Esplanada dos Ministérios, em Brasília: pastas disputam os 5% do Orçamento que são de livre manejo.| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Ouça este conteúdo

Na reta final de envio do Orçamento ao Congresso, os ministérios estão disputando mais verba para investimento e custeio da máquina pública em 2021. A equipe econômica tem que enviar a proposta orçamentária até o dia 31 deste mês e, enquanto não fecha o projeto, vem recebendo pedidos para aumentar o dinheiro que será disponibilizado para as chamadas despesas discricionárias, de livre manejo.

CARREGANDO :)

As discussões estão acontecendo desde meados de abril, mas se intensificaram neste mês de agosto, prazo final para enviar o projeto de lei orçamentária anual (PLOA) de 2021. Segundo documentos obtidos pela Gazeta do Povo, diversas pastas pediram para aumentar a verba destinada às despesas discricionárias na versão inicial do Orçamento, que é elaborado pela equipe econômica. A maior parte dos pedidos foi atendida.

Ainda assim, o próximo ano será marcado por restrições orçamentárias, já que o Orçamento trilionário do governo federal deverá ser consumido em 95% pelas chamadas despesas obrigatórias, ou seja, pagamentos com salários, aposentadorias e pensões, que precisam ser quitados. Devem sobrar somente 5% para as despesas discricionárias. É por esse dinheiro que os ministérios estão brigando, pois é através dele que os ministros poderão tocar os projetos prioritários das suas pastas.

Publicidade

As discussões ocorrem em meio a pressões de ministros para "furar" o teto de gastos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, rechaça as tentativas de romper a "âncora fiscal".

Ele recebeu apoio público do presidente Jair Bolsonaro, que na quarta-feira passada (12) afirmou que o teto e a responsabilidade fiscal são prioridades do governo. No dia seguinte, porém, Bolsonaro disse em sua "live" semanal, ao comentar a briga "no bom sentido" por recursos, que "a ideia de furar teto existe, o pessoal debate". "Qual o problema?", questionou.

Ministérios que devem ter mais verba em 2021

Por enquanto, alguns ministros têm saído vitoriosos na disputa pelos 5% da verba de livre manejo do Orçamento. É o caso, por exemplo, do Ministério da Defesa, que deverá ter verba maior do que a Educação em 2021.

1. Defesa

Publicidade

A Defesa deve contar com R$ 10,9 bilhões de verba para despesas discricionárias. O valor é 44% superior ao disponibilizado em 2020, antes da pandemia. Segundo documentos obtidos pela Gazeta do Povo, dos R$ 10,9 bilhões disponibilizados até o momento, R$ 2,17 bilhões foram autorizados excepcionalmente nesta semana, após um pedido de última hora da pasta.

Entre os maiores gastos da pasta no ano que vem, estarão:

  • Projetos militares (HX, PROSUB, PNM, Guarani, Sisfron, Astros 2020, KC-X, KC-390, FX-2) – R$ 4,9 bilhões;
  • Custeio das despesas do ministério e outras despesas discricionárias – R$ 4,8 bilhões;
  • Operações Acolhida (MD – CC/PR) – R$ 316,2 milhões;
  • Programa de Defesa Cibernética (MD – GSI/PR) – R$ 284,4 milhões;
  • Acordo SAC/FAB - Aeroporto de Recife – R$ 75 milhões;
  • Saneamento de Vila Militar de Deodoro (EB) – R$ 35 milhões;
  • Operações de GLO (MD – CC/PR) – R$ 11,9 milhões;
  • Programa Mais Médicos - R$ 7,5 milhões.

2. Infraestrutura

Outra pasta que conseguiu abocanhar o pouco dinheiro disponível para as despesas discricionárias foi a Infraestrutura. A previsão é que a pasta tenha R$ 7,4 bilhões para gastar em 2021 com despesas discricionárias. O valor é 16% superior ao Orçamento de 2020, feito antes da pandemia.

Publicidade

Dos R$ 7,4 bilhões, R$ 1,05 bilhão foi autorizado na nesta semana, após um pedido extra feito pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.

3. Minas e Energia

O ministério que terá o maior aumento na verba será o Minas e Energia (MME). A pasta deve ter R$ 4,7 bilhões disponíveis para despesas discricionárias em 2021, 766% a mais que em 2020.

O aumento significativo aconteceu porque o MME teve que pedir R$ 4 bilhões para criar a nova estatal que resultará da privatização da Eletrobras. Essa estatal vai controlar a Eletronuclear e a participação brasileira na Itaipu Binacional , que não podem ser vendidas.

O restante do dinheiro será usado com projetos diversos e custeio da pasta.

Publicidade

4. Relações Exteriores

O Ministério de Relações Exteriores terá R$ 1,8 bilhão para despesas discricionárias em 2021, uma alta de 19% sobre a previsão para 2020.

Do valor disponibilizado, R$ 493,3 milhões serão para despesas passíveis de variação cambial, incluindo o funcionamento das embaixadas no exterior.

5. Presidência da República

A Presidência da República deve ter uma alta de 18% no Orçamento discricionário, atingindo R$ 816 milhões.

Publicidade
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Ministérios que devem perder verba em 2021

Por outro lado, vários ministérios verão a verba discricionária encolher no ano que vem na comparação com o Orçamento aprovado para este ano, antes da pandemia. A Gazeta do Povo optou por não incluir na comparação os gastos feitos por meio do Orçamento de Guerra, já que ele foi autorizado de maneira excepcional em 2020 a partir de março, em virtude do coronavírus.

Os ministérios que devem perder verba, mesmo tendo pedidos extras atendidos pelo governo, são:

  • Educação – verba discricionária de R$ 19,9 bilhões em 2021 (queda de 6% em relação a 2020);
  • Desenvolvimento Regional – R$ 6 bilhões (-7,6%);
  • Meio Ambiente – R$ 534 milhões (-4,9%);
  • Ciência e Tecnologia – R$ 3,4 bilhões (-10,2%);
  • Agricultura – R$ 1,3 bilhão (-36,8%);
  • Cidadania – R$ 2,4 bilhões (-27,4%);
  • CGU – R$ 102,6 milhões (-6,7%).

A Gazeta do Povo não teve acesso aos dados das demais pastas. As discussões internas sobre o Orçamento não são públicas.

Publicidade

Números ainda podem mudar

Os números, contudo, podem mudar até que o Orçamento seja, de fato, fechado. Primeiro, o Ministério da Economia calculou qual seria a verba disponível para cada ministério em 2021, levando em conta as projeções de receita e despesa para 2021. Depois, separou quanto seria gasto com as despesas obrigatórias de cada pasta e quanto iria para despesas discricionárias.

Uma vez enviado o “orçamento preliminar” aos ministérios, as pastas podem pedir mais dinheiro e avisar de algum erro. Pedidos por mais verba são analisados pela Junta de Execução Orçamentária (JEO), que pode aprovar ou reprovar o pedido, a depender da disponibilidade orçamentária e de remanejamento de verbas entre as pastas. A última reunião da JEO para tratar do Orçamento foi no dia 13.

Os pedidos de última hora continuam chegando. Tanto que o governo estuda adiar o Censo para garantir mais verba a algumas pastas. A equipe econômica vai enviar o Orçamento ao Congresso no dia 31. Os parlamentares têm até o fim do ano para analisar e aprovar a peça.