Sebrae, acredita que elas devem chegar a 90% de participação, impulsionadas pelo programa microempreendedor individual, que vai reduzir a burocracia e estimular a formalização daqueles empresários que empregam até um funcionário.
O Sebrae-PR calcula que o número de formalizações possa chegar a 50 mil neste ano. "Se na crise as micros geraram empregos, com a economia crescendo elas devem gerar ainda mais", afirma. As projeções para o emprego em 2010 são boas para empresas de todos os tamanhos. A expectativa é que as vagas perdidas em 2010 voltem a aparecer no mercado.
O levantamento do Dieese mostra que empresas com entre cinco e 99 funcionários concentraram as perdas do ano passado no Paraná: fecharam 19,7 mil vagas. Entre as com mais de 500 empregados, os cortes atingiram 7,6 mil vagas.