Os preços do minério de ferro fecharam com forte queda na segunda-feira, 10, de 8,3%, negociados a US$ 104,70 a tonelada (teor de 62% negociado no porto chinês de Tianjin), referência no mercado internacional, atingindo a maior baixa em 18 meses. A forte desvalorização da commodity reflete os indicadores econômicos da China, que divulgou queda de 18,1% nas exportações em fevereiro sobre o mesmo período do ano anterior.
A queda dos preços da commodity contaminou as ações da mineradora Vale, que encerraram o dia a R$ 26,37, recuo de 2,66% e das siderúrgicas CSN, com baixa de 3,28%, a R$ 8,85; Gerdau, com queda 2,08%, a R$ 13,65; e Usiminas, a R$ 8,72, com desvalorização de 4,07%. O efeito China - que no fim de semana divulgou um surpreendente déficit de comercial de US$ 22,98 bilhões em fevereiro - e as incertezas com a crise na Ucrânia derrubaram o índice da Bovespa (Ibovespa) ontem (10), que voltou a fechar abaixo dos 46 mil pontos pela primeira vez desde julho de 2013. A bolsa caiu 1,5%, para 45.333 pontos.
Além dos números da China, pesa sobre o minério a expectativa de aumento de capacidade global de produção para os próximos três anos, em cerca de 200 milhões de toneladas, sobretudo de projetos da Austrália. A queda da commodity tem exercido também forte pressão sobre as siderúrgicas, principais consumidoras de minério, segundo especialistas.
"O aumento dos estoques de minério de ferro na China entre o fim do ano passado e o início deste ano preocupa no curto prazo. O setor siderúrgico do país também apresenta uma acomodação", disse Victor Penna, analista do Banco do Brasil.
A expectativa do mercado é de que as cotações do minério fiquem entre US$ 110 e US$ 120 a tonelada nos próximos meses. "Uma queda mais acentuada poderá afetar projetos de mineradoras pouco competitivas", disse Penna. "Gigantes como BHP, Vale e Rio Tinto conseguem ter custos de produção entre US$ 40 e US$ 50 por tonelada. Mas outras companhias não conseguem viabilizar projetos, caso as cotações atinjam patamares entre US$ 80 e US$ 90 por tonelada." No Brasil, a projeção é de queda nos investimentos do setor.
Apetite chinês
A China, maior consumidora global de minério de ferro, foi responsável pelo consumo de cerca de 70% do total negociado em 2013, um pouco mais de 1 bilhão de toneladas, de acordo com relatório da Word Steel Association (Associação Mundial do Aço).
Para o especialista em mineração José Mendo de Souza, da consultoria J. Mendo e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), as atuais flutuações de preços não significam que as cotações devem seguir um ritmo de queda para os próximos meses, como estimam alguns analistas.
"A China reiterou que vai manter um crescimento de 7,5% no ano, o que não é exatamente ruim. A economia americana está reagindo. Com os projetos de shale gas (gás de xisto) avançando, as indústrias de base vão começar a expandir", disse. Segundo ele, muitos projetos anunciados, como os de Simandou, na África, ainda estão longe de sair do papel. Colaboraram Fernanda Guimarães e Silvio Campos Neto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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